ALGUMAS DATAS PARA
A HISTÓRIA DE CAMPINA
Rau Ferreira*
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razemos ao conhecimento do nosso público leitor algumas datas para a história de Campina, que dizem respeito à formação do nosso Município. Datamos e fizemos alguns comentários acerca dos principais fatos e acontecimentos anuais.
Registramos alguns fatos curiosos, como a criação do cemitério “novo” nas Boninas, motivada pela Cólera Morbus. E a construção do cemitério “velho”. A primeira missão religiosa, realizada por Frei Venâncio. A Casa de Caridade fundada por Padre Ibiapina. Os movimentos sediciosos “Ronco da Abelha” e “Quebra-quilos”. A Chegada da estrada de ferro Great Western e outros igualmente relevantes.
Espero que esta leitura seja prazerosa tanto quanto foi escrevê-la.
CRONOLOGIA CAMPINENSE:
1762 – Aos 17 de abril era concedida a Sesmaria de Bodocongó, pelo pelo Governador Francisco Xavier de Miranda Henriques.
1697 – Surge como um aldeamento de Índios, denominado de “Paupina” em conseqüência da penetração de criadores vindos do interior, desde a Bahia. A sua posição geográfica estabelecia comunicação com a Parahyba [hoje, João Pessoa] e os sertões. A catequese dos silvícolas ficou por conta de um padre do hábito de Santo Antônio.
1701 – Originou-se a Carta Régia de 13 de janeiro de 1701, que mandava construir uma capela e pagar ao capelão vinte e cinco mil réis de côngrua, na “Campina-Grande”.
1766 – Através da Carta Régia de julho de 1766, Campina foi transformada na “Vila Nova da Rainha”, o que só veio a ocorrer definitivamente em 1790, coma sua instalação. Apesar da denominação, os sitiantes teimam em chamá-la de Campina Grande, nome pelo qual sempre foi conhecida.
1769 - A Freguesia de Campina Grande era desmembrada em da dos Cariris de Fora, e erguida sob a égide de Nossa Senhora da Conceição.
1774 - Pelo rol da desobriga deste ano, a freguesia registrava: 3 capelas filiais, 47 fazendas, 421 fogos e 1.490 pessoas de desobriga, ou seja, aqueles que cumpriram o preceito da confissão e comunhão ao tempo da Quaresma.
1790 – Era levantado o Pelourinho de Campina Grande. Nessa época, possuía a vila Câmara e Cartorio registrando-se pouco mais de 100 casas. A instalação se deu no dia 20 de abril daquele ano no centro da povoação, pelo Desembargador Antonio Felippe Soares de Andrada Bredores.
1815/17 – Construção da Capela de Nossa Senhora da Conceição.
1824 – Passa por Campina a caravana de revolucionários, presos após o levante, com destino ao Recife. Entre eles, o Frei Caneca que seria fuzilado na Capital pernambucana.
1828 – É iniciado a construção do Açude Velho, obra de grande vulto para a época e que seria concluída dois anos após, motivada pela seca que assolou o município em 1824.
1845 – Omunicípio registra uma grande seca. OAçude Velho – “o único refrigério da creação e do commercio” (Jóffily) quase secou, diminuindo assim o número de habitantes.
1852 – A população local se opõe a Lei Censitária, movimento conhecido como “Ronco da Abelha”.
1854 – Surge oficialmente, para nós, o termo “Campina Grande”, com a edição da Lei Provincial nº. 27, de 06 de julho daquele ano, que anexava este território à Comarca de Pilar.
1856 – Provisão Diocesana de Dom João da Purificação Perdigão, nomeando o vigário Francisco Alves Pequeno para a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, em Campina Grande. Nesse mesmo ano houve um grande surto de Cólera Morbus no território campinense que vitimou 1.547 pessoas, inclusive o Tenente-coronel José Luiz Pereira da Costa, pessoa de destaque na comunidade. Assim, por ordem do Padre Pequeno, construiu-se o cemitério situado nas Boninas, em terreno da freguesia localizado a trezentas braças ao Noroeste da Matriz e que ficou conhecido como o nome de “cemitério velho”. Era cercado de madeira e ficava nas proximidades das ruas Índios Cariris e Teodósio de Oliveira Ledo. Este foi demolido em 1931, na administração paroquial do Padre José de Medeiros Delgado.
