Açude de Bodocongó - Anos 50 |
Na sua origem, as terras que hoje compõe o
Açude de Bodocongó foram instituídas pela Coroa Imperial por doação a Antônio
de Oliveira Ledo e sua mulher Izabel Pereira “em remuneração dos serviços que fez a dita Corte, metendo o gentio
bárbaro, daquela, e mais ribeira” por ter logrado êxito na “guerra aos bárbaros” – com a ajuda de Antonomaria Cavalcnaty.
Esta mesma concessão, com a morte dos sesmeiros
originais, foi solicitada pelo seu filho João Pereira de Oliveira ao rei D.
José I, que mandou “demarcar a terra da
aldeia da Campina Grande, para a parte dos Bultrins, terra que os índios sempre
dominaram como deles, para que possa, com os rendimentos da mesma, dar cumprimento
à instituição”.
A Carta escrita em 17 de Fevereiro de 1767, denomina
a região de “Bodo Congo” segundo o idioma Dezebucuá Cariry, cuja tradução enseja
algumas dúvidas. Para os pesquisadores o termo tem origem Cariry e não Tupy,
traduzindo-se por “águas que queimam”
(bo-dó-congó), embora ÁGUA naquela língua mãe seja DZU.
O açude – cujas coordenadas geográficas são 07°13’11”S,
e 35°52’31”W - distante 6 Km de Campina Grande, tem uma profundidade que varia
entre quatro a seis metros, podendo alcançar nos pontos mais fundos até sete
metros.
Coube ao prefeito Christiano Lauritzen proceder
a barragem de um pequeno riacho afluente do Rio Paraíba, preocupado com as
secas iminentes na região e a necessidade de armazenar água potável para os
campinenses. O pequeno córrego era conhecido desde 1762, citado na Sesmaria
concedida ao Padre Domingos da Cunha Figueiredo.
Os estudos haviam sido iniciados no ano
anterior, atendendo solicitação do Conselho Municipal que oficiou nestes termos
ao governo federal:
“O Conselho agradece em nome da populaçãodo
Município a solicitude com que V.S. mandou fazer os estudos do Açude de
Bodocongó, promoveu perante o governo a sua aprovação. Com este açude não fica
resolvido o problema d`água potavel para uma população que, apesar das secas
contínuas, aumenta admiravelmente. A população vive sobre a ameaça continua do
desaparecimento gradual do elemento mais essencial a vida... (a água)".
O engenheiro Miguel Arrojado Lisboa ficou
responsável pela construção, com o apoio do Presidente Hermes da Fonseca e da
municipalidade campinense.
As obras iniciaram em 1911 e foram concluídas
em 1916, todavia o reservatório não serviu ao seu fim imediato, devido ao alto
grau de alcalinidade da água. Com capacidade estimada em 1 milhão de metros
cúbicos, seu pH médio em 1934 oscilava em 7,75.
Tempos depois, as águas daquele manancial serviram
para a indústria têxtil e de curtição de couros (curtume).
(por Rau Ferreira)
Referências:
-
AHU-ACL-N-Paraiba. Documentos Ultramarinhos. Catálogo Nº 1812. Disponível em: http://www.cmd.unb.br. Acesso em 11/11/2012.
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ALMEIDA, Elpídio. História de Campina
Grande. Ed. Livraria Pedrosa.
Campina Grande/PB: 1962.
-
DNOCS. 2ª Coletânea de trabalhos técnicos. Ministério do Interior. Brasília/DF:
1981.
-
DO Ó, Edmilson Rodrigues. Açude de
Bodocongó: dragagem, revitalização, urbanismo... (artigo). Disponível em http://cgretalhos.blogspot.com.br.
Acesso em 11/11/2012.
-
FILHO, Severino Barbosa da Silva. Marranos
na Ribeira do Paraiba do Norte. Ed. Agenda: 2005.
-
IBSP. Arquivos do Instituto Biológico de São Paulo, Volume V. São Paulo/SP:
1934.
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IFOCS. Relatório dos Trabalhos Realizados pela Inspectoria Federal de Obras
contra as Seccas. Brasil: 1938.
-
Mineração metalurgia. Vol. XVII, Edição 98 -Volume 18. Brasil: 1952.
