O telégrafo na Parahyba oferecia um serviço precário e irregular, limitando-se a algumas poucas cidades. Coube ao Governador Álvaro Lopes Machado (1892/1896) estabelecer o prolongamento das linhas no Estado, e dentre estas a da florescente Campina que na época despontava como sendo um importante empório comercial.
Para o funcionamento da estação foi destinado o prédio da antiga Cadeia Pública, construído em 1812. O edifício situado à Praça Municipal, s/n, foi doado à “Repartição Geral dos Telegraphos” pelo subprefeito em exercício, Capitão João Lourenço Porto, com o aval do Conselho Municipal da época, conforme documento oficial a seguir transcrito:
“Primeiro translado. Escriptura de doação que faz o Sub-prefeito d’esta cidade, autorisado pelo respectivo Conselho Municipal. Saibam quantos este público instrumento de escriptura de doação virem, que sendo no anno de mil oitocentos e noventa e cinco, aos vinte e seis dias do mez de Setembro do dito anno, n’esta cidade da comarca de Campina Grande, do Estado da Parahyba do Norte, em meu cartório, compareceram de uma parte, como doador, o capitão João Lourenço da Silva Porto, sub-prefeito desta cidade, e de outra parte, como donatário, o Dr. José Joaquim de Oliveira, Inspetor de primeira classe e encarregado das linhas telegraphicas deste Estado, pessoas reconhecidas por mim tabellião e das testemunhas abaixo assignadas pelos próprios, de que dou fé, e pelo doador supra declarado foi dito em presença das mesmas testemunhas, que pela prezente
escriptura, em nome do Conselho Municipal, e por elle autorisado resolve doar a Repartição Geral dos Telegraphos com o prédio sem numero, sito à Praça Municipal desta cidade, que estima no valor de um conto de réis, a fim de servir de Estação telegraphica, transferindo irrevogavelmente toda a posse, jus, acção, domínio e servidão activa, que o mesmo Conselho Municipal exercia em dito prédio, para que a donataria possa considerar como seu que fica sendo desta d’ora em deante. E passei a prezente escriptura, que depois de lhe ser por mim lida, assignaram com as testemunhas prezentes. Bento Gomes Pereira Luna - Raymundo Nonato Tavares Candéas dou fé. Eu, Manoel Tavares de Mello Cavalcante, tabellião publico o escrevi (assignados) João Lourenço da Silva Porto, José Joaquim de Oliveira, Bento Gomes Pereira Luna, Raymundo Nonato Tavares Candéas, conforme as minhas notas, dou fé. Campina Grande, em 26 de setembro de 1895. Em testemunho da verdade (signal), O Tabellião Publico Manoel Tavares de Mello Cavalcante e Feitor Elyseu Cezar. Confere. O Inspector João Casado de Almeida e Nobre. Visto. Oliveira.
O ato inaugural solene aconteceu no dia 15 de janeiro de 1896. A cidade agradecida compareceu à estação para aguardar o telegrama inaugural que o Governador do Estado dirigia da Capital ao Conselho Municipal campinense:
“Inaugurando-se hoje linha telegraphica, que põe esta bella cidade em communicação rápida com esta capital e com os pontos do nosso Brazil, onde já chegou essa conquista do progresso, experimento vivo sentimento de alegria por ver coroado de bom êxito esforços do Governo do Estado na realisação de tão grande melhoramento,
pelo qual apresento meus sinceros parabens ao povo campinense, representado por essa illustre corporação – ALVARO MACHADO”.
A leitura da epístola telegráfica se deu pelo acadêmico Elyseu Cezar, seguindo-se a uma girândola de fogos. Foram ainda recebidos alguns telegramas de júbilo pelo Inspetor José Joaquim de Oliveira, dirigidos ao Juiz Municipal, Dr. Bento Vianna, e ao encarregado da estação, felicitando-o pelo bom desempenho do serviço que foi encarregado. Em seguida, o Dr. Oliveira declarou que todos os cidadãos presentes poderiam enviar mensagens, contanto que fossem resumidas. E em curto espaço de tempo, foram entregues quarenta autógrafos ao pé do telegrama do Conselho Municipal, congratulando o digno governador pelo relevante serviço prestado aquela comuna.
“Os ditos authographos constavam de felicitações ao Governo, à Imprensa do Paiz e ao commercio, terminando tudo na melhor ordem” (O Campinense: jan/1896).
O encarregado da Estação, Sr. José J. de Oliveira, prontamente respondeu à mensagem do governador:
“Campina Grande, 15. – Exm. Dr. Alvaro Machado – Acha-se inaugurada estação telegraphica Campina Grande à V. Exc. sinceras saudações por mais este importante melhoramento filho administração V. Exc. – OLIVEIRA”.
Na mesma oportunidade, foram enviados diversos telegramas pela sociedade campinense:
“Campina Grande, 15. – Exm. Presidente Estado – Felicito V. Exc. pela inauguração linha telegraphica
cidade, melhoramento que devemos esforços V. Exc. – JOÃO PORTO – Sub-prefeito”
“Campina Grande, 16. – Dr. Alvaro Machado – Accusando recepção vosso telegramma, Conselho Municipal, cheio imensa satisfação, retribue vossas saudações, felicitando povo Parahybano por ter administrador ilustre e honesto, que acima interesses pessoais soube collocar as causas publicas. Estação telegraphica inaugurada mais vivo enthusiasmo popular, honra vosso patriótico e sábio governo, digno gratidão povo Parahybano. Saudações – João Barbosa S. Figueiredo – João Lourenço – Balthasar Luna – José Teixeira – Neponuceno”.
“Campina Grande, 16. – Dr. Alvaro Machado, Presidente Estado. – Hoje, pelo grande melhoramento conquistado para Campina por vosso governo, felicito V. Exc. – Alferes MORAES”.
“Campina Grande, 16. – Exm.Dr. Alvaro Mahcado – Saudações – Felicito-vos pela inauguração desta estação, mais um melhoramento em vosso prospero estado. As vossas ordens – TEIXEIRA FILHO – Encarregado”.
“Campina Grande, 16. Exm. Sr. Dr. Alvaro Lopes Machado – Em vosso nome fellicitei habitantes comarca que gratos melhoramentos com que adoptaste, applaudem vossa patriótica administração – Saudações – Bento Vianna – juiz de Direito”.
Campina Grande, 16. Exm. Presidente Estado – Campina Grande congratula-se Governo V. Exc. pela inauguração
telegrapho – Parabens – Aristides Villar – Professor publico”.
Naquele ano de 1896 foi solicitado o prolongamento das linhas telegráficas de Campina à Batalhão, pelo Deputado Congressista Coêlho Lisboa. Todavia, este progresso teria vida efêmera. Campina, assim como Alagoa Grande, Bananeiras e Serraria viram de repente seus telégrafos substituídos por estações telefônicas.
Referência:
- A UNIÃO, Jornal. Ano III, Nº. 645. Edição de 08 de outubro. Parahyba do Norte: 1895.
- A UNIÃO, Jornal. Ano IV, Nº. 930. Edições de 01 de novembro. Parahyba do Norte: 1896.
- A UNIÃO, Jornal. Ano IV, Nºs. 717, 718, 721 e 727. Edições de 17, 18, 21 e 29 de janeiro. Parahyba do Norte: 1896.
- DEPUTADOS, Câmara Federal. Congresso Nacional. Sessão de 05 de outubro. Rio de Janeiro/RJ: 1896.
- PARLAMENTO BRAZILEIRO, Annaes do. Volume VI. Câmara dos Deputados. Rio de Janeiro: 1897.
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