Tão logo a matéria do JPB foi exibida, na última sexta-feira, diversos campinenses já se reportava ao nosso e-mail parabenizando-nos e, alguns, já nos enviando matérias Históricas, de forma contributiva.
Desta feita, Eveline da Silva Medeiros, graduada em História, pela UEPB, desenvolveu em seu Trabalho Acadêmico Orientado uma monografia sobre a História do Bairro de Bodocongó.
Interessada com nosso propósito, nos enviou o resumo do seu TCC, ao qual publicamos a seguir:
Bodocongó: Águas que Queimam (1917-1967)
(por Eveline da Silva Medeiros)
Açude de Bodocongó nos Anos 50
Em meados da década de 40 do século XX, Campina Grande vive um grande avanço econômico pelo comercio de algodão, para essa cidade foram atraídos muitas pessoas que vieram em busca de um trabalho nas indústrias beneficiadoras de algodão, um processo imigratório pelo qual Campina Grande ainda não estava pronta para receber, bairros populares foram crescendo rapidamente, e a estrutura urbana caminhava devagar.
E é no convívio nas fábricas que se formam relações de afetividade, os operários na maioria morava perto de seu local de trabalho, o exemplo significativo foi à vila operária da Fábrica Têxtil de Bodocongó, mesmo havendo vínculo de parentesco entre essas pessoas, eles sabiam as regras, pois tinham ajudado a criar, eram proprietários de um modo de vida que fugia da lógica da elite. A polícia era o outro agressor que vinha quebrar a fraternidade que havia entre esses moradores que se conheciam e se solidarizavam nos momentos de dificuldades.
A abrangência que o ideário da modernização das cidades teve no Brasil levou cidades de todas as regiões buscarem aparelhos modernos que promovessem desenvolvimento. Campina Grande contou com fatores que permitiram o surgimento da cidade, que foi o seu posicionamento geográfico, que proporciona a realização das feiras para o abastecimento das cidades do interior do estado, do espetáculo das boiadas e seus vaqueiros que entravam na cidade atravessavam o centro e iam para as feiras de animais, deixando um caminho de fezes dos animais tornando-se alvo de reclamações dos moradores da urbe saneada não permite a existência de costumes tão provincianos na cidade moderna, onde as memórias são elitistas. Em obras de contemporâneos da reforma feita ainda no governo de Cristiano Lauritizen, onde as rotas dos vaqueiros foram modificadas, para o entorno da cidade transferindo a feira de animais para o entorno de Campina Grande, o que proporcionou uma melhor estrutura para a consolidação do centro comercial da cidade.
A cidade na época era abastecida pelas águas do açude velho, a água foi uma preocupação muito presente entre os campinenses, pois não havia nenhum reservatório natural, não tinha rios perenes nas proximidades da cidade, pois ela se localiza no planalto da Borborema. Nos jornais da época é comum encontrarmos apelos da população pedindo solução para o problema da falta de água.
O nome Bodocongó, é por alguns estudiosos de origem cariri, águas que queimam posteriormente os habitantes da cidade saberiam a razão de assim ser chamado o riacho que abasteceria a barragem futuramente, o teor de salinidade da água a tornou imprestável para o uso humano, mas proporcionou o uso em outras atividades, que futuramente fariam da localidade na época comunidade rural, e que em meados de 1950 um bairro industrial.
Campina Grande nesse período tinha grande movimento devido a sua feira, com importância regional, lugar onde circulava muito dinheiro na época e também por oferecer aos clientes da feira divertimento nas casas de prostituição que existiam na cidade. Na feira também era local de informação para os freqüentadores, onde a cultura oral feita através da proclamação de cordéis em via pública e de conversas entre conhecidos era uma forma de se manter bem informado sobre o que estava acontecendo na política e no mundo. E de maneira encantadora perceber as interpretações do homem comum a região, agricultor que aqui chegava para vender seus produtos, compreendia as mudanças do início do século XX.
