Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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QUAL ASSUNTO VOCÊ ESTÁ PROCURANDO?

                         O Bibliotecário Benjamin Franklim Ramiz Galvão (1846/1938) – Barão de Ramiz – dirigente da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro organizou no ano de 1881, um compêndio com a descrição de várias localidades brasileiras, recolhendo aspectos de sua história e topografia.
Naquele ano, a Câmara Municipal de Campina Grande recebera um ofício com um questionário incluso ao qual deveria responder prestando as informações necessárias.
Na época, a resposta foi fornecida pelo Sr. José André Pereira d’Albuquerque, digno presidente daquela Casa Legislativa, através de expediente datado de 20 de junho de 1881, transcrito a seguir ipsi litteris:

Paço da Câmara Municipal da cidade de Campina-Grande, 20 de junho de 1881.

Ilmo. Exmo. Snr.

Esta Câmara acusa o recebimento do ofício de V. Excia. de 2 de janeiro do corrente, ao qual acompanhou a um questionário, a fim de que esta Câmara fornecesse informações fidedignas e minuciosas sobre as circunstâncias históricas desse Município. Encluso este encontrará V. Excia. uma exposição resumida do que exige, seguindo-se o mais possível o referido questionário. Pede esta Câmara a V. Excia. dispensa de responder um pouco tarde ao seu citado ofício.
Deus guarde V. Excia.

Ilmo. Exmo. Snr. Dr. Benjamim Franklim Ramiz Galvão
Muito Digno Bibliotecário da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
(as) José André Pereira d’Albuquerque – Presidente
João Antonio Francisco Sá
Dionizio Affonso Denuil
João José da Silva Coutinho
Alexandrino Calvalcante e Albuquerque”

