Virgínio Rodrigues Campello era filho de José Rodrigues Campello e Maria do Carmo Bezerra, nasceu em 1770, na freguesia de Várzea (Recife/PE). Literato e poeta distinto, Cavaleiro da Ordem de Cristo e Deputado às Cortes de Lisboa pela Província da Parahyba do Norte, eleito em 1821, era vigário de Campina Grande quando estourou a revolução de 1817.
Provido por Frei Antonio de São José Bastos, o Vigário Campello “dispôs-se aos pastoreio sacerdotal de uma população que dealbava uma civilização que tudo carecia” (UCHÔA: 1964).
Exercendo o seu ofício numa região inculta e tendo apreço por esse povo que enfrentava com altivez as dificuldades, vigiava o rebanho que lhe fora confiado e aspirava à prosperidade desta terra.
Foi com esta convicção que aderiu à causa revolucionária e chegou a lutar valorosamente, acreditando que a independência da pátria traria grande impulso ao progresso do Brasil. Com isto, a partir de 1817, propagou a propaganda revolucionária entre os seus paroquianos, com boa aceitação por ser muito querido e respeitado.
Denunciado aos Poderes Constituídos da Corte de Lisboa, foi preso em 16 de maio de 1817 pela contra-revolução e remetido à Bahia. Pronunciado em 06 de março de 1818, permaneceu encarcerado em até 1821. Teve os seus bens confiscados pela Corte Portuguesa, cujo processo teve início em 27 de maio de 1817, e concluído em 15 de junho do mesmo ano.
Na ata de seu julgamento consta a seguinte observação:
“63. Padre Virgínio Rodrigues Campello, vigário de Campina Grande ; - não se aprova ser cabeça; e pelos
factos argüidos. – dez anos para Angola” (R.IHGEB: 1866).
Segundo consta, o vigário:
“Arrastou toda a sua paróquia às armas, pela força de sua eloqüência, mas foi um dos raros que, não resistindo às torturas, na Bahia, escreveu a El-rei pedindo clemência” (CARVALHO: 1980).
É o próprio Vigário Campello quem faz a crônica da revolução, registrada em carta da Fragata Francesa “La Masselle”, em 07 de agosto de 1822:
“No dia 1º de Junho, a maior parte da tropa se reunio nos seus quartéis, de donde mandarão alguns Militares, hum Eclesiático, e hum homem do povo, como Procuradores, a representar a Junta Provisória, que desejavam a jurasse naquella Província obediência a S. A. R. o Príncipe Regente, como Chefe do Poder Executivo, Independente de Portugal. Que em tão apurada circunstâncias, a Junta se portara com tanta energia, que obteve em resultado um novo juramento da Câmara à Constituição, às Cortes, a ElRei Constitucional o Sr. D. João VI, e ao Príncipe Regente Constitucional do Brasil; concluindo-se tudo com o maior socego, harmonia e geral satisfação, que nada mais desejam do que estarem intimamente unidos com seus irmãos de Portugal” (Diário do Governo: 09/08/1822).
Em 1821 recebeu o perdão régio e foi liberado.
Eleito deputado provincial em 1821, não chegou a tomar posse. E no ano seguinte, elegia-se Deputado Constituinte no Rio de Janeiro.
Sendo Vigário Colado da Freguesia de Campina Grande, necessitou licença para ausentar-se, tendo o Ordinário Diocesano o substituído
pelo seu Coadjutor, Padre José Gonçalves Ouriques. Este, assimilando as idéias de Campello, foi igualmente preso em 1821 e enviado à Bahia para julgamento.
Em janeiro de 1822, o Padre Rodrigues Campello deu início à construção da Capela do Bom Jesus dos Martírios, na povoação campinense de Boa Vista, sob os auspícios do Alferes Antonio Gomes de Farias filho do fundador da localidade. E no mesmo ano, fundou a Escola Primária da Vila de Campina Grande.
Possuidor de grandes virtudes cívicas e morais, distinto poeta de uma modéstia excessiva, escritor de peças teatrais e dramas pastoris, sua obra ainda permanece inédita, contudo registra-se de sua autoria as décimas glosadoras ao mote:
“Os caros pernambucanos
De Olinda os Filhos Minosos”
E as oitavas improvisadas:
“No Livro dos Infelizes
O meu nome escrito achei
Como nasci sem ventura,
Sem ventura acabarei”.
O seu biógrafo – Dr. Pereira da Costa – nos dá conta de um fato acontecido na prisão da Bahia, quando Campello foi solicitado a lecionar francês a um padre muito obeso e de muita acanhada inteligência, improvisando os versos:
“De que serve o francês, Padre, me diga?
Me diga pr’a que serve o tal francês?
Não lhe basta saber o português
E o latim que você tem na barriga?
Para que tanto esforço, tal fadiga?
Se você já passou dos seus quarenta?
Mais gordo do que está, certo arrebenta?
Pois bem difícil é nesse bandulho
Caber, além de línguas, sarrabulho
Indo mesmo encharcadas n’água benta”.
Faleceu em 1836, no Engenho “Brum”, em Pernambuco, no mesmo quarto em que nasceu, e foi sepultado na Capela de Nossa Senhora das Dores, em Várzea, sua terra natal.
Finalmente, destacamos que na literatura o nome do vigário é grafado de várias maneiras: Camillo, Camello e Campello, mas ao que parece este último deve ser o mais correto, posto que se encontre escrito nos livros de sua época.
Referência:
- BAHIENSE, Norbertino. Domingos Martins e a revolução pernambucana de 1817. Prefácio de Barbosa Lima Sobrinho. Editora Maciel: 1974.
- BARBOSA, Maria do Socorro Ferraz. Fontes repatriadas: anotações de história colonial. Ed. Universitária. UFPE. Recife/PE: 2006.
- CARVALHO, Gilberto Vilar de. A liderança do clero nas revoluções republicanas (1817 a 1824). Vol. IX. Editora Vozes: 1980.
- COSTA, Francisco Augusto Pereira da. Dicionário biográfico de pernambucanos ilustres. Prefácio José Antonio G. de Mello. Fundação de Cultura Cidade do Recife. . Recife/PB: 1981.
- COSTA, Francisco Augusto Pereira da. Anais Pernambucanos. Coleção Pernambucana. Vol. X. Governo de Pernambuco. Patrimônio Histórico e Artístico. Pernambuco/PE: 1983.
- DIÁRIO DO GOVERNO, Jornal. N 1º. 186. Edição de sexta-feira, 09 de agosto. Imprensa Nacional. Lisboa/Portugal: 1822.
- JOFFILY, Irineu. Notas sobre a Paraíba. Edição fac-similar de 1892. Ed. Thesaurus: 1977.
- PIO, Fernando. Apontamentos biográficos do clero de Pernambuco. Vol. I. 1535 – 1935. Arquivo Público. Recife/PE: 1994.
- R.IAGP. Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco. Revista. Edições 52/55. Recife/PE: 1899.
- R.IHGEB. Instituto Histórico Geográfico e Ethnographico do Brasil. Revista Trimestral. Tomo XXIX. Parte 1ª. B. L. Garnier – Livreiro Editor. Rio de Janeiro/RJ: 1866.
- SILVA, José Amaro Santos da. Música e ópera no Santa Izabel: subsídios para a história e o ensino da música no Recife. Ed. Universitária. UFPE. Recife/PE: 2006.
- UCHÔA, Boulanger de Albuquerque. História Eclesiástica de Campina Grande. Departamento de Imprensa Nacional: 1964.
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