Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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No ano de 1846, o 2º Tenente Francisco Pereira da Silva, por ordem de Frederico Carneiro de Campos, Tenente Coronel do Imperial Corpo de Engenheiros, percorreu a Província da Parahyba descrevendo-lhes alguns aspectos com vistas à melhoria dos serviços públicos.
O texto a seguir é o seu memorial “contendo a indicação dos lugares mais asados para a construção de açudes, e fontes públicas, e concluindo com hum projecto para o estabelecimento de celleiros”.
A sua viagem teve início no dia 24 de dezembro daquele ano, partindo da Cidade da Parahyba [atual João Pessoa] até o Município de S. João. Percorreu as vilas de Santa Rita, Pilar e Ingá, até chegar à Vila Nova da Rainha que assim descreve:

Distante do Ingá dez léguas está situada a vila de Campina Grande sobre huma collina da serra da Burburema. Tem huma igreja matriz dedicada a N. S. da Conceição, bastante grande, porém não acabada; huma igreja da invocação de N. S. do Rosario; huma cadea muito arruinada, e huma cada de camara que serve também para a reunião do tribunal do jury; tem dous açudes, hum denominado Velho, e outro Novo, o primeiro está no sul da villa, no qual desagoa o riacho das Piabas que nasce na lagoa Genipapinho, e corre a leste, e torna-se no tempo do inverno huma concha de água capaz de resistir a quatro ou cinco annos de secca, não obstante ser combatido pelas boiadas que passão do centro, não só desta província, como da de Pernambuco, Ceará e Piahui.
O açude Novo he mais pequeno que o Velho, porém a água nelle depositada he mais saudável, e por isso a população faz uso della com freqüência para beber. A matriz tem as seguintes capellas filiaes: Boa Vista, dez leguas no poente pela estrada de Espinhara; a de Poucinhos seis leguas distante pela estrada do Siridó ao sul, na distancia de cinco leguas; na serra Fagundes está a de S. João, onde antigamente foi hospício dos religiosos da Penha de Pernambuco, e a leste, pela estrada da capital, está a de Bacamarte. A maior parte das fazendas de criação e agricultura estão abandonadas, e as que existem estão em decadência causada pela rigorosa secca que por muitas vezes tem flagelado a província. As matas estão destruídas, talvez mais pelos fogos dos roçados de alguns agricultores imprudentes, do que pelo calorio do sol; com tudo ainda se encontra alguma madeira para construcção.
O terreno he fértil nos annos invernosos, e próprio para agricultura no lado leste, porque he mais humido; porem no geral he todo secco e muito calcário, por isso pouco conveniente para qualquer construção que se pretende fazer com o fim de obter água nascida; e se alguma contem ou he filtrada pela area, que esposta ao ar, cuja temperatura he sempre acima de setenta grãos de thermometro centrigrado, evaporiza-se com muita rapidez, ou está em grande profundidade, onde existe, segundo me parece, huma camada de sal.
Os açudes e seus arredores, para conservarem água de hum para outro inverno, porem infelizmente os que tem não estão perfeitos, pois que os bardos não tem a precisa solidez para resistir às ondulações do líquido que podem conter, principalmente no inverno, quando sopra o vente leste.
Parece-me que tenho demonstrado a absoluta necessidade de se construir os açudes desta villa com perfeição; esta obra pode importar em 3:000,000 réis, no máximo.
Levantei a planta desta villa (Planta nº 1), fiz melhoramentos nas cacimbas existentes, e mandei abrir outras que servirão para o povo flagellado pela sede, alem disto indiquei dez ou doze lugares nas margens do riacho das Piabas, onde se apresentão alguns signaes de água filtrada pela area; esta água he pouco duradoura. (...)Parahiba do Norte, 31 de janeiro de 1847. (as) Francisco Pereira da Silva – segundo tenente do Império do Corpo de Engenheiros”.

Em um segundo momento, prossegue o viajante relatando a fauna existente nas matas campinenses, registrando a presença dos seguintes animais: veados, onças, porcos, raposas, macacos, preguiças, pacas, quatis, mocós e preás. E entre as aves: emas, sariemas, jacus, zabelês, codornizes, papagaios, rolas, aza brancas, torquazes, canários, cardeais, marrecas e socós, além de uma diversidade de gaviões. Entre os répteis, grande número de cascavéis.
Destaca ainda a mineralogia da região:

“Encontrei em differentes lugares camadas de pedra calcaria, grande quantidade de quartzo, o ferro, camadas de salitre, e signaes que indicão a existência de veias de ouro (grifei).

Esta observação em particular, me chamou a atenção, pois foi a primeira vez que me ocorreu a existência deste minério precioso em nossas terras.
Ressaltou ainda o engenheiro a fitologia do Município, citando nessas matas a existência de Pau Ferro, Violeta, Arueira, Pereira, Batinga, Amarelo e Jurema, Sucupira, Pau D’arco, Coração Negro, Angelim e grande quantidade de Baraúna. A curiosidade fica por parte da “Jurema”, cuja madeira fornecia o carvão para os ferreiros.
Conclui a sua descrição indicando como solução para o flagelo das secas a construção de açudes; o cultivo da mandioca – “que produz e conserva-se muito tempo no terreno secco”; plantar o Capim Angola para alimentar o gado; diminuir o corte das árvores e as queimadas; evitar o plantio de roçado entre 1º de janeiro e fim de março – “porque sendo este o tempo em que a chuva está mais próxima da superfície da terra desta província, o calorio desenvolvido por estas queimadas a faz evaporar”; e, finalmente, proibir a criação de gado nos terrenos de agricultura.


Referências:
- BRAZI, Annuario Político, Histórico e Estatístico. Segundo Anno. Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro/RJ: 1847

3 comentários

  1. Anônimo on 11 de novembro de 2012 às 09:21

    Sensacional postagem

     
  2. Anônimo on 11 de novembro de 2012 às 12:29

    Muito interessante.

     
  3. Anônimo on 12 de novembro de 2012 às 08:19

    Será que o mapa citado no texto ainda existe? Seria um dos mapas mais antigos da cidade. Em 1846, Campina não devia ter mais do que meia dúzia de ruas....

     


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