Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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QUAL ASSUNTO VOCÊ ESTÁ PROCURANDO?

(*) José Romero Araújo Cardoso

Raimundo Yasbek Asfora e Rosil Cavalcanti uniram-se para escrever a letra de uma das mais belas canções em língua portuguesa, a qual homenageia a segunda cidade do Estado da Paraíba.

 Ásfora e Rosil

Nenhum dos autores de “Tropeiros da Borborema” era Campinense de nascimento. Asfora, nascido em 1930 e falecido tragicamente em 1987, era cearense de Fortaleza, descendente do grupo árabe que aportou na terra de Iracema fugindo da convocação forçada pelos ingleses na primeira guerra mundial, enquanto Rosil, cujas músicas antológicas foram gravadas por Jackson do Pandeiro, que formou a dupla “Café com Leite” com o grande gênio da música regional nordestina, gravou e imortalizou-as, como “Cabo Tenório”, “Lei da Compensação”, “Quadro Negro” e o clássico “Sebastiana”, entre inúmeras outras, era pernambucano, nascido em Macaparana, no dia 20 de dezembro de 1915. Rosil faleceu em Campina Grande, na fria noite de 10 de julho de 1968.

A importância dos tropeiros para a história social e econômica da antiga Vila Nova da rainha foi tão impressionante que não há como dissociar a dinâmica cidade com a presença dos antigos agentes econômicos que vinham do brejo, do agreste, do curimataú, do sertão, etc., bem como de Estados vizinhos, como o Rio Grande do Norte e o Ceará, carregados com seus fardos de pele e de algodão, em direção a Goiana e Olinda, no Estado de Pernambuco, importantes empórios comerciais no século XIX.

 Ilustração dos Tropeiros
(Imagem encontrada em http://conexaoeditorial.com.br/pesquisa03.html)

Campina Grande começou a evoluir quando foi observado que boa parte da produção transportada pelos velhos tropeiros poderia ficar em solo paraibano. O investimento em máquina de beneficiar algodão foi de importância basilar para o desenvolvimento local, pois isto permitiu que a cidade se transformasse em grande exportadora do “ouro branco”, o que significou um dos momentos cruciais do “boom” econômico da “Rainha da Borborema”.

A chegada da máquina número 3, da Great Western, no dia dois de outubro de 1907, representou também as condições para que o progresso fosse implementado a partir de então, pois era a garantia da facilidade para o escoamento da produção algodoeira.

Para vencer os obstáculos representados pelo Planalto da Borborema, conduzindo tropas de burros, precisava ser muito corajoso. Conforme a professora Inês Caminha Lopes Rodrigues, em “Revolta de Princesa: Contribuição ao Estudo do Mandonismo Local”, a barreira orográfica era um grande empecilho para o escoamento da produção sertaneja, o que justifica em parte as decisões dos produtores da região polarizada por Princesa de buscar na época as praças pernambucanas a fim de implementar os negócios. 

Os tropeiros da Borborema sintetizaram a coragem inaudita do povo interiorano em vencer barreira, razão pela qual a imortalidade suscitada na eterna composição de Asfora e Cavalcanti tem a característica de ser oportuna e pioneira na homenagem aos grandes seres humanos que hoje estão representados em monumento em Campina Grande.

A belíssima canção reconhece em seus refrães finais que Campina Grande somente tem a sua grandeza devido à presença dos antigos tropeiros que buscavam pousadas quando demandavam a Pernambuco em tempos idos, mas que as brumas do tempo não conseguem apagar, graças, em muito, à genialidade de dois fenômenos extraordinários que foram beneficiados pela voz e pelo talento de outro gênio chamado Luiz Gonzaga do Nascimento, responsável pela impecável voz para a eternidade da música, pois quando o eterno “Rei do Baião” interpretou “Tropeiros da Borborema” lançou imediatamente as bases da imortalidade desta magistral poesia nordestina surgida nas paragens d a antiga Vila Nova da Rainha.

