Vergniaud Borborema Wanderley, nascido em 1905 em Campina Grande, foi prefeito da cidade por duas gestões, a primeira de 1936 a 1937 e a segunda de 1940 a 1945. Era filho de Vigolvino Pereira Monteiro Wanderley e Maria Augusta Borborema Wanderley.
Fez os primeiros estudos no Liceu Paraibano e formou-se em Direito, atuando como Promotor Público (Blumenau-1930); Juiz de Direito de Santa Catarina; Chefe da Polícia na Paraíba em 1935 e Ministro do Tribunal de Contas em 1952. Na política ainda seria Senador da República, no período de 1946 a 1951.
Foi responsável por um grande plano de urbanização em Campina Grande, transformando principalmente o centro da cidade, modernizando-o. Foi alvo de muitas críticas, todavia, seu arrojo nos anos seguintes foi finalmente compreendido, já que a cidade estava em crescimento constante e sem dúvida, tal medida foram necessárias. Veja o que o historiador Josemir Camilo relatou sobre esse período:
“Em 1940, o prefeito Vergniaud Wanderley iniciou a reorganização urbanística, levando em consideração o “código de obras” elaborado anteriormente, com o objetivo de calçar ruas e abrir avenidas, entre estas a conhecida avenida chamada Floriano Peixoto. Mesmo preocupando-se em dotar a cidade de um aspecto cada vez mais moderno, ele vai criar novos espaços e destruir velhos espaços sociais. Vergniaud Wanderley inspirava-se no processo de urbanização do Rio e São Paulo tentava colocar em prática seu modelo de “urbes” moderna...”.
Vergniaud, um dos maiores prefeitos da cidade de Campina Grande, viria a falecer em 20 de novembro de 1986 aos 81 anos. Abaixo, uma das raridades de nosso acervo histórico, uma entrevista com o prefeito publicada no Diário da Borborema de 1979, a qual reproduzimos na íntegra:
ENTREVISTA COM VERGNIAUD WANDERLEY
(Diário da Borborema – 08 de Julho de 1979)
“Eu Queria Campina Sendo a Capital”
(Vergniaud Wanderley)
(Vergniaud Wanderley)
Realizador da grande reforma urbanística de Campina Grande na década de 40 (século XX), o ministro Vergniaud Wanderley, que estava visitando a cidade, falou para o Diário da Borborema sobre as perspectivas de desenvolvimento da cidade, das reformas que empreendeu abrindo novas ruas, o que deu uma nova imagem a cidade.
Homem de forte personalidade, Vergniaud mora no Rio de Janeiro há 24 anos, desde que se fixou primeiro como Senador da República, depois como Ministro do Tribunal de Contas da União. Voltou a Campina Grande em 1979, para se reencontrar com seus familiares e como amigos aqui residentes. Ao ser entrevistado pelo Diário da Borborema, o ex-prefeito de Campina respondeu as seguintes perguntas:
Homem de forte personalidade, Vergniaud mora no Rio de Janeiro há 24 anos, desde que se fixou primeiro como Senador da República, depois como Ministro do Tribunal de Contas da União. Voltou a Campina Grande em 1979, para se reencontrar com seus familiares e como amigos aqui residentes. Ao ser entrevistado pelo Diário da Borborema, o ex-prefeito de Campina respondeu as seguintes perguntas:
DB- O Sr. Como sentiu esta cidade, após 24 anos ausente de Campina Grande? O Sr. que fez a reforma urbanística dela, como está vendo-a agora?
VW- Ao fazer a reforma que você acaba de citar, e que é do conhecimento de todos que aquela época habitavam a nossa urbes, eu vislumbrei a hipótese de Campina tornar-se até mesmo a Capital do nosso Estado, por isso mesmo, iniciei uma reforma urbanística que apesar das dificuldades da época, foi dada a um bom termo posso assim dizer, porque as bases, as preliminares, as coordenadas do grande desenvolvimento foram traçadas naquela época por mim, e hoje, ao voltar aqui após anos de ausência de que eu muito me penitencio, eu encontrei Campina em pleno desenvolvimento, suas belas avenidas, as ruas plenas de comércio intenso, fazendo jus ao seu nome, e desde a minha época era conhecida com à Capital do Nordeste, de forma que, eu só tenho de me orgulhar daqueles passos, daquelas medidas que tomei, fazendo com que aquela um pouco desenvolvida da época, se tornasse hoje essa verdadeira Capital do Centro do Nordeste Brasileiro.
DB- O Sr. falou que talvez voltasse a política. Como o Sr. se situa nessa fase de transição de um sistema excepcional para a retomada do processo democrático?
VW- Se Aristóteles disse que o homem era um animal político não é menos certo que ele ao dizer isso, queria dizer, que ao homem não era permitido fugir do seu dilema de comentar a vida na sociedade. Por isso eu sou político nesse sentido, um observador, um analista, um homem que vê a organização de seu País e do seu Estado com o olho no crítico, mas político partidário jamais serei, não tenho mais idade, hoje só cuido da minha aposentadoria para ter uma vida feliz.
DB – Na hipótese do Sr. ser solicitado a servir mais uma vez a sua terra. O Sr. não atenderia a um chamamento dessa natureza?
