Ao visitar o blog "Tataguassu", que retrata a história de Queimadas-PB, encontramos algumas fotos do acervo de José Cacho. Segundo José Ezequiel Barbosa Lopes, responsável pelo "Tataguassu", as fotos foram dadas por Cacho a Urbano Pereira da Silva, "conhecido popularmente como Baninho e foi em seus arquivos que conseguimos as fotos abaixo, que mesmo sendo de Campina Grande (fugindo um pouco de nosso projeto), merece destaque devido ao caráter histórico que elas representam. São verdadeiras relíquias da Rainha da Borborema nos anos 40", segundo palavras de José Ezequiel encontradas em seu blog.
É do acervo de José Cacho, um dos fotógrafos que mais registraram a história de Campina, a seguinte imagem:
Encontramos no arquivo do Jornal A União, um texto de Xico Nóbrega, datada de 28 de novembro de 2006, que fala justamente de José Cacho. O texto é belíssimo e reproduzimos abaixo na íntegra:
Retratos de uma época
28 de novembro de 2006
José Cacho |
Morreu há semanas atrás aos 89 anos. Dedicou boa parte dessa longa existência ao serviço da fotografia. No começo viajando por capitais nordestinas, e ao Rio de Janeiro, depois instalando estúdio em Campina desde os anos 40, onde realizou trabalho significativo à sua memória visual nos álbuns de família, no registro das obras de diversas administrações municipais, na documentação de campanhas eleitorais e da paisagem urbana campinense de décadas atrás.
Cacho ficou conhecido pelos seus retratos instantâneos ao natural de campinenses ilustres ou de pessoas comuns, caminhando na Rua Maciel Pinheiro, sozinhas ou acompanhadas. Livros significativos da história campinense recente, fazem uso dos retratos tirados por Cacho, embora não refira na ficha técnica da obra. Mais que isso, ele realizou durante anos, no período dos anos 60, cerca de seis horas de filmagem, na bitola de 16 milímetros, com o mesmo conteúdo do seu trabalho de fotografia, com destaque para os eventos do centenário de Campina Grande, há 42 anos.
José Cacho nasceu em São Bento do Norte (RN) em 15-03-1917. Fotografou pela primeira vez com uma máquina Zeiss que um amigo trouxera de São Paulo. Antes de abraçar essa profissão, foi auxiliar de balcão, comprador de algodão, mascate de tecido e chapéu.
O comerciante José Cacho já tinha dois caminhões, grande clientela e um futuro brilhante nesse ramo. O impaludismo, porém, deixou-o meses acamado. Teve sorte. Milhares de nordestinos morreram naquela epidemia. Quando voltou a vida normal, Cacho encontrou o seu comércio arrasado. As mercadorias imprestáveis.
Por esse tempo, morreu o seu pai. Amargurado por mais um golpe na sua vida e na família, Cacho vende a sobra do seu comércio em Baixa Verde e São Bento do Norte, e embarca, em 1939, para a cidade de Areia Branca, um dos maiores centros de produção e exportação de sal, do Rio Grande do Norte.
De Areia Branca, decide ir morar em Campina Grande, trazendo uma carta de apresentação para trabalhar no comércio da cidade. De nada valeu a carta. O jovem Cacho não sabia datilografar, por isso não foi contratado numa loja de ferragens.
Leica, a sua primeira máquina
De Campina Grande, José Cacho mudou-se para a Capital da Paraíba, onde durante meio ano é iniciado na fotografia pelo mesmo amigo que lhe apresentara a primeira máquina fotográfica em sua terra natal, então funcionário do Ministério do Trabalho.
Em 1939, Cacho conhece no Exército, onde fora regularizar a sua situação militar, uma pessoa que muito influenciou em sua vida. O francês Maurício Lebental, que lá fora atualizar o seu visto de permanência. Lebental simpatiza com ele e o convida para seu auxiliar de fotógrafo. Durante meio ano, viajaram juntos pelas capitais Fortaleza e São Luiz do Maranhão. Cacho aprendeu com esse fotógrafo o hábito de retratar as pessoas ao natural, em público.
A peregrinação deles apenas estava começando. Em seguida, viajaram ao Rio de Janeiro onde Cacho, de auxiliar, passa a trabalhar como fotógrafo profissional. Em 1940 eles estão nas ruas de Maceió, cidade onde o fotógrafo francês cai doente e retorna ao Rio de Janeiro, deixando como indenização para Cacho, uma câmara Leica, a sua primeira câmara.
Depois de separar-se do seu mestre Lebental, Cacho continuou a fotografar pelas ruas das capitais nordestinas. Estourou a segunda guerra mundial. Ele instalou-se no Recife, para ser, segundo ele, o fotógrafo preferido dos soldados norte-americanos que desembarcavam no porto do Recife.
