Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
retalhoscg@hotmail.com

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Corria o ano de 1874. O sistema métrico francês – adotado pelo Brasil em 1862 – há dois anos entrara em vigor, obrigando por decreto imperial às novas medidas lineares. Mas o povo continuava com o tradicional modelo de pesos e medidas: palmos, braças, polegadas, vara, cuia e arrobas. Some-se a isto o suposto fato de se aumentar o imposto do chão cobrado nas feiras de Campina e Fagundes. Houve uma insatisfação popular generalizada.

No sábado, 21 de novembro daquele ano, instalam-se a “mazorca”. Há quem afirme que o movimento teve início na Serra do Bodopitá, povoação de Fagundes que dista quatro léguas de Campina Grande. Mas o certo é que a deflagração espalhou-se por todo o interior da Província, cidades e vilas à exceção do Sertão foi palco destes acontecimentos.

Eram grupos de cem a duzentos homens, cujo “cabeça” se desconhecia. Camponeses rústicos, armados de clavinote, foice e facão tomaram de assalto as localidades. A estes se uniram alguns escravos liderados pelo negro Manuel do Carmo, que aproveitaram o levante para exigirem a sua liberdade.

Aconteceram ataques em Campina Grande, Ingá, Cabaceiras, Pilar, Areia, Alagoa Nova, Bananeiras e Guarabira. Os revoltosos soltaram presos, queimaram arquivos municipais, rasgaram processos e destruíram os pesos do comércio.

Os escravos marcharam em direção ao Sítio Timbaúba e pretendiam haver o “Livro de fundo da emancipação”, onde eram pintados os escravos novos. Mas foram ludibriados e tiveram que se refugiarem nas matas.

O Governo Provincial mostrara-se impotente, solicitando as forças imperiais para sufocar o movimento. Atuou em Areia o Capitão Longuinho, enquanto o Capitão Piragibe resistiu em Campina.

As tropas do exército monárquico compareceram as vilas e em 20 de dezembro daquele ano não encontraram mais resistência, tendo início o processo de apuração.

Várias causas foram apontadas para o levante: aumento do imposto do chão da feira (um tostão por carga), adoção do sistema métrico decimal, alistamento militar e fanatismo religioso, sendo este último o mais provável segundo Horácio de Almeida.

Defende o historiador que nenhum aumento de imposto foi decretado, a lei somente entraria em vigor no ano seguinte. O sistema métrico só trazia benefícios à população e o alistamento militar, posto em execução e que atingia as camadas mais baixas da sociedade, fora corrigido na sua essência. Contudo, ignora o escritor uma profunda crise na agricultura com conseqüências para quase toda a população.

O Chefe da Polícia – Manoel Caldas Barreto – em seu relatório ao Presidente da Província apontava o Vigário de Campina Calisto da Nóbrega como um dos mentores intelectuais destes eventos e estranhava o seu grau de amizade com Irineu Jóffily, à época Juiz Municipal, que se desligou do seus cargos para defender o religioso e demais envolvidos no incidente. Houve ainda a participação do Padre Ibiapina que auxiliando na Igreja de N. S. da Conceição pregou abertamente contra o governo.

Testemunha ocular destes acontecimentos, JOFFILY relata-os no seu compêndio sobre a coreografia da Parahyba e afirma enfaticamente que “a causa foi a decretação de novos impostos pela Assembléia Provincial da Paraíba em sua sessão deste ano”, que despertara um ódio pelos governantes entre a população pobre e ignorante (Notas sobre a Parahyba: 1892).

Silvino Elvídio Carneiro da Cunha, - futuro Barão do Abihay – era o governante da província parahybana. E em seu relatório à Assembléia Legislativa assim se pronunciou sobre os fatos:
 
“Esta província, que sempre se distinguiu em todas as épocas pelo seu conhecido espírito d’ordem e respeito às autoridades, em Novembro do ano próximo passado foi vítima, em diversos municípios, das ciladas dos agitadores, e fanatismo religioso, sob o pretexto dos impostos provinciais e leis de alistamento do exército e armada e do sistema métrico decimal.” (MS 09.10.1875).

Ao final, o Padre Calixto foi absolvido. O Padre Ibiapina, coadjutor do vigário campinense, sequer chega a ser denunciado. Seu nome já era mito tendo o governo recuado prudentemente. E em que pese às teorias de Horácio de Almeida acerca da participação de Joffily, nada ficou constatado.

Por Rau Ferreira (http://historiaesperancense.blogspot.com/)



Fonte:

- A UNIÃO, Jornal. Edição de 01 de maio, texto do Coronel Batista. João Pessoa/PB: 2009.

- ALMEIDA, Elpídio de. História de Campina Grande. Edic̜ões da Livraria Pedrosa, p. 147.

- ALMEIDA, Horácio de. D. Vital e a questão religiosa no Brasil. R.IHGB. Vol. 323. Abril/Junho de 1979. Departamento de Imprensa Nacional. Brasília: 1980.

- CUNHA, Silvino Carneiro da. Relatorio apresentado à Assembléia Legislativa da Província da Parahyba do Norte em 7 de agosto. Typ. Jornal da Parahyba. Parahyba do Norte: 1874.

- DONATO, Hernâni. Dicionário das Batalhas Brasileiras: 1996.

- FILHO, Lino Gomes da Silva. Síntese histórica de Campina Grande, 1670-1963. Ed. Grafset: 2005, p. 69.

- JOFFILY, Geraldo Irinêo. O Quebra( - )Quilo. Volume 1 de Série Cadernos de história do Brasil. Ed.

- JÓFFILY, Geraldo Irinêo. O Quebra-Quilo. Vol. 1. Ed. Thesaurus: 1977, p. 58 e 147.

- JOFFILY, Irineu. Notas sobre a Paraíba. Apresentação de Geraldo Irinêo Joffily. Ed. Thesaurus: 1977

- MAIOR, Armando Souto. Quebra-quilos: lutas sociais no outono do Império. Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. V. 10 da Série Estudos e Pesquisas. V. 366 Brasiliana.Cia Editora Nacional: 1978.

- MOURA, Clóvis. Dicionário da Escravidão negra no Brasil Edusp. São Paulo: 2004, p. 133 e 331.

Thesaurus: 1977.

2 comentários

  1. Anônimo on 13 de fevereiro de 2012 às 14:40

    Agradecemos ao Rau Ferreira. Seus textos históricos são de grande valia para todos os historiadores desta amada cidade que é Campina Grande. Estamos acompanhando todos.

     
  2. mario vinicius on 13 de fevereiro de 2012 às 23:47

    João Carga d'água, heroi do movimento do "Quebra Quilos", está sepultado na alameda principal do cemitério do Monte Santo.

     


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