O ano é 1909. Estamos na grande Campina, o empório dos Sertões. As ruas são largas, niveladas e cortadas por avenidas; iluminadas a querosene, porém não há calçamento. Nelas se praticam o comércio rotineiro. Fardos de algodão, peles de animais, carne seca e rapadura chegam e saem a todo o momento.
Os tropeiros descansam à sombra de alguma figueira, enquanto senhoras lavam roupas a beira do grande açude público. Neste, que se convencionou ser o mais antigo, muares carregam água para as residências mais importantes: médico Chateaubriand Bandeira de Melo, delegado Idelfonso Souto, e prefeito Christiano Lauritzen, como também a casa paroquial. Algumas cacimbas particulares servem ao seus senhores simplesmente.
Há uma cadeira isolada, com freqüência de 39 alunos, e o “Colégio Campinense”, de iniciativa do grupo de rapazes que fundou o jornal “O Campina Grande”, dirigido por Protásio de Sá e com colaboração de Virgílio Ribeiro Maracujá e Gilberto Leite. Este folhetim substituiu o “15 de Novembro” de Severino Correia de Araújo, cuja última edição saiu em 17 de janeiro daquele ano.
O cemitério recém construído é dotado de uma dependência que serve de secretaria ao empregado zelador. Há boticas, casas de costura e lojas de sapateiros.
A cidade conta 773 casas e registra cinco bacharéis e um advogado provisionado.
A população não adoece com freqüência, exceto no inverno quando surgem casos de febre. É costume o uso de plantas medicinais cujo ensinamento tem sido passado de uma geração para outra. O tratamento homeopático inclui plantas como velame, quina, sabugueiro, mastruço, juá, etc., que são aplicadas a diferentes moléstias.
O gado vacum sofre com a doença do “quarto inchado”, para o qual não se conhece a cura. E a lavoura é atacada pela borboleta que devora rapidamente a produção.
As maiores fortunas estão na indústria de criação já que a feira de gado é seu maior implemento. Por semana, cerca de oitocentos bois pernoitam na feira para ser comercializado na feira do dia seguinte, movimento comparável apenas a de Itabaiana. Mas a vida comercial de Campina Grande depende também do brejo, que fornece a farinha, o feijão e as verduras que são consumidas na cidade.
A Câmara Municipal estava constituída dos seguintes conselheiros: Vigolvino Pereira Monteiro Wanderley, Manuel de Albuquerque Uchoa, João Severiano Bezerra Cavalcante, Américo Pôrto, Pedro de Almeida Luna, José Irineu Jóffily, Lino Gomes da Silva João, Martins Guimarães e Luís de França Sodré.
A conjuntura política não era das melhores. Os projetos do prefeito eram rejeitados pelo legislativo; e as leis vetadas pelo executivo. Exemplo dessa disputa foi a criação do cargo de Consultor Jurídico do Conselho, proposta por Luís Sodré.
A freguesia era capitaneada pelo Monsenhor Luiz Francisco de Sales Pessoa, coadjuvada pelo padre Zeferino Maria de Ataíde.
As pessoas se divertiam no Cine Brazil que funcionava no prédio do grêmio de instrução, nas Boninas.
Parte deste progresso vivenciado no nono ano daquele século devia-se a chegada do trem, que fazia a ligação do interior com a capital pernambucana.
Os problemas sociais eram aparentes. O Jornal “O Campina Grande” chamava a atenção para a necessidade de limpeza pública, cobrando providências do prefeito. Dizia que o beco do Cardoso Vieira e o açougue provocavam náuseas, e apresentava as seguintes soluções: aquisição de carroças para condução do lixo; coleta ao menos uma vez por semana; destinação da verba denominada “jogo do bicho” para o calçamento parcial das principais artérias.
Não havia conservação no leito das ruas, que tinha buracos por toda a parte e o lixo nos recantos era visível.
Os delitos mais comuns estavam ligados, em geral, à jogatina ( bozós e caipiras), e também a prostituição.
Assim era Campina em 1909. Como será que Campina hoje?
Referências:
- ALMEIDA, Elpídio de. História de Campina Grande. Edições da Livraria Pedrosa. Campina Grande/PB: 1962.
- O CAMPINA GRANDE, Jornal. Ano II, Nº. 32. Edição de 30 de maio. Campina Grande/PB: 1909.
- O CAMPINA GRANDE, Jornal. Ano II, Nº. 42. Edição de 22 de agosto. Campina Grande/PB: 1909.
- PARAHYBA, Almanach do Estado da. Imprensa Oficial. Parahyba do Norte: 1909.
- PEREIRA, Flávia Borges. Salvações no Nordeste: política e participação popular. Ateliê Editorial. São Paulo/SP: 2011
Tenho 44 anos mas meu pa Severino Alves Correia nasceu nesse ano de 1909 e gostei muito de saber como era nossa cidade naquela época , parabéns pelo artigo .