por Rau Ferreira
Campina
por muitos anos foi a “Meca” dos cantadores. Repentistas afamados acorriam a
sua feira semanal para improvisarem versos e ganharem alguns trocados. A
despeito do que disse Genarino - que quando se passava o chapéu “não ficava um prá contar a estória” – a
cidade sempre acolheu bem o poeta popular, transformando-se na verdadeira “casa
do cantador”. A feira muito bem freqüentada era o chamariz e até pouco tempo
atrás Dedé da Mulatinha ainda vendia em sua banca. Acerca da importância da
cidade rainha, Luiz Gomes e Estrelinha glosaram o mote “Campina é princesa no
dorso da Borborema” suscitado por um comerciante local.
“Tem estação de transporte,
Pra sua prosperidade!
E' a mais linda cidade
Da Paraíba do Norte!
No algodão ela é forte!
Formai na primeira linha!
Da estação à pracinha,
Nela só se vê beleza...
Campina Grande é princesa
No dorso da Borborema!”
Naquelas
plagas também cantou João Bendito muitas vezes acompanhado de Hugolino,
carregando no seu matulão as experiências de sua terra Esperança:
“Há entre o homem e o tempo
Contradições bem fatais!
O homem não faz, mas diz!
O tempo não diz, mas faz!
O homem não trás nem leva!
Mas o tempo leva e trás”
Certa
feita os irmãos Batista – do qual sobressai Lourival – cantando em um desafio
nesta cidade vivenciaram um momento inusitado em suas carreiras. Um sargento do
exército deixou cair na bandeja posta num tamborete na presença dos ouvintes
algumas cédulas de cruzeiro de valor considerável. Lourival sem perda de um
segundo, salpicou a sextilha:
“As notas desse sargento,
Eu gostei de recebê-las
Deus queira que essas três
fitas,
Transformem-se em três
estrelas,
Dos braços, subam aos ombros,
E eu seja vivo, para vê-las”.
Depois
de um elogio de tão grande vulto e com os olhares dos espectadores, o militar
não olvidou em dar um sorriso amarelo e dar por perdido aquela quantia. Com
essa, só pude completar:
Essas são coisas que acontece
Na vida do repentista!
Anoitece e amanhece
Nasce um novo artista
Referência:
- FERREIRA, Rau. João Benedito: o cantador de Esperança. Edições
BAnabuyé. Esperança/PB: 2011.
- FILHO, F.
Coutinho. Repentistas e glosadores:
(Poesia popular do nordeste brasileiro). Ed. A. Sartorio & Bertoli:
1937.
- O DIA, Jornal. Violeiros na
Guanabara, Edgar de Alencar.
Edição de 20 e 21 de dezembro. Rio de Janeiro/RJ: 1959.
- O GLOBO, Jornal. Cantadores
mostram sertão dos homens maus. Edição de 03 de outubro. Caderno 11. Rio de
Janeiro/RJ: 1969.
- PERNAMBUCO, Diário de. A
poesia rústica, quase selvagem do NE, levada a S. Paulo pelos violeiros. Edição
de 07 de maio. Recife/PE: 1954
Até recentemente Dedé da Mulatinha vendia sementes de hortaliças num pequeno e folclórico box localizado bem próximo a feira de peixe logo na entrada oeste da feira central.