Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
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QUAL ASSUNTO VOCÊ ESTÁ PROCURANDO?

Por Mário Carneiro da Costa 

Levado pela fama de excelente educandário e ademais pela falta de  unidades de ensino equivalente no interior do Estado ou mesmo na região,  no Pio XI estudavam alunos dos mais diversificados recantos.

Aqueles jovens nem sempre eram  educados, pacatos ou  disciplinados. Por vezes, em  face a decantada austeridade do diretor, o então Padre Emídio Viana, o colégio fora  visto  por alguns  pais, como uma espécie de escola de correção, onde fosse possível ajustar seus  jovens  filhos,  que praticavam  atos desabonadores, como fossem embriaguês, furtos, agressões,  violências e outros. Tais condutas ocorriam ali  e o  diretor, com sua fisionomia austera e disciplinadora, antepunha-se aos procedimentos condenáveis daquelas  espécies de aluno  
Padre Emídio

O Padre era corpulento, de estatura mediana,  avermelhado e sisudo,  atributos  bastante para  intimidar  o estudante a quem tratava por “CABOCO” (corruptela de “caboclo”).  Pouco ou quase nunca ficava muito tempo no seu gabinete. Costumava caminhar lentamente no alpendre anexo  às salas de aula e, de braço estendido sobre o peito e a mão  dentro da batina, mantinha a outra mão no bolso. Dali ele não somente via os alunos como escutava os professores.

A presença dele nos corredores impunha silêncio e respeito, mesmo em se tratando de alunos bagunceiros, a  exemplo  daqueles de uma  família  com sobrenome de uma espécie de animal e da qual em uma só classe estudavam três irmãos.

Na  hora da chamada,  na aula de dona Jacinta, uma  fina e competente professora não muito jovem, não estando o padre por perto,  aqueles alunos  respondiam  autodenominando-se  Camelinho, Camelo  e  Camelão.  Um pernambucano, baixinho e gordo, cujo nome o tempo apagou da memória deste autor, ao ouvir a chamada, confirmava a presença respondendo: “em classe, o  inconfundível  Barrica”.  A gozação era  geral e isto  levava o diretor a se posicionar de imediato diante da porta da classe, do que resultava um silencio sepulcral.

Na turma da qual fazia parte este autor, havia alunos das famílias  Carneiro, Coelho, Camelo, Leão,  Raposo  e outros. Barrica, ao confirmar a   presença, acrescentava  à sua resposta:  “o encarregado  da ração  para o   zoológico da  classe”, sob as gargalhadas de todos. Ele e os colegas  da   família Camelo  foram  tidos  como  indisciplinados,  nocivos,  e transferidos  compulsoriamente do Colégio.

Um aluno sertanejo, forte, rosado, tido como brabo e habituado a pegar boi, certo dia escreveu bem visível na túnica da farda e à altura do peito as iniciais “ T. T. T. T.”.  O diretor, que dado ao comportamento do aluno não o   via com bons olhos, indagou que novidade era aquela. A resposta veio de imediato: “ ‘Topo tudo todo tempo’, Padre”.  Ante a resposta, o diretor corou mais que o normal,  arregaçou  as mangas da batina e fez o desafio: “ então  'caboco', vamos disputar no boxe, sem luvas, quem é o diretor deste Colégio”.  “’Vá para a diretoria para  uma outra conversa”. A valentia acabou-se  e  o valentão mudou de Colégio.
                 
Era comum no Colégio alunos de famílias orientais. Um deles, tido como brabo, entendeu numa prova  final oral  ser examinado antes dos demais colegas.  Por este fato, se atritou com a banca examinadora  presidida por uma  bonita e jovem professora que,  chorando, saiu da classe e foi até o diretor a quem narrou o ocorrido. Este se deslocou imediatamente  e, embora advertido de que o aluno era violento  e quase sempre estava armado chegou  até  ele e sem maiores delongas,  deixou o apressado aluno para ser o último dos alunos a serem examinados.

