Recebemos da colaboradora Mônica Torres emocionado email:
“De volta no tempo, cujo transporte exige apenas pequeno passe, ora de saudade, ora de curiosidade, adentro ávida portões como a entrevista de Mário Araújo sobre a "Chacina da Praça da Bandeira" em 1950.
Entre um café e uma torrada, divago pela conversa com minha mãe no final de tarde, a conhecer detalhes contemporâneos à época ainda áurea do algodão, cujo tecido outrora colorido e agora sépia, também teve seus retalhos puídos, rasgados e dias nada gloriosos.
No então outubro de 1951, onde políticos tinham sua importância ostentada nos ternos brancos de diagonal e o farfalhar das saias das senhoras eram música misturada às audições da rádio Borborema, também vivia a louca "Rainha Joana", tão bem desenhada aqui, pelo escritor Cristino Pimentel em seu livro de crônicas ‘Pedaços da História de Campina Grande’ publicado em 1958 pela Livraria Pedrosa”.
Na Íntegra:
“De volta no tempo, cujo transporte exige apenas pequeno passe, ora de saudade, ora de curiosidade, adentro ávida portões como a entrevista de Mário Araújo sobre a "Chacina da Praça da Bandeira" em 1950.
Entre um café e uma torrada, divago pela conversa com minha mãe no final de tarde, a conhecer detalhes contemporâneos à época ainda áurea do algodão, cujo tecido outrora colorido e agora sépia, também teve seus retalhos puídos, rasgados e dias nada gloriosos.
No então outubro de 1951, onde políticos tinham sua importância ostentada nos ternos brancos de diagonal e o farfalhar das saias das senhoras eram música misturada às audições da rádio Borborema, também vivia a louca "Rainha Joana", tão bem desenhada aqui, pelo escritor Cristino Pimentel em seu livro de crônicas ‘Pedaços da História de Campina Grande’ publicado em 1958 pela Livraria Pedrosa”.
Na Íntegra:
"Por muito tempo presenciamos um caso de abandono que angustiou o nosso coração: o da Rainha Joana... Vemo-la sempre pelas ruas da cidade, deixando ver que foi bonita, que sonhou com um noivo no verdor da mocidade, que só encontrou os espinhos da desilusão e, por fim, o terrível mal que lhe tirou o juízo... Estira a mão em súplica para o que comer. Dorme pelos terraços escuros, aonde chega sutil qual cão furtivo e de onde é expulsa às vezes quando o céu vai se dourando com os raios da madrugada. E a infeliz deixa o pouso arranjado na hora do silêncio da noite, como uma proscrita.
Houve um tempo em que Joana pensou em casar... Seu amor, porém, foi um amor impossível, apaixonou-se por um moço rico e de linhagem, que lhe afagava os sonhos, amor inatingível, mais inatingível do que o de Juca Mulato, do poema de Menotti.
Seu sonho foi um pesadelo que lhe trouxe fraqueza mental. Hoje velha, anda louca, a dizer que é rainha e vai casar de rei. As suas vestes são mantos de ouro. Toda Campina Grande lhe pertence e são suas todas as lojas. Tem palácios e bonitas igrejas.
Com toda loucura, Joana canta modinhas do tempo de moça e recita quadrinhas que recordam as folhas murchas do seu coração e do seu passado de moça cortejada... Canta as marchas carnavalescas dos clubes do seu tempo de jovem: Regador, Cana verde, Caiadores, Chaleiras e Beija Flor. Recita com gestos engraçados as quadrinhas que trás na memória:
Minha açucena adorada,
És a flor que mais venero;
Vejo o sol e vejo a lua,
E vejo o bem que te quero.
Alvíçaras, meu pensamento,
Cá chegou o meu amado,
Pra maior contentamento
Chegou sem ser esperado..."
Campina Grande, Outubro de 1951. (Cristino Pimentel)
Houve um tempo em que Joana pensou em casar... Seu amor, porém, foi um amor impossível, apaixonou-se por um moço rico e de linhagem, que lhe afagava os sonhos, amor inatingível, mais inatingível do que o de Juca Mulato, do poema de Menotti.
Seu sonho foi um pesadelo que lhe trouxe fraqueza mental. Hoje velha, anda louca, a dizer que é rainha e vai casar de rei. As suas vestes são mantos de ouro. Toda Campina Grande lhe pertence e são suas todas as lojas. Tem palácios e bonitas igrejas.
Com toda loucura, Joana canta modinhas do tempo de moça e recita quadrinhas que recordam as folhas murchas do seu coração e do seu passado de moça cortejada... Canta as marchas carnavalescas dos clubes do seu tempo de jovem: Regador, Cana verde, Caiadores, Chaleiras e Beija Flor. Recita com gestos engraçados as quadrinhas que trás na memória:
Minha açucena adorada,
És a flor que mais venero;
Vejo o sol e vejo a lua,
E vejo o bem que te quero.
Alvíçaras, meu pensamento,
Cá chegou o meu amado,
Pra maior contentamento
Chegou sem ser esperado..."
Campina Grande, Outubro de 1951. (Cristino Pimentel)
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Agradecemos a Mônica Torres, mais esta colaboração sobre o curioso passado campinense.
Simplesmente espetacular!
Este comentário foi removido pelo autor.
Maravilha! Gostaria de saber mais sobre ela. Quem sabe se não faria um cordel?!