1864 – Aos quatro de janeiro, por solicitação do Vigário Calixto, eram aprovadas o compromisso da Irmandade de N. S. das Dores e do Santíssimo Sacramento (Lei Provincial n. 521 e 522). Campina era elevada à categoria de cidade em 11 de outubro pela Lei Provincial n. 137.
1865 – Era criada a Comarca de Campina Grande, dando impulsão ao povoamento (Lei Provincial n. 183).
1866 – Chegada em Campina do capucinho Frei Venâncio Maria de Ferrara, a convite do Monsenhor Sales. Cerca de seis mil pessoas vieram receber o missionário que viajara da Província de Olinda a cavalo. Esta foi a primeira missão em terras campinenses, tendo início no dia 28 de dezembro com resultado surpreendente: 212 casamentos e 1 milhão de comunhões. Neste ano era fundada em Pocinhos, que à época pertencia à Campina, uma “Casa de Caridade” pelo Padre José Antonio de Maria Ibiapina. O Decreto n. 3.663 declara de 1ª. Entrância a Comarca de Campina Grande.
1870 – Christiano Lauritzen aparece mercadejando jóias e quinquilharias, tendo Campina como ponto obrigatório de pouso. Nesta cidade cortejou e casou-se com uma das filhas do Coronel Alexandrino Cavalcante.
1873 – O professor Graciliano F. Lordão, em cooperação com o Vigário Calixto, funda uma escola na cidade. Nessa mesma época, eram criadas a Delegacia de Campina e Subdelegacias em Fagundes, Pocinhos, Boa-vista e S. Francisco. Neste ano o Padre Ibiapina sofreu sérios aborrecimentos enquanto realizava sua missão em Campina.
1874/75 – Irrompe o movimento denominado de “Quebra-quilos” na Serra do Bodopitá, povoação de Fagundes, a quatro léguas de Campina.
1876 – O município contava ainda com 1.206 escravos ou escravas, entre os quais “Isaura n° 319, com vinte anos de idade solteira, valor 800 mil réis; e Rosa, n° 1.27S, idade 58 anos, solteira, valor 200 mil réis; ambas de propriedade de Irineu Ceceliano Pereira Joffily” (JÓFFILY: 1977).
1877 – No dia 1º de janeiro era concluída a reforma da Matriz, implementada pelo Vigário Sales. Aos 25 de março era lançada a pedra fundamental do Paço Municipal, construído ao lado da Matriz. Esta obra contou com a iniciativa do Juiz e Chefe do Partido Conservador Antonio da Trindade Antunes de Meira Henriques, que mandou edificar ainda uma cadeia nas proximidades da Igreja do Rosário. O antigo prédio do governo municipal foi demolido em 1942. Neste mesmo ano houve uma grande seca. O açude “novo” secou e foram abertas algumas cacimbas. O Presidente da Província, atendendo solicitação de Irineu Jóffily, ordena a construção de dois açudes e um prédio para a cadeia.
1883 - A cidade registra cerca de 4.000 habitantes, “talveza mais populosa e prospera do interior do Estado” (Jóffily: 1892). As antigas fazendas de gado eram transformadas para o plantio do chamado “ouro branco” (algodão), registrando o município 18 grandes propriedades e surgindo a necessidade de uma via férrea para escoamento da produção.
1885 – Provisão Episcopal do Ordinário da Diocese do Recife, datada de 24 de fevereiro, nomeando sucessor ao Padre Calixto o vigário Luiz Francisco de Sales Pessoa. O Padre Sales com a ajuda do povo deu início no dia 21 de setembro a construção de uma passagem no açude dito “Boqueirão”, que ligava Campina à povoação de Queimadas. Concluiu os trabalhos no dia 25 do mesmo mês e ano, dando-lhe o nome de São Pedro d’Orleans. Em 15 de setembro daquele ano, lançou o vigário de Campina a pedra fundamental da Capela S. José, no povoado de Mulungú. A imagem foi doação da Sra. Joaquina de Arruda Câmara, viúva do Tenente-coronel Eufrásio de Arruda Câmara.