Segundo as informações prestadas, Campina tinha o aspecto montanhoso pelo lado Sudeste e Norte, com campos cultivados e algumas matas que poderiam fornecer madeira para construção, cujas principais espécies eram: baraúna, araucária, angico, jucá, pereiro, cumaru, jurema, sucupira, bálsamo, cedo, gonçalo-alves, pequiá, louro, craubeira, pau-d´arco, maçaranduba e jatobá. À Oeste era geralmente plano, onde se praticava a criação de Gado Vacum, Cavallar, Lanígero, Cabrum e suíno.
O município localizava-se 30 léguas à Oeste da Capital, fazendo divisa ao Norte, com Alagoa Nova (cinco léguas) e Areia (nove léguas); ao Nordeste com Alagoa Grande (nove léguas); Ao Leste com Ingá (oito léguas); ao Sudeste com Cabaceiras (doze léguas); a Oeste com a vila de São João (dezenove léguas), e a Noroeste, 23 léguas com a vila de Cuité ou Borborema. E assentava-se sobre o Plateau da Borborema, que atravessava de Sul a Norte com diversas ramificações, distando 150 léguas do oceano. Destacando-se no seu entorno as serras: Bodopitá, Cabaceiras e Ingá, Armada e Pandahira (sic).
Havia diversos rios no seu território, porém nenhum navegável. O Cinimatahu (sic) – que nasce nas fraldas de Jandaíra e desemboca no mar – na Província do Rio Grande, com um curso de 45 léguas, cortando Campina de poente a nascente, recebendo diversos tributários. O rio Mamamguape - que nasce na Lagoa Salgada, com 34 léguas de curso. Além de outros torrenciais de menos de 20 léguas de curso, que desembocam nos rios Parahyba, Mamanguape e Curimataú, tais como: Araçagy, Santa Clara, Santa Rosa, Bidocongá (acreditamos ser Bodocongó), Ingá nascentes neste Município. Nestes tais, era comum as espécies de peixes curimatá, traíra, jundiá, piaba e cará.
Em seu terreno existia grande número de lagoas de pequena capacidade, conservado águas na estação das chuvas e que ajudava a enfrentar os períodos de seca.
Em razão da salubridade, o município registrou casos de febres em diversas épocas e Colera-morbus nos anos de 1856 e 1862, com grande prejuízo à população.
A despeito dos minerais, foram citados: pedra calcária, barro para olaria e em algumas partes cristal e gesso.
As frutas silvestres mais cobiçadas eram: caju, goiaba, araçá, gubiraba, ariticum, jaboticaba, imbu, cumati, camucá, maracujá, ubaia, quichaba, murta, pitomba e juá, sendo algumas cultivadas na região.
E os animais existentes na fauna eram: caititu, veado, onça, coelho, preá, mocó, raposa, maritaca, fede, macaco, sagüi, cutia, guaxinim e diversas espécies de tatus. Nos campos havia emas, seriemas e codovir. Papagaios, maracanãs e periquitos de diferentes espécies. As aves canoras eram: sabiá, canário, curupião, canção, graúna, checheo, rouxinol e, evidentemente, o galo de campina. As abelhas forneciam excelente mel, mas a par destes insetos, a saúva prejudicava a lavoura.
O aspecto urbano da cidade era de terrenos mais ou menos ondulados, com ruas largas e tortuosas. Á exceção de três, as demais casas eram térreas e os principais edifícios eram: a Igreja Matriz, a Igreja de N. S. do Rosário, Forum (ou Casa da Câmara) e a Cadeia Pública.
A população superava as 20 mil almas, das quais quase 1.200 eram escravos. Na cidade habitavam mais de duas mil pessoas, sendo as demais distribuídas nas povoações de Fagundes, Queimada, Boa Vista, São Francisco, Passarinho, São Sebastião, Mulungú e Marinho, algumas com capelão.
Nas lavouras plantam-se os cereais: milho, cana de açúcar, feijão, arroz e café, e as frutas banana, laranja, lima, romã, pinha, melão, melancia e manga, além de legumes. E nos sítios, criavam-se pequenos animais como galinha, guiné, pato, peru e ganso.
A indústria fabril consistia na produção de açúcar, rapadura, fumo, farinha de mandioca e algodão em pluma. Nas olarias fabricavam-se: louças, telhas, tijolos e ladrilhos. E na Casa de Caridade fundada por Padre Ibiapina, na povoação de Pocinhos, onde havia mais de 80 educandos órfãos, tecia-se algodão.
O comércio local era forte, com diversas casas. Porém, importavam-se ferragens, vidro, louças e panos de fábricas estrangeiras, enquanto que o sabão vinha da Parahyba (atual João Pessoa).
Registravam-se duas escolas públicas primárias do sexo masculino e duas do sexo feminino, com cinco aulas particulares.
Quanto à divisão eclesiástica, pertencia a Paróquia de Campina à Diocese de Oinda/PE e seu vigário era o Padre Calixto Correia da Nóbrega. Erigida sob o orago de N. S. da Conceição, por Dom Francisco Xavier Aranha.
Entre as curiosidades, anotou o Presidente da Câmara a existência d’uma pedra alta de forma piramidal na serra da Caueira, pelo lado meridional de Campina Grande, conhecida vulgarmente pelo nome de Pedra da Letraonde se encontram diversas caracteres exculpidos ou gravados na mesma pedra”.
Estes são os fatos e os registros históricos da Campina de 1881.

Rau Ferreira (*)

(*) Cidadão esperancense, bacharel em Direito pela UFPB e autor dos livros SILVINO OLAVO (2010) e JOÃO BENEDITO: O CANTADOR DE ESPERANÇA (2011). Prefaciador do livro ELISIO SOBREIRA (2010), colabora com diversos sites de notícias e história. Pesquisador dedicado descobriu diversos papéis e documentos que remontam à formação do município de Esperança, desde a concessão das Sesmarias até a fundação da Fazenda Banabuyê Cariá, que foi a sua origem.


Referência:
- BIBLIOTECA NACIONAL, Anais da. Vol. 111, Ano 1991. ISSN 0100-1922. Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro/RJ: 1993.
- BIBLIOTECA NACIONAL, Anais da. Vol. XL, Ano 1918. Officinas Graphicas da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro/RJ: 1923.
- UCHÔA, Boulanger de Albuquerque. História Eclesiástica de Campina Grande. Departamento de Imprensa Nacional: 1964.

1 Comment

  1. Soahd Arruda on 10 de junho de 2012 às 13:01

    Impressionante, ver um relato assim..me chamou atenao foi que Campina Grande atingia sua atuaçao territorial que chegava a Montadas e Barra de Santa rosa talvés, pela drenagem ele relata o rio mamanguape e Curimatau....Também chama a tençao que a populaçao em torno de 20.000 hab apenas 10% ficava na sede do municipio...em 130 anos subimos para 390.000 hab...o que indica que seremos quantos com mais 100 anos a frente..

     


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