Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
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A resistência das Borboletas Azuis Seita criada em 1980 em Campina Grande, que previu o fim do mundo, conta apenas com duas seguidoras

Por Severino Lopes // severinolopes.pb@dabr.com.br 

Quem chega na Casa de Caridade Jesus no Horto, localizada na rua Santa Rita, no bairro do Quarenta em Campina Grande, logo sente um clima diferente. O local é místico. As imagens de santos espalhadas por todos os cômodos remetem aos tempos em que o ambiente ficava lotado com os encontros da seita Borboletas Azuis, fundada em 1980 pelo líder religioso Roldão Mangueira de Figueiredo que pregava o fim do mundo e a extinção da raça humana por meio de um dilúvio. A seita, que já chegou a contar com 74 participantes, hoje tem apenas duas seguidoras. Elas insistem em manter os ensinamentos propagados pelo fundador.

Maria Tereza prefere se manter distante da vida moderna e
vive sozinha no antigo templo, no bairro do Quarenta Foto:Junot Lacet/DB/D.A Press

Os bancos de madeiras estão empoeirados e as cores azul e branca ainda predominam. Construída em um terreno adquirido por Roldão Mangueira, a casa abriga as duas únicas seguidoras dos Borboletas Azuis. Uma delas, Maria Tereza vive enclausurada no local. A outra, Helena Fernandes, só aparece alguns dias na semana.

Mais de 30 anos após a morte do líder, as duas senhoras preservam a doutrina deixada por Roldão. A irmã Maria Tereza, como ela gosta de ser chamada, tenta fugir da agitação da vida moderna se isolando no templo erguido pelo líder da seita. A mulher que peregrinou pelas ruas de Campina Grande e cidades circunvizinhas, com os pés descalços, leva uma vida simples. O confinamento não lhe deixa triste. Mesmo morando sozinha, ela garante que não é prisioneira da solidão. Se sente feliz. Protegida por seus santos que tanto venera. Os sinais de religiosidade aliás, são fortes no ambiente.

Costumes

Vestida com uma batina azul e manto branco na cabeça, um crucifixo colado na roupa e um cordão apertando o corpo, Maria Tereza leva uma vida dedicada à oração. Seguindo a rigor, as normas de Roldão Mangueira, a aposentada dedica todas as horas do dia a uma vida de contemplação e total desapego aos bens materiais. Na casa, não existem televisão, rádio, aparelho celular nem muito menos computador. Os bens materiais, segundo entende a aposentada, poderiam escravizar o homem e afastá-lo do paraíso. "Se eu pudesse não tinha água encanada nem usava luz elétrica", lamenta Maria Tereza.

As marcas da vida simples estão em toda parte da casa. Começando pela roupa de Maria Tereza, gasta pela ação do tempo. Ela preserva o mesmo costume da época em que os Borboletas Azuis, atravessavam a cidade a pé e não resiste ao hábito insubstituível de andar sempre com os pés descalços. Apesar dos cabelos brancos, e das marcas de rugas no rosto, ela demonstra não ter notado, que o tempo passou.

Desapego aos bens materiais faz parte

A aposentada Maria Tereza nasceu em Brejo de Areia (MA) e escolheu Campina Grande para viver. Ela conta que passa a maior parte do dia rezando. Acorda cedo com a cidade ainda às escuras, e logo agarra o terço, entra no templo e começa a rezar sozinha. Sua prece é silenciosa. Todos os dias, ela está alí, em pé ou de joelho para professar sua crença. Os benditos são cantados baixinho. Algumas noites, Maria Tereza conta com a companhia de Helena Fernandes, 71, outra remanescente dos Borboletas Azuis. As duas só se encontram para orar, alimentar a fé e recordar os anos em que andaram de um canto para outro de Campina Grande pregando o fim dos tempos.

A irmã Maria Tereza usa o dinheiro de sua aposentadoria para manter a casa e se alimentar. Ela diz que leva uma vida normal e faz as tarefas de casa como qualquer pessoa, mas à noite "ora e espera o Senhor". Helena Fernandes que mora no bairro das Malvinas, comunga com a irmã. Elas atribuem às forças do mau à saída dos integrantes da casa e dizem que mesmo com o passar do tempo as pessoas ainda hoje costumam fazer piadas e comentários maliciosos por conta de suas vestimentas.

Ali, no meio da agitada Campina Grande, ela se refugia sempre procurando levar a vida de simplicidade imposta por Roldão Mangueira. Mesmo com a idade avançada e andando com dificuldade, a aposentada cozinha a sua própria comida e lava as poucas roupas que tem. Ela não reclama, e garante que come de tudo, menos carne, que seria o alimento responsável por introduzir o mau no corpo humano, e café que no seu entendimento, representa os vícios da terra. Em termos de trabalho ela afirma que os melhores e mais corretos são os ligados diretamente à terra como a agricultura. Por isso cultiva uma horta no local.

Catolicismo

Registro de 1980 (Acervo Revista Veja)
Embora não tenha apoio da Igreja Católica, a Casa de Caridade Jesus no Horto, onde Maria Tereza vive há mais de 30 anos, conserva aspectos típicos do catolicismo. O local foi erguido no formato de uma capela com imagens de santos espalhados por todas as partes e uma foto de Roldão Mangueira na parede. Os bancos empoeirados, sempre vazios, revelam os sinais de abandono.

Poucas são as pessoas que procuram o local e quando isso acontece é por pura curiosidade ou para pedir ajuda. "Esse local é sagrado e ninguém vai conseguir nos tirar daqui, pois Deus tem um propósito para esta casa e o mundo ainda vai saber que nós estamos certas", comenta a seguidora Maria Tereza.

Na casa que no passado funcionou como templo dos Borboletas Azuis, não existe qualquer sinal da vida modernidade. O espaço parece ter ficado preso no passado, mesmo estando localizado em uma das áreas urbanas de Campina Grande.

Esperança de um novo líder na seita

Pouco mais de 30 anos após o aparecimento dos Borboletas Azuis, as duas últimas remanescentes da seita ainda seguem o doutrinamento religioso deixado por Roldão Mangueira, e esperam pelo aparecimento de um novo líder.

Quase todas as noites as aposentadas Maria Tereza e Helena Fernandes se encontram para orar e confirmar sua fé, e dizem que ainda esperam o surgimento de um novo líder religioso.

Hoje as duas seguidoras ainda mantêm a fé e acreditam que Deus vai mostrar um novo líder para em breve e que a "casa ficará tão cheia que não terá espaço para abrigar a todos".

A exemplo do líder Roldão Mangueira, Maria Tereza acredita que o fim dos tempos está próximo. Ela só não arrisca a dizer se o mundo irá acabar com água como fez Roldão e como revela o filme 2012. "Esse calor forte é sinal dos fins dos tempos". Na conversa, falou da Bíblia, e disse que os homens precisam de Deus.

Memória Fotográfica:

1980 (Revista Veja)
1989 (Revista Veja)


Fontes Utilizadas:

-Texto integral publicado em http://www.diariodaborborema.com.br/2010/03/28/cotidiano1_2.php
-Fotos do Acervo da Revista Veja

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