A sua equipe batia cerca de mil retratos de rua por dia. Vendiam uma décima parte dessa produção, mas ainda assim obtinham lucros em razão do material fotográfico ser barato nesse tempo. Cacho tinha um modo particular de atrair a sua clientela de soldados estrangeiros: distribuía panfletos orientando sobre os pontos de diversão recifenses: casas comerciais, de diversão, bordéis, cujo mapa findava no seu próprio estúdio de fotografia.
Ao término da guerra, Cacho deixa a Capital pernambucana e vem morar de novo em João Pessoa onde funda o Foto Stúdio Cacho. Contudo ele não tem paciência de ficar preso a quatro paredes do estúdio. Vende-o a um irmão e retorna ao seu prazeroso ofício de fotografar mulheres bonitas, homens elegantes e passeios pelas ruas.
Em 1960 fundou outro estúdio em Campina Grande. De novo deixa-o sob responsabilidade de irmãos e vai retratar o povo chique campinense, sobretudo em passei na então luxuosa Rua Maciel Pinheiro. A sua equipe de trabalho: uns a fotografar nas ruas, outros a revelarem filmes, e outros na entrega dos retratos na calçada do estúdio, pessoalmente.
Cacho sempre foi um dos fotógrafos preferidos dos prefeitos campinenses nos anos 50, 60, 70. Documentou a visita do candidato Getúlio Vargas a Campina Grande, além da de Ademar de Barros, Café Filho, Lott, Juscelino, quer em João Pessoa, Natal ou no Recife. Ele cobriu ainda as visitas a Campina, do vice-presidente João Goulart, dos presidentes militares Costa e Silva, Médici, Geisel. Argemiro de Figueiredo, João Agripino, Ernani Sátiro, Ivan Bichara e outros políticos significativos do século 20 na Paraíba, foram retratados por Cacho.
Roosevelt e Vargas em sua lente
A exemplo da tradição antiga, as ilustres famílias campinenses tinham os seus fotógrafos preferidos. Cacho era um deles. Muito contribuiu para enriquecer os álbuns de retratos das famílias desta cidade, a exemplo da de Argemiro de Figueiredo, Malaquias do Ó, Raimundo Asfora, Elpídio de Almeida, Plínio Lemos, Petrônio de Figueiredo, Severino Cabral entre outras famílias.
Além de fotógrafo instantâneo, o homem que levou a fotografia para a rua, além das quatro paredes do estúdio, José Cacho também, filmava por esporte até profissionalmente. Ele ainda guardava cerca de seis horas de imagens, em filme na bitola de 16 milímetros. Recentemente todo esse acervo foi digitalizado sob patrocínio de um empresário campinense. O material ainda carente de uma análise do seu conteúdo geral, apresenta imagens de vida administrativa, política, social, cultural e até esportiva de Campina desde o final dos anos 50, durante os anos 60, com destaque para as comemorações do centenário da cidade, em 1964.
Quando Cacho mudou-se para o Recife, no auge da segunda guerra mundial, levava consigo sua câmara e a Bolex de 16 mm que comprara a Inácio Siqueira, um dos primeiros fotógrafos campinenses. Cacho monta estúdio de fotografia e filmagem na Rua da Imperatriz. Vai à luta para conquistar a clientela; milhares de pracinhas brasileiros, soldados norte-americanos que estavam no Recife na época da guerra. Ele chegou a fotografar e filmar Agamenon Magalhães, o presidente Roosevelt, dos Estados Unidos, Getúlio Vargas, de passagem pelo Recife.
Por Xico Nóbrega, publicado originalmente no Jornal "A União"
Quanto orgulho da história do meu vovô Cacho.
Meu avô que tanto amava tenho muita saudade não sabia que tinha está página falando sobre ele e a estória de Campina Grande
Meu avô que tanto amava tenho muita saudade não sabia que tinha está página falando sobre ele e a estória de Campina Grande
Grande homem, grande pai e grande sogro.
Lembro muito da família Cacho, que residia em frente a casa da minha família, em Campina Grande, na Rua Vigário Calixto, proximidades do Açude Velho. Era garoto, na década 50. Lembro de José Cacho, Agrício, Severino, Lindalva e Francisquinho e de Dona Guilhermina. Minha irmã mais velha, Gilda, era muita amiga de Lindalva.. Fui muito amigo das meninas, Zezé e Lulu. Tempos bons! - Gilson Souto Maior - jornalista.
Tenho uma foto de quando era criança e estudava no colégio das Neves, em João Pessoa… uma verdadeira relíquia. Na foto tem o nome JOSÉ CACHO…
Gostaria de colocar a foto… para as pessoas conhecerem a qualidade do trabalho de José Cacho