Estudos foram feitos para a construção da barragem houve uma primeira tentativa nas proximidades da Serra da Catarina para alcançar as águas do riacho de Bodocongó, mas por problemas do solo, e até mesmo econômicos, pois o local escolhido era muito longe da cidade e os gastos para levar as águas até a cidade seriam muito altos teria que ser construída uma caixa de água entre outras medidas, já que o orçamento federal destinado a obras de contenção aos efeitos da seca não destinava grandes recursos para a obra e a obra não pode ser concluída.
A construção se desenvolveu foi na localidade chamada de Ramada, e que logo depois ficaria bem acessível seria com uma estrada que ligaria a cidade de Campina Grande ao interior do estado, cariri e sertão. A rodovia Solidade, porta de entrada para a cidade para produtos e migrantes vindos do interior, Sertão e Cariri, o que proporcionou a localidade desenvolvimento, através da estrutura como água e viabilidade de acesso permitiram que as pessoas que chegavam se refugiassem nas proximidades do açude, as fábricas começaram a se instalar nas margens da barragem de Bodocongó.
Bodocongó propiciava lazer aos campinenses, onde as pessoas buscavam divertimentos, os mais diversos possíveis, que iam desde banhos inocentes para fugir do calor, até encontros com prostitutas em suas margens.
A Fábrica de tecidos de Bodocongó trouxe notoriedade ao bairro, já que naquela época a industrialização ainda estava no início na cidade, e a fábrica têxtil empregava muitos trabalhadores e movimentava uma considerável quantia de dinheiro no bairro.
O açude de Bodocongó era para as comunidades rurais próximas, fonte de sobrevivência, em relatos de antigos moradores podemos encontrar memórias de uma época que as águas do açude eram matéria prima para as lavadeiras serviam de fonte de abastecimento para usos domésticos e de limpeza pessoal.
Na década de quarenta Bodocongó era formado por quatro ruas, Aprígio Veloso, Rua do Meio, rua Portugal e a Carlos Alberto. Tendo como o centro a Fábrica e o açude. As ruas eram rodeadas por fazendas que resistiram até meados dos anos setenta, graças às águas do açude para a manutenção dos serviços rurais. A família Veloso teve papel fundamental na implantação dos equipamentos modernizantes que trariam desenvolvimento educacional, comercial e cultural, a doação de um terreno para um campo de futebol de uso da comunidade, lazer aos fins de semana para os operários.
Os eventos em que a comunidade se organizava, eram quermesses, cachimbos (distribuição de licor quando nascia uma criança), pastoril que acontecia durante o mês de Janeiro em comemoração ao nascimento do menino Jesus, em visitas aos presépios com muita música. Nas festas de ano novo, eram distribuídos queijos e doces entre os moradores, para o lazer dos habitantes da localidade eram organizadas pescarias nos açudes da região e principalmente no Açude de Bodocongó. Na Semana Santa a festa ficava localizada no Matadouro Municipal, na matança, pois durante uma semana os católicos só comem carne branca e no sábado a festa da matança de bois para a festa do sábado de aleluia e do domingo de páscoa, essas festas eram abastecidas com muita aguardente. O bairro também vivenciou parte da História Política da Paraíba, 30 Perepistas, se preparou para a ameaça de incendiar a fábrica, essa ameaça ocorreu porque os donos da fabrica eram Perepistas e sentiam a ameaça de ataque, com rifles em punho José Palhano; Idelfonço Soares, na época proprietários da Têxtil, entre outros participaram desse cerco a fábrica. Mas em 1933 a Indústria foi vendida ao senhor Aprígio Veloso que vem do Recife, aposentado do Banco do Comércio, compra a fábrica e entrega aos seus filhos Agostinho Veloso e Ademar Veloso.
Por volta da década de 50 o açude de Bodocongó abrigou nas suas margens o Clube Aquático, marco vivo na memória dos habitantes da comunidade, ponto de encontro da elite campinense, nos fins de semana as pessoas se reuniam para se divertirem em suas águas ou em barcos que cruzavam o açude, além dos famosos bailes que movimentavam a cidade, com orquestras vindas até do Recife.