O acúmulo de capitais a partir das bases lançadas com os tropeiros da Borborema foi sendo responsável pela contínua evolução de Campina Grande, a ponto hoje de ser conhecida como “O Vale do Silício Brasileiro”, devido à presença de várias empresas que desenvolvem tecnologia de ponta, havendo ênfase ainda aos estudos e experiências que resultaram nas impressionantes fibras do algodão colorido, que são orgulhos da cidade de Campina Grande e motivos que a tornaram conhecida internacionalmente como pólo dinâmico e criativo de um nordeste que precisa e pode crescer em ritmo cada vez mais intenso.

(*) José Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Contatos: romero.cardoso@gmail.com. (MSN) romeroc6@hotmail.com.

15 comentários

  1. Emmanuel Sousa on 5 de junho de 2010 às 16:34

    "Tropeiros da Borborema", uma das minhas músicas preferidas, é com certeza o Hino extra-Oficial de Campina Grande.
    Salve Raymundo Asfora e Rosil Cavalcanti, mais campinenses que muitos aqui nascidos!
    É por isso que dizem que Campina Grande é, e sempre foi, uma boa madrasta.

     
  2. Zé Roberto on 5 de junho de 2010 às 18:32

    Quem ama Campina Grande, arrepia-se na alma quando escuta Tropeiros da Borborema

     
  3. Jobedis Magno de Brito Neves on 6 de junho de 2010 às 07:40

    Esta bela musica é com se nós estivessemos em uma Máquina do Tempo empreendendo uma viagem ao passado à cidade de Campina Grande. Esta belíssima canção reconhece que Campina Grande somente tem a sua grandeza devido à presença dos antigos tropeiros que buscavam pousadas perto dos Açudes Novo e Velho, quando demandavam a outros estados e foi beneficiada pela voz e pelo talento do gênio chamado Luiz Gonzaga.

     
  4. Rau Ferreira on 6 de junho de 2010 às 09:59

    Caríssimos;

    Me emociono sempre quando vejo postagens sobre os tropeiros; meu avô foi um deles e contava-nos as suas aventuras quando partia de brejo de Areia para Campina, e de lá para o sertão. Ele vendeu muito couro a seu Antonio Villarim e também possuiu curtume em Esperança.

    Um forte abraço e obrigado por manter viva esta nossa história. Parabéns ao colaborador José Romero.

    Rau Ferreira

     
  5. Braulio Tavares on 8 de junho de 2010 às 12:23

    Uma curiosidade: conversando uma vez com Raymundo Asfora, no final dos anos 1970, ele me disse que a primeira versão de sua letra dizia: "Estala, relho malvado / embora a burrama gema..." Rosil Cavalcanti achou que o termo "burrama", como coletivo de burros, era erudito demais e provocaria estranheza. De comum acordo, os dois trocaram o verso para "recordar hoje é meu tema" (ou "meu lema", como algums pessoas cantam).

     
  6. Walmir Chaves on 5 de janeiro de 2013 às 09:43

    Acho que alguns versos são "duros" demais: "o duro chicote cortando os lombos; Os cascos feridos nas pedras a tompos", dramatizam demais uma cruel realidade e, hoje, certamente, seria criticado pelas Associações protetoras dos animais! (Acho que Paulo Gomes concordará comigo. hehe)

    Esclarecendo quem é só uma observação e não uma crítica ao belo poema do ilustre amigo Raimundo Asfora...

    Conheci pessoalmente e admirava muito aos dois autores...

    Lembro-me com gratidão que Raimundo sempre tinha uma palavra ou um gesto elogioso para mim, sempre que me via participando de alguma manifestação artística ou cultural da nossa cidade. E isso me estimulava e me satisfazia imensamente...
    No RHCG, faz sómente uns meses,com espanto e tristeza, soube do seu trágico fim. Imagino que estará declamando poemas e defendendo aos humildes em algum lugar do universo...

