Por Erik Brito (*)
Quando se fala na existência de inscrições rupestres na Paraíba, imediatamente todo mundo se reporta a famosa Pedra do Ingá ou ao sítio Pai Mateus, em Cabaceiras. Poucos sabem que estes testemunhos gráficos pré-históricos existem por toda parte e que Campina Grande também possui um sítio de inscrições rupestres.
O fato é que, embora poucos saibam, há milhares de anos povos pré-históricos viveram (ou passaram) pela região de Campina Grande e gravaram curiosos desenhos numa pedra do riacho Logradouro, sítio do Estreito, na zona rural de Campina Grande. Segundo convenções dos arqueólogos, este tipo de inscrições em pedra, entalhadas em baixo-relevo, leva o nome de itacoatiaras.
Não existe nenhum registro conhecido deste sítio arqueológico campinense anterior a 1995, ano em que o então acadêmico de História da UEPB Daniel de Castro foi informado destas inscrições e resolveu registrar o sítio para um trabalho acadêmico. Na época a descoberta do sítio foi até anunciado no Jornal da Paraíba (edição de 06 de agosto).
Desenho de Vanderley de Brito publicado no seu livro sobre itacoatiaras na Paraíba |
Porém o sítio caiu de novo no esquecimento e somente quase dez anos depois o assunto voltou à baila, quando o historiador Vanderley de Brito (meu pai) desenvolvia um projeto de levantamento de inscrições rupestres da região da Borborema e visitou estas inscrições do Estreito. Na época, pela proximidade deste sítio em relação à cidade de Campina Grande (pouco mais de 10 km), ele resolver adotar este sítio como objeto de estudo, como já vinha fazendo com a Pedra do Ingá, e passou a monitorar o lugar, visitando-o periodicamente, para acompanhar o processo de degradação em que a rocha com inscrições está submetida. Pois as itacoatiaras do Estreito estão gravadas numa rocha pouco resistente e, devido às fortes torrentes do riacho Logradouro nos períodos de inverno, este sítio está gradativamente se desarticulado.
A partir de 2010, em virtude das muitas atribuições, meu pai passou para mim esta monitoria e desde então a cada três meses visito as itacoatiaras do Estreito para acompanhar seu processo de desarticulação natural e publico o andamento desta monitoria nos boletins da Sociedade Paraibana de Arqueologia, sempre alertando às autoridades para este importante sítio arqueológico.
É lamentável o estado de decomposição da rocha suporte das inscrições, que a cada visita que faço é notório. Porém, um ponto positivo é que, por estar em zona rural, não há registro de pichações ou danos antrópicos. É a própria Natureza quem está se encarregando de apagar esta página da pré-história campinense.
Por isso, é importante que a localização deste sítio se mantenha anônima: assim se evita os idesejáveis vândalos. Entretanto, seria interessante se a prefeitura local ou o Governo do Estado adotassem medidas para se reduzir este processo degenerativo em curso, fazendo um desvio do riacho. Também é possível reconstituir o sítio com um guincho, pois as placas que se deslocaram de seus lugares originais estão concentradas na frente da pedra e podem ser recolocadas e fixadas no lugar de onde saíram. Assim, Campina Grande poderia atrair turistas para este museu a céu aberto e se vangloriar de possuir um sítio rupestre tão interessante e valoroso quanto à famosa Pedra do Ingá, pois o sítio rupestre do Estreito é composto por complexos inscrições muito profundas e apresenta muitas semelhanças com a Pedra do Ingá no tocante à técnica, estrutura gráfica e impacto visual. Destaca-se no painel um grande círculo com canais convergindo para um orifício capsular central, figura que muito lembra um antigo calendário solar. Seria a Itacoatiara do Estreito um local de primitivos cultos astronômicos?
Itacoatiaras do Estreito foto 2005 |
(*) Graduando em História pela UEPB, membro da Sociedade Paraibana de Arqueologia e também ator, produtor e roteirista de cinema e teatro em Campina Grande.
Parabéns pelo postagem!
A itacoatiara do Estreito é um sítio arqueológico muito interessante que compõe o patrimônio cultural de Campina Grande. Erick é um jovem historiador muito promissor que compõe a equipe da SOCIEDADE PARAIBANA DE ARQUEOLOGIA - SPA. Belo texto, interessante postagem. Agora, além de Vanderley de Brito e de mim, a SPA tem mais um colaborador do RETALHOS HISTÓRICOS DE CG. Parabéns Neto! (Erick de Brito)
Muito bom, o proximo passo é estudar os riscos existentes para entender que cultura e proposito tinha estes povos...temos semelhante no cariri nas Pedras do Bravo, só que em pintura vermelha..a preservação do local também é mais facil, pelas chuvas em menor precipitação, deixando a pedra sem o excesso de água correndo pelas pedras...eu particularmente fico encantada com este tipo de registro..pena que ainda não vi, embora tenha andado pelo riacho logradouro durante visita ao assentamento e coletando aguas..que são as mais salgadas da região, tem lugares que chegam a ser superior ao nivel do mar.