1888 - A Cidade contava 4000 habitates, sendo considerada a mais populosa e próspera do interior da Província, com pouco mais de 40 casas de comércio, sendo 14 de tecidos, uma farmácia e uma botica. Nos dias de feira, acomodava o dobro de pessoas. Neste ano houve outra grande seca, apelidada de “seca dos três oito”. Em setembro, Irineu Jóffily e Francisco Retumba fundam a “Gazeta do Sertão”, primeiro periódico a circular na cidade, com uma tiragem de 800 exemplares.
1889 - Campina ainda não tinha iluminação pública, mas o seu carnaval era bem animado: "Centenas de mascarados percorreram as ruas, aparecendo dois clubes com seus estandartes e terminando por um furioso intrudo, onde os combatentes jogavam goma de mandioca, farinha de trigo e até pixe.” (Gazeta do Sertão). Irineu Jóffily escreve ao Instituto Pernambucano de Arqueologia acerca de um achado pré-histórico, “um curioso espécimem de ossos fósseis, encontrado na catinga da Navalha desta Comarca”.
1890 – Era fundada em Campina Grande as primeiras bandas de musicas que se tem notícia: A XV de Novembro e a Euterpe Campinense. Ambas representavam os dois partidos políticos locais, Partido Conservador que era liderado por Alexandrino Cavalcanti, sogro de Christiano Lauritzen, e Partido Liberal, que estava a cargo do maestro Balbino Benjamim de Andrade. Os liberais tinham em suas fileiras nomes de peso como Irineu Jóffily e o Padre Francisco Alves Pequeno. Morre o co-fundador do jornal “Gazeta do Sertão”, engenheiro Francisco Soares da Silva Retumba. Nos últimos meses desse ano choveu copiosamente, apagando os trê últimos anos de seca. Discutia-se, nesse ano, o prolongamento da ferrovia Conde D’eu, viaja Christiano Lauritzem à Capital Federal com o objetivo de interceder junto a parahybanos ilustres, conseguindo o estudo do ramal de Campina.
1891 – Bênção da “nova” Matriz, aos 08 de dezembro. Christiano Lauritzen e o Padre Sales resolvem aplicar o soldo em dinheiro da Intendência Municipal, incluindo os vencimentos dos demais membros numa obra de interesse local: um relógio para a Matriz. No dia 06 de maio aconteceu o “empastelamento” da Gazeta do Sertão, jornal editado em Campina por Jóffily e Retumba. Segundo Capistrano de Abreu, “foram violentadas as suas oficinas pela força pública”.
1892 – A “população quadruplicou apesar da escassez de água potável, de que sempre se ressentio” (Jóffily: 1892).
1894 – Aos 21 de outubro, sendo Prefeito de Campina o Coronel João Lourenço Porto, tinha inicio a construção do Cemitério “novo” no final da rua Campo Santo, que seria denominado Cemitério N. S. do Carmo.
1896 – Era inaugurado no dia 13 de janeiro deste ano o Telégrafo de Campina. E aos 16 de agosto, solenemente o relógio da Matriz de Campina Grande.
1899 – 1º de janeiro, reforma da antiga igreja do Rosário pelo Vigário Sales, que contou com o auxílio do Frei Venâncio.
1902 – Morre em Campina Grande o bacharel, jornalista e historiador Irineu Ceciliano Pereira Jóffily, aos 59 anos de idade, sendo sepultado no Cemitério N. S. do Carmo.
1904 – Era nomeado Prefeito de Campina o dinamarquês Christiano Lauritzen, que permanece no cargo até sua morte em 1923. Nessa época eram sub-prefeito Manuel Cavalcante Belo e Delegado o major Lino Gomes da Silva.