     
  7. Edmilson Rodrigues do Ó on 5 de janeiro de 2013 às 23:21

    Conforme já falei anteriormente, eu sou natural do velho carirí paraibano onde nasci no povoado de Pocinhos, distrito de Campina Grande, o qual se emancipou no dia 10 de dezembro de 1953. Lá pela década de 1940 do século passado, Pocinhos era uma das maiores regiões produtora de algodão pois, lá pelos idos de 1930 já funcionava na região uma usina a vapor para beneficiamento da fibra do algodão, de propriedade do pioneiro Pedro Apolinário. Nos anos 40, foi instalada a Usina ITA de propriedade da firma Cezar Ribeiro & Cia, lògicamente funcionando com padrões mais modernos e com boa produtividade.Naquela época, meus pais e demais agricultores das imediações produziram, por muitos anos, algodão em alta escala e toda produção era vendida para a Usina ITA que por sua vez beneficiava e transportava para Campina Grande. Quando me radiquei aqui em meados do século passado, fui trabalhar numa Emprêsa algodoeira. Conhecí muitos tropeiros e com muitos deles conviví. Além disso, conhecí pessoalmente o trio que imortalizou toda essa história: Raymundo Asfora, Rosil Cavalcante e Luiz Gonzaga. Imaginem, para quem conheceu tudo isso e algo mais dentro deste mesmo contexto, o quanto é profundamente emocionante ouvir o "Hino Nacional"
    TROPEIROS DA BORBOREMA. É algo de uma autenticidade inigualável que nos emociona e nos faz recuar no tempo do qual muito pouco nos resta como lembrança. Muito grato e parabéns pela saudosa postagem.

     
  8. Soahd on 6 de janeiro de 2013 às 06:23

    Senti falta do ano da criação da musica e quem cantou antes de Luiz Gonzaga...alguém tem essa informação?

     
  9. rômulo azevêdo on 7 de janeiro de 2013 às 10:10

    A música foi composta e gravada por Luiz Gonzaga, em 1964(ano do centenário de Campina).
    Antes de Gonzaga ninguém gravou a música.
    A gravação mais recente é de Rangel Júnior no primeiro CD dele.

     
  10. Anônimo on 8 de janeiro de 2013 às 17:49

    Gravada por Luis Gonzaga. Letra de Asfora e música de Rosil Cavalcante.

     
  11. rômulo azevêdo on 8 de janeiro de 2013 às 20:58

    Óbvio que a letra é de Asfora e a música de Rosil.
    No me post quis dizer que a música foi composta e gravada em 1964.
    Aliás, foi feita especialmente para o centenário da cidade.

     
  12. RHCG on 10 de janeiro de 2013 às 14:29

    A gravação que o professor Rômulo relata, pode ser encontrada aqui:

    http://cgretalhos.blogspot.com.br/2009/08/lp-do-centenario-de-campina-grande-em.html

     
  13. RHCG on 10 de janeiro de 2013 às 14:29

    A gravação que o professor Rômulo relata, pode ser encontrada aqui:

    http://cgretalhos.blogspot.com.br/2009/08/lp-do-centenario-de-campina-grande-em.html

     
  14. RHCG on 10 de janeiro de 2013 às 14:29

    A gravação que o professor Rômulo relata, pode ser encontrada aqui:

    http://cgretalhos.blogspot.com.br/2009/08/lp-do-centenario-de-campina-grande-em.html

     
  15. Carlos Silva on 19 de agosto de 2015 às 17:20

    Em 23 de setembro de 2014 foi feita uma gravação de "Tropeiros da Borborema", instrumental, arranjada pelo maestro Jean Márcio, para a FUPOP Orquestra (pertencente a FURNE). Esta gravação está em DVD e CD no livro FURNE das Artes, projeto realizado pela FURNE com o apoio da Prefeitura Municipal de Campina Grande e de empresários locais, comemorativo aos 150 anos de Campina Grande. Me parece ser a única gravação instrumental dessa música.

     


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