Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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Foto: http://www.historiabrasileira.com/brasil-colonia/confederacao-dos-cariris/


Em artigo de colaborador escrevemos para o RHCG acerca dos Índios Carirys que foram aldeados durante a colonização de Campina Grande.
Hoje, nossas pesquisas se voltam para a descrição desta nação indígena que muito progresso trouxe para a Parahyba. Neste sentido, nos valemos dos trabalhos produzidos por Herckman (1886), Joffily (1892) e dos acervos do IHGP e IHGB disponíveis na internet.
Começamos anotando que este era um povo nômade e viviam da caça e pesca, não praticavam a agricultura e diziam ter vindo de um grande lago. Segundo Herckman: “vagueiam, ora demorando-se em um sítio, ora em outro. Na estação do caju, que é em Novembro, Dezembro e Janeiro, descem às praias, porquanto pouco ou nenhum caju se encontra muito para o interior. Assim regulam-se pelas estações do ano para procurarem o seu alimento” (Descripção Geral da Capitania da Parahyba: 1886).
Costumavam ocupar os lugares mais afastados da Capitania e visitar as regiões inferiores do Brasil. E como podemos observar, recebiam várias denominações: Carirys, Ariús, Tapuyas, Banabuyés, Tarairyou, Caracara etc.
Os etnógrafos, no entanto classificavam-no como pertencentes “a um ramo diferente da família dos Tabajaras e Potiguaras” (CLEROT: 1969). Denominados pelos desbravadores pelo epíteto de “Gentios Bravos”, seriam os originários habitantes do brejo paraibano que, segundo Reinaldo de Oliveira Sobrinho, seria bem provável que fizessem parte de uma única comuna que povoou toda a Paraíba.
Primatas ferozes usavam armas e costumavam guerrear, sendo por isso chamados de “tapuias” pelas outras tribos, palavra que significa “inimigo” na sua língua-materna. O seu vocábulo tem a seguinte origem:

“TAPOY (f. 131) Indiens – Tapuya, que explicam variavelmente. Preferimos a interpretação de Burton, na introdução ao The Captivity of Hans Stade, pags. LXX, nota: de taba aldeia e puya fugir, isto é, os que fogem das aldeias, bárbaros, selvagens, inimigos” (R.IHGB: 1927).

E continua Herckman a sua descrição:

“Este povo de Tapuyas é robusto e de grande estatura, os seus ossos são grandes e fortes, a cabeça grande e espessa; a sua cor natural é atrigueirada (bruynachtich), o cabelo é preto, e de ordinário o trazem pendente sobre o pescoço, mas por diante até em cima das orelhas cortam-no igualmente, o que faz parecer que trazem um bonnet sobre a cabeça. Contudo alguns deixam cortar todo o cabelo ao modo dos da nação. Tem cabelo mui grosso e áspero” (Descripção Geral da Capitania da Parahyba: 1886).

Andavam geralmente nus, excetos em algumas ocasiões. Vestiam-se para festa e para a guerra, com penas de arara e outros pássaros. Cobriam as partes íntimas com folhas de figueiras, sendo que os homens prendiam o membro viril com um “atilho”. Eram imberbes e arrancavam os pelos que teimavam em aparecer noutras partes do corpo. Totalmente incultos, possuíam o seu “feiticeiro” a quem consultavam quando iam sair em alguma incursão. Quando queriam passar sinais de alegria ou contentamento o faziam por um berreiro generalizado, cujo coro era seguido pelas mulheres.
O chefe ou rei era conhecido tão somente pelas unhas ou pelos cabeços, em virtude de todos andarem nus. O cabelo do rei forma uma coroa e trás em ambos os polegares as unhas compridas. Os Tapuias que conquistaram o Rio Grande a serviço da Companhia das Índias Ocidentais tinham por rei Janduí. O Comatim (filho do rei) sucedia-lhe na direção da tribo.
Ágeis caçadores eram próprios para perseguir o inimigo em fuga, sendo capazes de acompanhar um cavalo na corrida. Usavam armas feitas de pau-brasil: lanças compridas e pontiagudas (da largura de uma mão) em ambos os lados com calibre mais grosso ao centro da madeira, além de arco e flecha e azagaias - que lançavam com precisão – e pequenos machados com cabos compridos. Na sua formação não havia ordem, pondo-se em guerra tomavam o inimigo desprevenido por sua forma desorganizada.
Selvagens, não plantavam nem criavam viveres e comiam tudo sem guardar coisa alguma. Eram capazes de comer em abundância e jejuar se preciso. Não faziam casas para si, salvo o abrigo de alguns ramos para escapar da chuva ou do sol ardente. À noite faziam grandes fogueiras e estendiam suas redes.
As mulheres eram indistintamente mais baixas que os homens, tem cabelos negros e compridos e andam igualmente nuas. São submissas e serviçais aos maridos ao que for razoável, contudo não suportam o adultério. Colocavam pauzinhos na face para indicarem serem casadas.
Antropófagos, comiam os próprios mortos. Diziam que “o finado não pode ser melhor guardado ou enterrado do que em seus corpos” (HERCKMAN: 1886).
Com o passar do tempo boa parte dos Cariris haviam sido banidos deixando as férteis terras para os colonizadores, enquanto outros passaram a viver em harmoniosa miscigenação.
Alguns foram catequizados pelos portugueses o que lhes fez alterar muito de seus costumes. Estiveram no Pilar e foram trazidos para Campina Grande. Segundo o ciclo de debates dos 500 anos do Brasil, promovido pelo IHGP em abril de 2000:
“O cacique dos ariús chamava-se Cavalcanti porque já era batizado, e os próprios índios de sua tribo passaram a se denominar de cavalcantis. Os cavalcantis ficaram no centro de Campina Grande, enquanto os cariris ficaram na região de Esperança” (IHGP: 2000).

Em Campina foram denominados de Ariús e em Esperança, receberam o nome de Banabuyés em razão da data de sesmarias destas terras, fixando-se nas proximidades do Tanque do Araçá.

Rau Ferreira
Blog História Esperancense (http://memoep.tk)

Fonte:
- CLEROT, Leon Francisco R. 30 [i. e. Trinta] anos na Paraíba: memórias corográficas e outras memórias. Editora Pongetti: 1969.
- EHRENREICH, Paul. 1905. Sobre alguns retratos de indios sul-americanos. Revista do Instituto Archeologico e Geographico Pernambucano, vol. XII, N. 65, p. 18-46.
- ESPERANÇA, Livro do Município de. Ed. Unigraf. Esperança/PB: 1985.
- IHGP, A Paraíba nos 500 Anos do Brasil. Anais do Ciclo de Debates. João Pessoa/PB: 2000.
- JOFFILY, Irineu. Notas sobre a Parahyba. Ed. Typographia do "Jornal do Commercio": 1892.
- NOVO TEMPO, Jornal. Ano IV, nº 23, Nov/Dez 95, Edição Especial Comemorativa, p. 3. Artigo: “Esperança e seus primórdios”, escrito pelo Dr. João de Deus Melo.
- R.IHGB. Glossário de Rodolpho Garcia. Tomo 94. Vol. 148. Ano 1923. Imprensa Nacional. Rio de Janeiro/RJ: 1927.
- SOBRINHO, Pompeu. Os Tapuias do Nordeste e a Monografia de Elias Herckman. Revista do Instituto do Ceará. Tomo XLII. Ceará: 1934.
- SOBRINHO, Reinaldo de Oliveira. Esboço de monografia do Município de Areia. Coleção Arquivos Paraibanos. Imp. Official. João Pessoa/PB: 1958.

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