por Rau Ferreira
O coração enamorado procura maneiras para se expressar. Quer ele fazer conhecer, sem ser conhecido. O amor é mesmo um enigma, enquanto não correspondido deixa no ser apaixonado um misto de ânsia e medo.
Na década de ’20 os apaixonados se expressavam através de
inscrições e cartas em revistas. A coluna do JORNAL DAS MOÇAS era a mais
requisitada.
Revista aceita pela mocidade e com boa aceitação entre as
senhorias, trazia a moda e as notícias que as jovens tanto desejavam e era o
ambiente propício para troca de carinhos.
Os moços publicavam notas postais declarando o seu amor,
muitas vezes sob pseudônimos que só os amantes da época puderam conhecer.
Trazemos para o deleite do nosso publico leitor algumas
dessas mensagens de amor, resguardando obviamente o sigilo de seus autores:
“Amor, ancia ephemera do prazer... eu te
bendigo! Amizade, sentimento sublime e immarcessível, eu te rendo meu preito
affectivo. Campina Grande. H. A.”
“Saudade: única flor que brota no
jardim do meu coração! A ausência é a maior inimiga de dois corações que se
amam, principalmente do meu, que sangra dia e noite. Campina Grande. Amor
innocente”
“A alguém de Campina Grande
É’s formosa! A sua meiga physionomia
captivo-me e fez nascer em meu coração uma ardente paixão por ti. – Esperança –
Parahyba. G. D.”.
“Ao A. F. B.
Campina Grande
A’s vezes, lendo os seus escriptos fico
suspenso diante de uma inspiração tão rara. – Esperança – Parahyba – G. A”.
Por razões que não podemos aqui declinar, estes dois últimos
bilhetes apesar da distinção do pseudônimo, foram assinados pela mesma pessoa.
“À senhorita Iracema C.
Minha amiguinha, és vaidosa, a vaidade é
uma filha do orgulho, é o orgulho o primogênito da ignorância – Campina Grande –
Parahyba do Norte. Leicam”.
“À Adélia
Tua leviandade vae ao extremo. Eis o
teu defeito. Os levianos não têm amor, e o amor é essência d’alma. Campina
Grande – Parahyba. Leicam”.
“À irmã do meu amigo
Sim, tenho admirado a tua fidelidade e
talvez ainda te daria merecida recompensa. Mais vale uma esperança tarde, do
que um desengano cedo!... ELICMA. Campina Grande – Parahyba”.
“À M. C. Moura
Amor é perfume; é harmonia; é delicias;
é tudo que há de sublime e maravilhoso; e, em synthese, ‘amor vincit omnia’. Eu
te amo! ELCIAN. Campina Grande – Parahyba”.
“À I. C.
Senhorita, peço perdão se fui inconveniente
ou pouco delicado para comsingo na noite de 5 e 6, no Cine Appolo. Os burguezes
sempre são descortezes. (Campina Grande – Parahyba). LEICAM”.
“À A. C. S.
O amor que te consagro me faz esquecer
todas as ingratidões que commettestes. E. W. Campina Grande – Parahyba do Norte”.
“À J. B.
Deixa de ser tolo e ridículo. ALGUMAS
STAS. CAMPINENSES. (Campina Grande – Parahyba)”.
“À Amélia
Sempre te admirei. Trago gravado no meu
coração o teu nome e estampada a tua santa imagem. ECLIMA. Campina Grande –
Parahbya”.
“À QUEM ME ENTENDER
- O amor é como a Digitallis, esta é uma
linda flor mas o seu perfume envenena; e aquelle quando verdadeiro é um
sentimento puro, quando hypocrita, envenena a alma. Campina Grande – M. F.”
“Sentado na pedra fria,
Lá no Riacho do Matto,
Eu vi n’água que corria,
O teu vulto, o teu retrato!”
Violeiro – Campina Grande”.
“Aquillo que me fascina,
Que me deixa perturbado;
É um olhar que me ensina
Ser poeta e namorado!
Lygio – Campina Grande”
Estes últimos postais em versos, mostram-se encantadores e
de um SOL inebriante.
O Jornal das Moças funcionava na rua do Senado, 28, Rio de
Janeiro. A assinatura anual custava 30$000, e semestral 16$000, e nos Estados o
exemplar avulso era negociado a R$ 600, pagava-se adiantado.
Referência:
- JORNAL
DAS MOÇAS, Revista. Ano VII, Edião N° 287. Rio de Janeiro/RJ: 1920.
- JORNAL
DAS MOÇAS, Revista. Ano VIII, Edições N° 314, 328. Rio de Janeiro/RJ: 1921.
- JORNAL
DAS MOÇAS, Revista. Ano IX, Edições N° 372, 373, 377, 388. Rio de Janeiro/RJ:
1922.
- JORNAL
DAS MOÇAS, Revista. Ano IX, Edições N° 395, 405, 432. Rio de Janeiro/RJ: 1923.
- JORNAL
DAS MOÇAS, Revista. Edição de 05 de dezembro. Rio de Janeiro/RJ: 1926.
- JORNAL
DAS MOÇAS, Revista. Edição de 24 de fevereiro. Rio de Janeiro/RJ: 1927
Que engraçado!!! kkk Enviar uma carta à revista no Rio e esperar que chegue a Campina para que a vizinha leia!!!kkk
Não seria mais rápido botar um bilhetinho por debaixo da porta como se fazia nos 50? kkk
Na capa: Deanna Durbin (Soprano e atriz dos musicais dos 40)nessa foto se parece mais a June Alysson a que fazia o papel de escritora no filme "Quatro Destinos" muito famosa até quase os 60.
Adorava folhear revistas antigas só prá ver os artistas do cinema. Lembro-me haver visto essa e outras revistas semilares que guardavam minha mãe e minhas tias, como se fossem seus tesouros...kkk
Massa!