1907 – Chegada da estrada de ferro Great Western. O trem chegou a Campina em 02 de outubro daquele ano. Fora recepcionado pelo então prefeito Christiano Lauritzen. O médico Assis Chateaubriand Bandeira de Melo fez a oratória, inaugurando uma onda de progresso que seguiria anos a fio.
1908 – Instalava-se em Campina, no dia 7 de janeiro, o Conselho Municipal (Câmara) sendo eleitos: Monsenhor Sales (Presidente), Coronel Salviano Rodrigues de Souza (vicedito).
1911 – Nasce o “Correio de Campina”, jornal editado por Christiano Lauritzen para combater as idéias de Jóffily e seu Partido.
1917 – Aos 17 de novembro era inaugurado, solenemente, o santuário de N. S. da Guia no bairro de São José. Acontecia neste mesmo ano a segunda visita pastoral de Dom Adauto Aurélio de Miranda Henriques, Bispo da Parahyba. Nessa mesma época, aconteceram 3.175 Crismas, 7.300 Comunhões e 40 Casamentos.
1923 – Hortênsio Ribeiro “ressuscita” a Gazeta do Sertão.
1924 – Era fundado o Grupo Escolar “Solon de Lucena” de arquitetura neoclássica, cujo edifício ocupa hoje a Reitoria da Universidade Estadual e o Museu de Artes de Campina.
1925 – No dia 28 de julho a população católica campinense prestava uma homenagem de gratidão ao Monsenhor Sales, pelos seus quase 50 anos de paroquiato. Quase oito mil pessoas se dirigiram a Casa Paroquial para saudá-lo.
1927 – Falecia no dia 15 de agosto desse ano, pelas três horas o Padre Luiz Francisco de Sales Pessoa, com a idade de 81 anos, que com o seu trabalhou muito contribuiu para o engrandecimento de toda a paróquia e da cidade de Campina Grande.
Rau Ferreira*
(*) Cidadão esperancense, bacharel em Direito pela UFPB e autor dos livros SILVINO OLAVO (2010) e JOÃO BENEDITO: O CANTADOR DE ESPERANÇA (2011). Prefaciador do livro ELISIO SOBREIRA (2010), colabora com diversos sites de notícias e história. Pesquisador dedicado descobriu diversos papéis e documentos que remontam à formação do município de Esperança, desde a concessão das Sesmarias até a fundação da Fazenda Banabuyê Cariá, que foi a sua origem.
Referência:
- ALVES, Ednaldo. Guarabira – um olhar sobre o passado. Guarabira/PB: 2007.
- BUENO, Francisco da Silveira. Vocabulário tupi-guarani, português. 3ª Ed. Brasilivros Editora e Distribuidora: 1984.
- FERREIRA, Rau. Relatos de Campina. Edições Banabuyé. Espeança/PB: 2012.
- FILHO, Lino Gomes da Silva. Síntese histórica de Campina Grande, 1670-1963. Grafset: 2005.
- GEIGER, Pedro Pinchas. Evolução da Rede Urbana Brasileira. Coleção O Brasil Urbano. Publicação do Centro Brasileiro Educacional. Vol. I. s.n. 1963.
- JÓFFILY, Geraldo Irinêo. O Quebra-Quilo. Vol. 1. Ed. Thesaurus: 1977.
- JOFFILY, Irineu. Notas sobre a Paraíba. Edição fac-similar de 1892. Ed. Thesaurus: 1977.
- JOFFILY, José. Entre a monarquia e a república. Livraria Kosmos Editora: 1982.
- RIBEIRO, Domingos de Azevedo. Música: orquestras e bandas da Paraíba. Coleção História da Paraíba em Fascículos. A União Editora: 1997.
- SERTÃO, Gazeta do. Edição de 08 de março. Campina Grande/PB: 1889.
- TAVARES, João de Lyra. Apontamentos para a História Territorial da Paraíba, Vol. I, Imp. Of., Pb., 1910.
- UCHÔA, Boulanger de Albuquerque. História Eclesiástica de Campina Grande. Departamento de Imprensa Nacional: 1964.
Fantástico.