O movimento estudantil no bairro foi muito intenso entre as décadas de 50 e 60, com as mudanças que aconteciam em todo o mundo onde uma nova cultura estava em vigor os jovens também queriam expressar seus pensamentos e atitudes
Os jovens do bairro se mobilizam e formam uma nova associação a AESB (Associação dos Estudantes Secundaristas de Bodocongó) a associação era formada principalmente por estudantes do Estadual da Prata, mas também tinham estudantes de outras escolas, mas em menor quantidade e também estudantes universitários, esses universitários formavam a administração da AESB.
Curtume Antonio Villarim, Ano 1957
A Igreja católica também participou desse movimento juvenil que foi o Clube de Cultura, os missionários Redentoristas ministravam aulas aos jovens da comunidade e também podemos encontrar a presença da Juventude Operária Católica que era um movimento de esquerda, nos anos 60.
Nada mais emblemático do bairro que o som do apito da Indústria Têxtil, ele foi feito pelos operários da fábrica, mestres formados na prática da atividade diária exercida na Têxtil. Seu som despertou os moradores do bairro por mais de meio século, 06h00min da manhã, despertando o bairro para o novo dia, crianças acordando para ir à escola, donas de casa para a realização de suas responsabilidades e aos operários anunciando o horário de entrada no trabalho, 14h00min horas da tarde simbolizando o início de uma nova turma de trabalho, marcando a tarde e dando uma orientação de tempo aos habitantes da localidade. e 22h00min horas da noite marcando a noite e seu último horário de movimento na rua.
Lamento muito quando vejo a história da cidade morrer e lhe restas apenas as imagens para contar a história, esse blog é de utilidade pública!!!
Olá, pessoal! Gostaria de saber o ano de conclusão desse trabalho acadêmico, bem como o nome do mesmo.
Por favor, se tiverem essas informações, postem aqui!
Desde já, agradeço!
O curtume Villarim funcionou em Campina Grande por muitos anos, chegando a empregar nesse período quase 100 funcionários na Cidade. Por má administração e com uma grande crise financeira, problemas de bancos e tambem com a desativação do matadouro municial, na década de 80, o estabelecimento entrou em fase de decadência, uma vez que dependia da matéria-prima de outras cidades e dinheiro de capital de giro, acabou sendo fechado pelos proprietários.
O antigo curtume foi considerado um dos melhores curtumes em peles de caprinos do Brasil. Nesta foto antiga mostra o imóvel com a imponência do tempo em que abrigava o curtume, com a vantagem de não mais exalar o desagradável odor do couro em curtição. Mas o tempo urge. A grande estrutura foi demolidas por vandalos e ficou por alguns tempo só as ruinas.
O curtume Villarim funcionou em Campina Grande por muitos anos, chegando a empregar nesse período quase 100 funcionários na Cidade. Por má administração e com uma grande crise financeira, problemas de bancos e tambem com a desativação do matadouro municial, na década de 80, o estabelecimento entrou em fase de decadência, uma vez que dependia da matéria-prima de outras cidades e dinheiro de capital de giro, acabou sendo fechado pelos proprietários.
O antigo curtume foi considerado um dos melhores curtumes em peles de caprinos do Brasil. Nesta foto antiga mostra o imóvel com a imponência do tempo em que abrigava o curtume, com a vantagem de não mais exalar o desagradável odor do couro em curtição. Mas o tempo urge. A grande estrutura foi demolidas por vandalos e ficou por alguns tempo só as ruinas.
Jobedis Magno de Brito Neves
O curtume Villarim funcionou em Campina Grande por muitos anos, chegando a empregar nesse período quase 100 funcionários na Cidade. Por má administração e com uma grande crise financeira, problemas de bancos e tambem com a desativação do matadouro municial, na década de 80, o estabelecimento entrou em fase de decadência, uma vez que dependia da matéria-prima de outras cidades e dinheiro de capital de giro, acabou sendo fechado pelos proprietários.
O antigo curtume foi considerado um dos melhores curtumes em peles de caprinos do Brasil. Nesta foto antiga mostra o imóvel com a imponência do tempo em que abrigava o curtume, com a vantagem de não mais exalar o desagradável odor do couro em curtição. Mas o tempo urge. A grande estrutura foi demolidas por vandalos e ficou por alguns tempo só as ruinas.
