Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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QUAL ASSUNTO VOCÊ ESTÁ PROCURANDO?

por Rau Ferreira


No correr do primeiro ano do Século XX, um viajante passou por Campina Grande e registrou suas impressões acerca desta importante vila que foi publicada na revista Comércio, que se editava na Capital paraibana, e no principal jornal pernambucano do seu tempo. Em suas notas, o andarilho afirma:

"(...) extractei um topico honroso ao vigario Luiz Francisco de salles Pessôa e sua matriz e que com a devida venia, resolvi mandar publicar n’A Província”.

Inicia o seu relato descrevendo o município da seguinte forma:

"A cidade tem edifícios importantes, particulares e públicos e a construcção é sólida e com certo gosto artístico. Algumas chacaras e chalets possuem todas as condições recommendadas pela hygiene, proporcionando muito conforto aos respectivos habitantes”.

O censo demográfico da época apontava 12 mil habitantes, “entretanto aquele cômputo, me parece, está aquém da realidade”, acrescenta.

A seguir, por ímpeto religioso, o visitante se dirige à Igreja Matriz, erigida sob a invocação de N. S. da Conceição, fazendo-lhe igualmente a sua descrição:

"Bello e suntuoso templo o de Campina Grande, que com sua alvura de neve se depara a quem quer que se destine à cidade, de qualquer procedência, na distância de 10 kilômetros de contorno!  
Penetrei no augusto recinto, e, não obstante a emancipação do meu espírito, relativamente aos meios terrenos de ganhar a mansão paradisíaca, força me foi confessar intimamente, que bem podia alimentar a esperança da vida eterna, se porventura pertencesse à comunhão catholica que tem para as suas fervorosas preces christães, uma tão sublime casa de oração.
Esse templo não tem as proporções da cathedral ahi na Capital, mas leva-a de vencida em tudo mais e principalmente no aceio meticuloso com que é  mantida.
Alli, n’aquele recinto que rescende à flor da limpesa, uma alma verdadeiramente cristã e limpa de paixões, deve recitar com orgulho a edificante oração dominical, certa de que ella chegará aos pés do Deus das Misericórdias, reflectindo a limipidez do templo por cujas naves se evola para os céos!
Não lhe perdi um só detalhe, desde o liminar até o mais elevado de uma de suas torres, de onde contemplei as sorprendentes paysagens que contornam a cidade”

Refere-se, ainda, ao imponente relógio da Matriz:

“Há ahi um poderoso e moderno regulador, com mostrador na parte sul, que annuncia à população a passagem do tempo”.

E continua em suas anotações narrando o interior da Igreja:

"O interior do templo é aberto em arcadas, a cujos claros correspondem altares lateraes com as imagens dos seguintes santos, a saber: lado direito, à entrada: Santa Luzia, S. Miguel, S. Irinêo, Senhora das Dores e S. José; a esquerda: S. João Batista, Santo Antonio, S. Sebastião, Coração de Jesus e Senhor dos Passos, na capella mór, rodeada de elgantes balaustradas e caprichosamente forrada de tapete de lã fino, está o altar principal da Virgem da Conceição, ladeada por S. Luiz de Gonzaga e S. Francisco de Assis.
Essas imagens são todas de uma perfeição admirável, e os respectivos altares, caprichosa e ricamente decorados.
A parte posterior do tempo é constituída por um mirante, ao longo de toda a largura do edifício, com innumeras janellas, abrindo para o sul; sob essa construcção nota-se um alpendre, deposito de objetos pertencentes à fábrica, ahi também está um bello jardim, muito bem disposto e tratado e cujas flores servem exclusivamente para adorno dos altares.
Tudo isso tira à egreja tom monotono, peculiar aos fundos de todos os edifícios congêneres, d’ahi como de todas as outras localidades interiores”.

Dentre os muitos ambientes dispostos naquela casa religiosa, surpreendeu o turista a pia batismal:

“Consiste elle n’uma grande pia circular, construída de pedra e cal, mas de forma que as águas lustraes que christianisam um neofito, desviam-se para o solo que as absorve. Dessa arte, muitos que sejam os baptisandos, cada um delles recebe água sempre nova.
A qualquer intelligencia não escapará de certo, o alcance hygienico de uma prática tão interessante”.
Observou, ainda, as inscrições que haviam sob os arcos das portas principais da Matriz:
“Terribilis est locus iste
Hic domus Dei est et porta coeli.
Tu ea omnis qui petit accipit”.

Advertindo aos membros daquela igreja dos benefícios morais da religião para o conforto da alma, ao mesmo tempo que as admoesta que jamais se desviarão impunes do bem, cuja frase certamente foi transcrita do Gênesis: “Temível é este lugar! Não é outro, senão a casa de Deus; esta é a porta dos céus" (Gn 28,17) e Mateus: “o que pedires receberás” (Mt 7,8).

O esplendor daquela construção, na opinião do visitador, devia-se ao incansável espírito empreendedor do Monsenhor Sales, que muito havia contribuído para o melhoramento da cidade, notadamente por ser “um sacerdote estimabilíssimo, por suas raras qualidades moraes e sobre modo acessível”, ao ponto de tecer o seguinte comentário:

“O vigario Salles não é um homem vulga; salienta-se, destaca-se da regra geral do clero e impõe-se à estima publica por dedicar-se à sua religião sem hypocrisia e por dirigir o seu povo com carinho e amor excessivos, sem o menor intuito de jungil-o aos seus interesses pessoaes pelo fanatismo.
Para julgar-se da grandeza d’animo desse reverendíssimo vigario, basta dizer que, por dedicado à sua freguezia e a sua egreja, renunciou à subida dignidade de bispo da diocese do Maranhão.
Ah! se a capital possuisse à frente de sua cleresia um Salles!!”. Assina simplesmente com as inciais P. R. 

Provido desde 24 de fevereiro de 1885, para dirigir os trabalhos da Paróquia de N. S. da Conceição, em substituição ao Cônego Francisco Alves Pequeno, o Padre Sales não mediu esforços para realizar uma boa administração. Nomeado bispo do Maranhão em 1889, preferiu permanecer em Campina até a sua morte em 1927.



Referências:

- Bíblia Sagrada e tradução livre do latim por Rau Ferreira.
- A PROVÍNCIA, Jornal. Ano XXIV. N. 140. Sábado, 22 de junho. Recife/PE: 1901.
- UCHÔA, Boulanger de Albuquerque. História Eclesiástica de Campina Grande.
- Departamento de Imprensa Nacional: 1964.

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