VW – Jamais. Posso servir a minha terra trabalhando por ela fora daqui e torcendo pelo seu desenvolvimento e que os seus filhos, os seus moços de hoje procurem torná-la grande, próspera e feliz.
DB – Nós sabemos que quando o Sr. fez a reforma urbanística naquela época encontrou muito empecilhos, com as desapropriações. O Sr. se fosse hoje Prefeito de Campina Grande, faria aquela mesma coisa?
VW – Acho que não. Porque naquele tempo eu tinha o sonho de mocidade, queria me fazer na política, queria me credenciar perante os meus amigos e fiz com grandes dificuldades e grande sacrifício. É verdade que depois de alguns meses decorridos de minha gestão, o povo compreendeu, me bateu palmas e me facilitou a grande tarefa de melhorar urbanisticamente a cidade de Campina Grande. Hoje acredito que não tivesse mais força para isso, nem força, nem esse ideal, que todo moço aspira de colocar-se na vanguarda dos grandes acontecimentos. Hoje estou aposentado e prefiro viver em paz e no anonimato.
DB – Ministro, um tema hoje comentado em todo o Brasil é a Anistia. Nessa condição de observador, como o Sr. vê essa Anistia?
VW – A Anistia eu acho que ela foi bem colocada, de uma maneira ampla e geral, porque o Governo ao torná-la restrita em parte deixou a válvula de encampação para os pedidos de indultos de forma que a anistia deve ser ampla e irrestrita, mas no fundo ela é ampla e irrestrita, porque há hipótese, há oportunidades de se recorrer ao indulto.
DB – Um outro problema que está hoje em dia preocupando todas as camadas sociais, é esse problema do petróleo, como o Sr. encara o problema econômico do país face a este problema do petróleo?
VW – Já se tornou até praxe dizer-se que a situação econômica do País é grave. Só pode ser grave em virtude da política errada levada pelos governos, principalmente a política do petróleo. O petróleo foi entregue as pessoas que não estavam absolutamente credenciadas para dirigir. Todos esses presidentes da Petrobrás com raríssimas exceções não fizeram mais do que criar postos de gasolina e comercializar o petróleo. A prospecção que era o principal, nunca foi levada a sério. O Brasil também não tinha condições técnicas e financeiras para levar adiante um grande investimento como fez a Inglaterra no Mar do Norte. De forma que nós hoje estamos mais atrasados do que estávamos há 20 anos atrás, em matéria de petróleo, porque o nosso consumo aumentou muito e a nossa condição decaiu. Se não houver que ponha um pouco de parte esse exacerbado nacionalismo de uns, não acredito que o Brasil resolva o problema do petróleo.
DB – Ministro, agora a tendência do Governo é do povo brasileiro partir para o consumo do álcool como combustível aplicado nos transportes, mas a imprensa falou que as multinacionais estão lançando os olhos nos nossos canaviais. Como o Sr. vê essa notícia?
VW – Se não houver uma reação contrária a essa ação das multinacionais, nós todos vamos nos entregando aos poucos e o Brasil vai pertencer aos estrangeiros, porque todo o dia que passa as multinacionais dão um passo a frente no sentido de açambarcar o nosso mercado e a nosso indústria.
DB – Ministro, o Sr. como todo nordestino é muito sentimental. O que mais sensibilizou nesse seu reencontro com Campina Grande?
VW – O que mais me sensibilizou foi o carinho com que eu fui recebido pelos meus amigos e até por pessoas que não conhecia. Talvez satisfeitos com a administração que eu fizera de forma que, este fato de eu voltar a minha terra depois de tantos anos e se recebido da maneira como fui por parte da imprensa principalmente, eu só posso me considerar um homem feliz, porque eu vi que esse meu sonho de mocidade hoje é uma grande realidade. A cidade hoje é uma verdadeira Capital. Em qualquer pólo de desenvolvimento, o industrial, o ensino hoje, no meu tempo não havia nada disso, hoje Campina tem duas Universidades afluem para aqui milhares de estudantes, de outras cidades, de outros Estados. Campina tem um grande comércio, tem uma grande indústria, uma grande imprensa, tudo isso no meu tempo não havia era apenas o bruxuleai.
DB – Ministro, nos perguntamos ainda, que mensagem o Sr. transmitiria aos administradores de Campina Grande com a sua vivência?
VW – Eu diria aos governantes, aos atuais e aos futuros, porque para o passado não se pode falar, dizia que olhassem com carinho, olhasse com entusiasmo e com modéstia e humildade para as coisas da cidade, e se baseassem sempre na opinião dos técnicos que hoje se usa muito por aí afora, o que não havia no meu tempo, eu tinha de ser o técnico das idéias gerais.
DB – Agora, sua mensagem para os seus conterrâneos!
VW – Aos meus conterrâneos eu desejo que continuem sempre a amar Campina, amar com fé e convicção dos sacerdotes de Tiro e Cartago, que até a última hora, marchavam para o sacrifício cantando hinos e versos.
Fontes Utilizadas:
Wikipédia
Site Paraíba Online
Site do Senado Federal
Diário da Borborema
Prefeito polêmico, porém visionário. Pensou a frente de seu tempo, claro que teve algum exagero.