Por Rau Ferreira
Açude Velho |
A famosa “seca dos três oitos” foi a segunda grande estiagem que assolou a nossa região; dizimou praticamente a criação e a lavoura, e provocou grande êxodo rural. As primeiras providências tomadas pelo governo provincial mostraram-se insuficientes e a farinha não era bastante para aplacar a fome. A imprensa denunciava a sua iminência e cobrava soluções, nestes termos:
“À hora presente a água falta quasi de todo nos sertões da província, a vegetação desappareceu e o solo abrasado parece ter sido presa de fogo maldicto, que, uma a uma, lhe vai extinguindo as forças produtivas” (Gazeta do Sertão: 21/09/1888).
Como conseqüências havia o aumento da prostituição e da criminalidade; e a elevação dos preços dos grãos, da rapadura e das carnes.
Centenas de pessoas abandonavam sítios e fazendas, e acorriam às vilas e cidades em busca de sustento para as suas famílias; e Campina estava no destino desta rota, pois para essa gente parecia-lhes o “eldorado”. Assim manifestava Jóffily:
“Esta cidade, por sua situação geographica, por sua importância commercial, é uma das que mais expostas se acham; uma das que primeiro serão invadidas pelos retirantes” (Gazeta do Sertão: 28/09/1888).
Todavia, o município também carecia de infra-estrutura para receber os retirantes. O manancial público que resistira bravamente aos últimos 40 anos – o Açude Velho – praticamente secara. E as cacimbas e cisternas particulares serviam tão somente aos seus proprietários.
A indústria pastoril sofria rudemente com aquela situação. Campina, importante centro agropecuário, cuja feira chegava a negociar 800 bois por semana, sem mencionar aqueles que pernoitavam para seguir viagem para a feira de Itabaiana, via-se às portas de enfrentar um forte declínio.
A escassez do alimento para os animais era premente, obrigando os vaqueiros a percorrerem uma longa jornada de três a quatro léguas. A água que existia era disputada entre seres humanos e bichos em meio aos reservatórios campinenses, que além de resumido apresentava alto grau de salubridade.
Nos sertões a situação era ainda pior, pois se contavam às centenas os esqueletos bovinos. Para Jóffily, a solução viria com o prolongamento da estrada de ferro Conde D’eu, que faria circular a produção da Capital para o interior, amenizando assim a necessidade de gêneros primários:
“A secca nos bate a porta.Urge acudir de prompto. E o primeiro passo a dar é prolongar a estrada de ferro ‘Conde D’eu’ para o interior, e é já, sem a mínima demora.” (Gazeta do Sertão: 12/10/1888).
Os preços faziam-se sentir na cesta-básica do sertanejo: a cuia de milho passou de 400 para 4.000 réis; o feijão que era negociado a mil chegou a 2.800 réis; e a farinha de 320 passou para 1.600 réis. O carro-chefe da nossa agricultura – o algodão – entre setembro e outubro de 1888, teve seu valor alterado de 3$399 para 3$800 e 3$900, registrando altas cifras para a sua época para o fardo de 15 Kg.
Em termos populacionais, Campina aumentou sensivelmente o seu contingente. Tal acréscimo só havia sido verificado no ano de 1877, que foi considerada a maior seca daqueles tempos, com duração de três anos.
Foi a partir da estiagem de 1888 que se começou a falar na transposição do Rio São Francisco.
Nos últimos meses de 1890 choveu copiosamente em Campina, restabelecendo o curso normal das coisas.
Referências:
- GAZETA DO SERTÃO, Jornal. Ano I, N°S 04, 5, 7, 8 e 11. Campina Grande/PB: 1888.
- JOFFILY, Irineu. Notas sobre a Paraíba. Edição fac-similar de 1892. Ed. Thesaurus: 1977.
- TAVARES, João de Lyra. Apontamentos para a História Territorial da Paraíba, Vol. I, Imp. Of., Pb., 1910.
- As Secas do Nordeste: uma abordagem histórica de causas e efeitos. Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste. Departamento de Recursos Naturais. SUDENE: 1981
Grande Pesquisa. Estou esperando um livro seu Rau Ferreira, com os textos publicados no Retalhos.
Alem dessa, o nosso querido nordeste já sofreu sêcas devastadoras. A mais terrível de todas foi a grande sêca de 1877. A CASA DE CARIDADE Padre Ibiapina, por ele construida no povoado de Pocinhos no ano de 1860, então pertencente ao município de Campina Grande, abrigou em suas dependências grandes levas de flagelados sedentos, famintos doentes e esfarrapados em consequencia daquela terrivel seca. Apesar da assistência prestada, todos os dias morriam pobres flagelados. Depois, dentre várias outras menos inclementes, veio a tenebrosa sêca de 1915 que também deixou marcas de sua passagem desumana. É impossível narrar em poucas linhas as sequelas que grandes sêcas deixaram neste sagrado torrão nordestino.
mais de 100 anos depois, param-se as obras da transposição por problemas de licitação, mas dispensa-se licitação para os estádios da copa pois são obras de emergência... gente e animais morrendo por falta de água não é emergência não, senhores?
Falam na transposição das aguas do Rio São Francisco, desde os tempos do Império. Trata-se de uma obra que nunca será realizada. Nas sucessivas sêcas que assolam o nordeste, a classe política, sobretudo do nordeste, incluindo todos (governadores, deputados federais e estaduais, prefeitos, vereadores)se confraternizam, pois milhões de reais são destinados ao combate as sêcas, a fundo perdido, para custear frete de milhares dos tradicionalíssimos "carros-pipa" para abastecer precàriamente a região com agua trazida de distâncias consideráveis e muitas vezes imprópria para o consumo humano. Nesse contexto dramático se insere o desvio de verbas, super faturamento, compra de votos, propaganda eleitoral, e muito mais.
A bacia hidrográfica do nordeste é muito vasta e entrecortada por muitos rios. Se ao invés de carros pipa e da propaganda ilusória dos politicos fossem construidos grandes e médios reservatórios, o problema estaria em parte solucionado.