Jobedis Magno de brito Neves
PORQUE CHAMA-SE RUA DO MEIO EM BODOCONGÓ? POR FACOR ME AJUDEM
OLHA PESSOAL GOSTARIA DE SABER PORQUE
A RUA DO MEIO TINHA ESSE NOME? HOJE CHAMA-SE RUA PROF. JOAO RODRIGUES , EM BODOCONGÓ. GOSTARIA DE SABER, PORQUE FOI NESSA RUA QUE PASSEI TODA MINHA INFANCIA. FICAREI GRATO A TODOS
ATT
ANDERSON
Nossa! moro em bodocongó desde que nasci e não imaginava os motivos que ergueram o bairro. Senti falta de comentários sobre a refinaria de óleos que ainda funciona no bairro. Essa refinaria gerou muitos empregos e produziu bastante.
Interessante trabalho!
OLHA NESSE MEU TRABALHO NÃO FALO SOBRE A REFINARIA POR ELA NÃO ESTÁ NA TEMPORALIDADE PESQUISADA MAS FUTURAMENTE NOVAS PESQUISAS SOBRE BODOCONGÓ ESTAREI PUBLICANDO.
Escrevi um artigo intitulado "A tal “urbanização” do açude de Bodocongó" para ajudar no debate (ou na falta dele!!!). Há muita "divulgação" de um projeto concretista e pouca ou nenhuma ação com relação a revitalização do Açude de Bodocongó ... enquanto isto vai se transformando num penico como o Açude Velho ou tenderá a desaparecer como o Açude Novo que foi aterrado ... quem se interessar em ler o artigo completo acesse nosso blog Memórias de um ambientalista ... http://ramiromanoel.blogspot.com.br/2012/11/a-tal-urbanizacao-do-acude-de-bodocongo.html#more ... Finalizo o texto dizengo: "Por que não fazer o correto? Por que não cumprir a lei ambiental? Por que não tratar os esgotos antes de voltar aos nossos rios, açudes e riachos, já que pagamos mensalmente a taxa para tratamento de esgoto a Companhia de Águas e Esgotos do Estado da Paraíba – CAGEPA? Por que não recuperar a mata ciliar do açude de Bodocongó? Por que cometer os mesmos erros do açude velho e do açude novo (que foi aterrado!)?"
"Se este projeto concretista for efetivado, iremos testemunhar mais uma vez a agressão a Lei Ambiental do Brasil, a mutilação de mais um importante açude no semiárido, o descaso com a cidade de Campina Grande, a falta de sensibilidade para utilização do meio ambiente em favor da saúde e lazer da população, só nos resta cantar a letra da música de Humberto Teixeira e Cícero Nunes … “Eu fui feliz lá no Bodocongó. Com meu barquinho de um remo só. Quando era lua. Com meu bem. Remava à toa. Ai ai ai que coisa boa. Lá no meu Bodocongó ...”
Um abraço a tod@s,
Ramiro Manoel Pinto Gomes Pereira
ambientalista, professor, pesquisador, doutor em Recursos Naturais
ANOS 40, não existia à rua Carlos Alberto.
Muito legal poder ver o meu passado em Bodocongo. Arle
Morei em bodocongó e lembro da casa dos padres, perto do redentorista, onde a gente fazia tijolos para construirmos as casa. Uma granja que tinha muitos pintinhos, eu era bem criança, meu irmão de 6 anos foi atropelado na frente da igreja de bodocongó, meu irmão trabalhou na "Sobatida" esquina da igreja, eu estudei no Santa Rita de Cássia com bolsa, meus irmão trabalhavam na textil, tinha um parquinho que vinha no mes da festa da santa, e era aberta a textil para vizitação, pois nossa senhora aparecida tinha um cantinho nessa fabrica de algodão, as Pastorinhas do cordão azul e incarnado era a coisa mais linda! dava muita gente pra assistir. naquele palanque que ficava na frente da igreja quebrei meu braço la. Meu pai é seu Abbel, e minha mãe dona Geralda, rezadeira.