-
NASCIMENTO, Luis Carlos Costa. Impactos
ambientais no Açude de Bodocongó. Disponível em http://opovonalutafazhistoria.blogspot.com.br.
Acesso 11/11/2011.
-
TAVARES, João de Lyra. Apontamentos para a História Territorial da Paraíba,
Vol. I, Imp. Of., Pb., 1910.
Engraçado: Uma doação de terra por expulsar aos "bárbaros" índios que creiam que as terras eran dêles...kkk
A justiça era a grande ausente daquela época!!!Ou o "azar" de nascer Indio!!! Depois disso: a foto é massa!
Tantas e quantas vezes já falei aqui sobre o AÇUDE DE BODOCONGÓ. Publiquei fotos de minha autoria feitas no ano de 1970 e muitas outras feitas recentemente mostrando através de imagens e comentários, inclusive fotos feitas por satélites, a decadência logarítimica que sequencialmente extingue o histórico manancial de Bodocongó. É extranho que a história hídrica de Campina Grande tenha sido tão marcante ao longo de existência. Extinguiram o Açude Novo; pretenderam extinguir o Açude Velho, e agora, o velho AÇUDE DE BODOGONGÓ parece caminhar cèleremente para o mesmo destino. Escutamos, inúmeras vezes, administradores públicos da nossa cidade se pronunciarem a respeito do um lendário PROJETO PARA REVITALIZAÇÃO DO AÇUDE DE BODOCONGÓ. Lamentavelmente, os prefeitos se sucedem enquanto o açude agoniza. A última vez que falei sobre isto, foi exatamente a um ano atraz, em outubro e novembro de 2011. Tudo continua pior do que então. É deprimente...Nunhum comentário foi feito a respeito. Diante de tal indiferença, nos parece que a sociedade opta pela perda dos santuários históricos que enaltecem a história de Campina Grande, e, com uma agravante, o Açude de Bodocongó, se revitalizado, tornar-se-ia num belíssimo parque aquático destacando-se no embelezamento do nosso báirro universitário.
Escrevi um artigo intitulado "A tal “urbanização” do açude de Bodocongó" para ajudar no debate (ou na falta dele!!!). Há muita "divulgação" de um projeto concretista e pouca ou nenhuma ação com relação a revitalização do Açude de Bodocongó ... enquanto isto vai se transformando num penico como o Açude Velho ou tenderá a desaparecer como o Açude Novo que foi aterrado ... quem se interessar em ler o artigo completo acesse nosso blog Memórias de um ambientalista ... http://ramiromanoel.blogspot.com.br/2012/11/a-tal-urbanizacao-do-acude-de-bodocongo.html#more ... Finalizo o texto dizengo: "Por que não fazer o correto? Por que não cumprir a lei ambiental? Por que não tratar os esgotos antes de voltar aos nossos rios, açudes e riachos, já que pagamos mensalmente a taxa para tratamento de esgoto a Companhia de Águas e Esgotos do Estado da Paraíba – CAGEPA? Por que não recuperar a mata ciliar do açude de Bodocongó? Por que cometer os mesmos erros do açude velho e do açude novo (que foi aterrado!)?"
"Se este projeto concretista for efetivado, iremos testemunhar mais uma vez a agressão a Lei Ambiental do Brasil, a mutilação de mais um importante açude no semiárido, o descaso com a cidade de Campina Grande, a falta de sensibilidade para utilização do meio ambiente em favor da saúde e lazer da população, só nos resta cantar a letra da música de Humberto Teixeira e Cícero Nunes … “Eu fui feliz lá no Bodocongó. Com meu barquinho de um remo só. Quando era lua. Com meu bem. Remava à toa. Ai ai ai que coisa boa. Lá no meu Bodocongó ...”
Um abraço a tod@s,
Ramiro Manoel Pinto Gomes Pereira
ambientalista, professor, pesquisador, doutor em Recursos Naturais
Parabéns Ramiro Manoel pêlo seu trabalho ambientalista. Não se desanime! Sòmente com pessôas como você poderemos sensibilizar uma parte da população e conseguir soluções reais para salvar nossa mãe natureza das garras da inconsciência!!!