Em 1890 se discutia o prologamento da ferrovia Conde D’eu, embora desde 88 a Assembléia Provincial registrasse alguns reclamos desta natureza em suas sessões. Christiano Lauritzen – Chefe da Intendência Municipal – muito se empenhou para o surgimento de uma estação em Campina Grande.
Viajou então o dinamarquês em maio daquele ano à Capital Federal - Rio de Janeiro - com este objetivo, intercedendo junto a “poderosos amigos”, que na voz da Gazeta do Sertão seriam os paraibanos participantes da Proclamação da República. Antes porém já havia ele conseguido os estudos do ramal de Alagoa Grande até Campina.
Irineu Joffily que anseiava este progresso mas duvidava do seu implemento, publicava uma nota em seu jornal congratulando- o:
“damo-lhes sem reservas sinceras felicitações, como campinense esforçado pela prosperidade desta terra. (...) Não Guardams ressentimento político, quando se trata de reconhecer serviços de tal ordem. Suun cuique tribuere” (Gazeta: 18/07/1890).
Contudo, advertia JOFFILY que o ponto de partida deveria se dar em local amplo, apropriado para uma estação de trem e seus armazéns, concluindo que: “Esse ponto nos parece ser a planície além do açúde das Piabas, ao nascente, dirigindo-se daí depois de atravessar o riachão Ingá, a enconta meridional da pequena serra Oity, Gravatá, Cachoeira, Chã de Cavana a descer no vale do Jacú, evitando assim ponte sobre o rio Mamanguape” (Gazeta: 18/07/1890).
Este traçado colocava em igual percurso dois centros importantes da época: Alagoa Nova e Serra Redonda, que ficavam igualmente distantes a duas léguas de seus trilhos.
Retornou em junho acompanhado de dois engenheiros que procederiam aos estudos daquela estação, ficando assim registrado:
“Última hora – Chegou ontem às 6 horas da tarde de volta de sua viagem à capital federal, o cidadão Christiano Lauritzen; acompanhado de dois engenheiros Drs. Crockratt de Sá, chefe da comissão que vai, segundo nos informam, fazer os estudos da estrada de ferro deta cidade à Mulungú, e o Dr. Corte Real.
Os três distintos Cidadãos foram encontrados por mais de cem cavalheiros.
No seguinte número daremos maiores esclarecimentos a respeito do fim principal da vinda dos dignos engenheiros; cumpre-nos agora somente sauda-los e ao cidadão Christiano Lauritzen pela feliz viagem.
A nossa saudação seria ainda mais cordial se o presidente da intendência tivesse alcançado o fim principal de sua viagem, estrada de ferro de Campina, no corrente ano, coisa que muitos ainda não acreditam; e (confessamos a nossa fraqueza) somos do número deles” (Gazeta do Sertão: 11/07/1890).
A comissão de estudos firmou a primeira balisa no final da rua do Oriente, também conhecida como dos Mulungús, aquém do açude das Piabas. Estava esta primeira estaca na direção do Riachão de Ingá, permeando as fraldas do elevado morro do Araçá e Oity, conforme sugestão de JOFFILY que não exitou em declarar:
“A distinta comissão não podia escolher melhor local para ponto terminal da estrada; pois que nenhum outro como ele reúne iguais cômodos não só para a linha férrea, como para a população desta cidade e de fora” (Gazeta do Sertão: 25/07/1890).
Promovidos os estudos necessários, o projeto foi aprovado pelo Ministro da Agricultura, nestes termos:
“Acha-se assentado pelo Ministério da Agricultura estrada de ferro até Campina Grande, melhoramento de tão grande alcance para este Estado.
Tendo-se esforçado desde muito o cidadão Governador para consegui-lo, acaba de ser vitoriado pela notícia recebida da Capital Federal de que foi portador o prestimoso campinense Christiano Lauritzen. Parabéns ao Dr. Venâncio Neiva e ao povo paraibano” (Estado da Parahyba: 09/08/1890).
Após algumas denúncias de irregularidades, o governo federal nomeou Francisco Retumba para fiscalizar as obras da Great Wetern, que ficariam conclusas em 1907.
Assim noticiava O COMMERCIO:
“The Great Western of Brazil Railway Company Limited – AVISO – PROLONGAMENTO A CAMPINA GRANDE. No dia 2 de outubro proximo vindouro será aberto ao tráfego de passageiros, mercadorias, animais e serviço telegráfico, o prolongamento de Itabayana à Campina Grande. De acordo com o horário abaixo publicado, os trens correrão nas Segundas, Quartas-feiras e Sábados, e se corresponderão em Itabayana com os trens para a Parahyba e Recife e vice-versa nos dias indicados” (O COMMÉRCIO: 09/10/1907).
Referido anúncio era assinado por J. A. Lorimer, superitendente da companhia sediada em Recife.
A máquina tombada so n° 32 partia da estação de Campina às 6:40 AM com destino a Itabaiana, passando por Galante, Ingá e Mogeiro. O transporte de gadum vacum se fazia aos sábados, havendo lugar apropriado no vagão. Mas era necessário contratar com antecedência com o agente da estação.
O trem chegou a Campina em 02 de outubro daquele ano. Fora recepcionado pelo então prefeito Christiano Lauritzen. O médico Assis Chateaubriand Bandeira de Melo fez a oratória, inaugurando uma onda de progresso que seguiria anos a fio. A partir daí Campina nunca mais fora a mesma.
Rau Ferreira
Fonte:
- JOFFILY, Irineu. Notas sobre a Paraíba. Edição fac-similar de 1892. Ed. Thesaurus: 1977.
- JOFFILY, José. Entre a monarquia e a república. Livraria Kosmos Editora: 1982.
- PARAHYBA, Estado da. Órgão republicano. Edição de 09 de julho. Parahyba do Norte: 1890.
- SERTÃO, Gazeta do. Edição de 06 de junho. Campina Grande/PB: 1890.
- SERTÃO, Gazeta do. Edição de 11 de julho. Campina Grande/PB: 1890
- SERTÃO, Gazeta do. Edição de 18 de julho. Campina Grande/PB: 1890.
- SERTÃO, Gazeta do. Edição de 25 de julho. Campina Grande/PB: 1890.
- O COMMERCIO, Jornal. N. 3052. Edição de 09 de outubro. Parahyba do Norte: 1907.
O instituto dos Cegos na época do abandono estava melhor do que está hoje. Lamentavel.