No Colégio, de quando em quando, havia o surgimento de alunos que  atemorizavam professores, apesar da rígida disciplina mantida pelo diretor. Certo dia, na sala de aula, um aluno integrante de uma família tida como valente sacou de uma arma  e ameaçou atirar no professor. Coincidentemente o Padre vinha passando na sua caminhada costumeira ao lado da classe.

Ao perceber o fato,  entra na sala com o passo na dimensão maior que a batina permitia e se dirige para o aluno que, apontando a arma para ele,  disse: “Não venha,  padre, que eu atiro!”. Este respondeu,  já  com a mão sustentando por cima do tambor do revólver 38,  solavancando-o,   tomando-o  do  aluno   e  dizendo  concomitantemente: “você atira com esta merda em ninguém”.  A confusão foi  geral e o valente transferido do Colégio, sem que fosse denunciado pelo crime..

Ali estudara nos anos de 1940  um moço de família tida como violenta. Seu maior prazer era contar os feitos de seus parentes no mundo do crime. O diretor via aquilo com certo espanto, mas não se intimidava para  punir o jovem aluno, que não era dos mais bem comportados. No auge da  adolescência, ele dizia que enquanto os colegas  X , Y,  Z  iriam  ser  isto, aquilo ou aquilo outro, ele iria ser PISTOLEIRO. De fato, enveredou por este caminho e nele praticou inúmeros crimes na Paraíba e noutros estados,  pelos quais jamais foi condenado, embora  levado a júri diversas vezes.

Era um tipo bonito, alto, forte e amigo  deste autor,  pois que com ele estudara na mesma  classe no Pio XI   e, quando  se   encontravam, surgia     uma boa prosa, por mais  das  vezes incômoda, oportunidade em  que o    pistoleiro  oferecia   seus TRABALHOS.  Em um daqueles contactos,  ele  relembrara os tempos do PIO XI e dissera que também oferecera   recentemente, seus SERVIÇOS ao velho diretor.  Aquele ex -colega,   pistoleiro    por escolha, foi assassinado no  Rio  Grande  do  Norte,  quando numa rede, no alpendre de uma fazenda,  planejava mais um crime de morte.

Outros tantos curiosos fatos,  foram vividos pelo autor durante os  longos 15 anos em que no PIO XI fora aluno/professor, tendo o padre Emídio    como diretor de comprovada coragem. Todavia, malgrado toda aquela  intrepidez , foi  traiçoeiramente  apanhado pela morte, que ceifou sua vida  com pouco mais de cinqüenta anos.

5 comentários

  1. Anônimo on 17 de outubro de 2012 às 10:36

    Era por isso que o Colégio Alfrêdo Dantas, onde estudei, era tão calmo! Bravios, brutos e rudes estudavam no Pio XI...kkk

     
  2. Leda Maria on 17 de outubro de 2012 às 16:20

    Nossa que relato! Impressionante.

     
  3. Edmilson Rodrigues do Ó on 17 de outubro de 2012 às 22:44

    No final de 1952 eu estudei no Colégio Diocesano PIO XI e no início de 1953 prestei o velho e tradicional Exame de Admissão ao Ginásio. Todavia, com a inauguração do Colégio Estadual de Campina Grande, o famoso CECG, para lá me transferí no início do ano letivo de 1953. Conhecí de perto a bravura do Padre Emídio Viana Correia assim como a rigidez da Secretária Teresa.

     
  4. Unknown on 7 de maio de 2019 às 20:24

    Tive a honra de viver esse período do Pe. Emídio Viana e Teresa!! Saudades... “Velhos Tempos, Belos Dias!!! Guardarei eternamente nas minhas lembranças!! Foram anos dourados!!

     
  5. miriam on 28 de março de 2020 às 09:30

    A descrição do padre Emílio feita pelo autor é perfeita;estudei no colégio nos anos de 1955 e 1956 e tenho vivo na memória tudo que ele falou.

     


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