por Rau
Ferreira
Este gênero
literário que se popularizou no Brasil na segunda metade do Século XIX,
encontrou em Campina terreno fértil para sua produção. Por aqui passaram
grandes repentistas e poetas de bancada que ganharam as feiras, ruas e até as
cátedras das universidades, onde a sua riqueza cultural é objeto de estudos.
Até bem
pouco tempo podiam ser vistos nas praças e nas ruas, ou nas bancas de feiras
durante os sábados, a exemplo de Toinho da Mulatinha.
Do passado
glorioso, contudo, lembramos cantadores como Francisco das CHAGAS BATISTA, que se
mudou para esta cidade em 1900, onde trabalhou carregando água e lenha e foi
operário da Great Western, iniciando sua produção dois anos depois. Entre seus
muitos títulos, escreveu a VIDA DE ANTONIO SILVINO (1904):
“Eu o fio do telégrafo
No mesmo dia cortei
Em dez ou doze lugares;
Depois avisar mandei
A polícia de Campina
E com os meus me ocultei...”.
(A vida de Antonio Silvino:
1904).
Francisco de
SALES ARÊDA, natural dessas paragens, nascido em 1916, que iniciou nessa arte
no ano de 1946 com O CASAMENTO E HERANÇA DE CHICA PANÇUDA COM BERNARDINO PELADO
e também o ENCONTRO DE MANOEL MOLE COM O NEGRO CHICO, cujo embate se deu “quando Campina Grande ainda era povoação”,
pela famosa Folheteria Luzeiro do Norte
Nesta
cidade, havia agentes especializados na rua Santo Antonio e também na redação
d’O Rebate (jornal que era editado na rua Monsenhor Sales, 36), responsáveis
por vender e divulgar os folhetos de cordéis.
Campina também
foi sede da FOLHETERIA SANTOS, que se autodenominava “Estrêlla da Poesia”, cujas
filiais funcionaram nas ruas Cristovão Colombo e Santo Antonio. Segundo o seu
proprietário Manoel Camillo dos Santos:
“A folheteria Santos (...) mantém um variado
sortimento de folhetos e romances, com grande desconto aos revendedores, e
remete pelo correio, qualquer pedido para qualquer parte do Brasil, mediante a
importância do pedido, pelo registrado. Não tendo reembolso”.
Com mais de
quinze anos de publicação folclórica “registrada
e integrada no quadro das tipografias e editoras estabelecidas no país, pela
Biblioteca Nacional”, se destacava a editora por ser BBBB (bons, baratos,
bonitos e bem feitos).
Foi nesta
casa tipográfica que João Melquíades Ferreira editou a “Estória do valente
sertanejo José Garcia”, onde mostra Campina era um centro de comercialização de
gado.
Não podemos
nos esquecer da valorosa contribuição de Átila Almeida e José Alves Sobrinho,
que resgataram muito desta poesia, velhos cantadores e suas histórias em seu
livro DICIONÁRIO BIBLIOGRÁFICO DE POETAS POPULARES (1975), que se tornou um
grande referencial em matéria de cordel.
Esta cidade
ainda foi palco da PELEJA DE JOÃO DE ATAHYDE COM JOSÉ PACHECO, que rendeu um
importante registro de 1941, ressaltando a importância que esta cidade tinha
para os cantadores populares. E do temido JOÃO BENEDITO, poeta de Esperança que
costumava rimar com o tempo.
Marcando sua
presença neste Município, temos ainda José Soares que ficou conhecido como O
POETA REPÓRTER, que muito contribuiu para a preservação desta literatura. Em
Campina, produziu muito, e entre os diversos folhetos está O MORTO VIVO (1957).
Naquele
mesmo ano, publicava Manoel Pereira Sobrinho o cordel CACHORRO TONI. Antes,
porém, havia escrito a incrível saga do CONDE DE MONTE CRISTO (1955). Este
mesmo cidadão trabalhou em Campina nos idos de 1948-1956 como editor de
folhetos, segundo consta na página três de sua obra A ESCRAVA DO DESTINO.
A lista não
pára por aqui. Existem muitos outros autores e poetas, mas para não ficar
cansativa a leitura deixemos para outra oportunidade. Boa parte deste material
encontra-se disponibilizado no site da Fundação Casa de Rui Barbosa em http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/.
Referência:
- ALMEIDA, Átila e
SOBRINHO, José Alves. Dicionário
biobibliográfico de poetas populares. 2ª ed. Campina Grande/PB: 1990.
- ARÊDA, Francisco
de Sales. O casamento e herança de Chica
Pancuda com Bernardino Pelado: 1946.
- BATISTA,
Francisco das Chagas. Cantadores e poetas
populares. Vol. XXI. Coleção Biblioteca Paraibana. 2ª Ed. Conselho Estadual
de Cultura – SEC: 1997.
- CASCUDO, Luiz da
Câmara. Vaqueiros e cantadores: folclore poético do sertão de Pernambuco,
Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Vol. 6. Ed. Globo: 1939.
- CHAGAS BATISTA,
Francisco. A vida de Antônio Silvino:
1904.
- CURRAN, Mark. História do Brasil em Cordel. 2ª ed.
Editora da USP. São Paulo/SP: 2003.
- FILHO, F.
Coutinho. Repentistas e glosadores: Poesia
popular do nordeste brasileiro. Ed. A. Sartorio & Bertoli: 1937.
- SANTOS, Manoel
Camilo dos. Rico sem ter dinheiro. Literatura
de cordel. Campina Grande/PB: 1959
O grande radialista e compositor Rosil Cavalcanti também escreveu alguns folhetos