Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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Por Saulo Araújo


Antonio de Oliveira Bezerra Cavalcanti
Antonio de Oliveira Bezerra Cavalcanti, o “Professor Oliveira”, lecionou em diversos educandários campinenses como o Colégio Pio XI (1935 a 1956); Colégio Imaculada Conceição (1935 a 1956); Colégio Alfredo Dantas (1943 a 1956); Escola Técnica de Comércio; Estadual da Prata (1953 a 1957).  

Apresentamos um pouco de sua história e personalidade, por meio de depoimentos e citações de vários dos seus ex-alunos.

Como nos conta o professor William Tejo, 1971: 
Professor Oliveira, exemplo admirável, conduta irrepreensível, honestidade a toda prova. A maior reserva moral de nossa cidade. Com o seu andar vagaroso e gestos mansos, na classe, transformava-se. Era um didata inato. 

E quando um aluno malandrava, tirando notas baixas, lá vinha o mestre Oliveira, fala mansa, escandindo bem as sílabas: "Seu moço, você deve comprar aquele livrinho que custa quinhentos réis." Puxava uma moeda do bolso, mostrando-a ao estudante relapso: "Isso é pra ajudar!" O livrinho era a tabuada. O aluno criava vergonha e terminava nos eixos. Nunca, em minha vida de magistério, encontrei um aluno com raiva do professor Oliveira. E foram centenas. 

Raymundo Asfora relata: 
Foi meu mestre e meu amigo, desde os dias da adolescência. Ainda recordo o seu puro olhar e a sua palavra ungida de magnetismo e sinceridade, indagando-me: "você não tem pena do suor de seu pai?". Essa interpelação severa, feita em plena aula, foi decisiva para a orientação dos meus estudos e da minha vida.

Foto com o Professor Loureiro

"O heroico professor Oliveira é assim: muita força moral, numa serenidade impressionante. Seus alunos dizem que nunca elevou a voz. Todos os respeitam e o admiram, pois sua vida é um livro aberto. Você, professor Oliveira, com essa sua calma imperturbável, com essa bondade que a gente encontra até no caminhar porque o senhor caminha como se estivesse agradecendo à terra a segurança dos seus passos e como se estivesse a pedir desculpas por estar usando-a para suas caminhadas".  (Ramalho Filho, 1957)

Antonio de Oliveira nasceu na cidade paraibana de Bananeiras, no dia 16 de setembro de 1886. Filho de Tertuliano Bezerra Cavalcanti e Maria Amélia Bezerra Cavalcanti (nome de solteira: Ferreira Grilo). Estudou em Serraria com o professor Francisco Falcão e ali mesmo deu sua primeira aula em 1905. Depois, em Bananeiras e Guarabira. Casou-se com Maria Anunciada Leite Ramalho, ainda em Bananeiras, em 1925. 

Autodidata, estudava sozinho e, contra adversidades financeiras, prestava exames no Liceu Paraibano na capital João Pessoa. Assim licenciou-se em Física, Matemática, Francês, Inglês, Português e História. No ano de 1935, fixa residência na cidade de Campina Grande, e a partir desse momento passa a lecionar em quase todos os colégios da cidade. Seu sonho era formar-se em Medicina. Chegou a tratar muitas pessoas com homeopatia e hidroterapia. Recebeu diversas homenagens, entre elas o título de Cidadão Campinense em 1964. Faleceu no dia 04 de agosto de 1971, próximo de completar 85 anos.

Foto de homenagem. Na mesa, da esquerda para direita:
Prof. Gadelha, Prof. Loureiro, Prof. Oliveira, Padre Odilon Pedrosa e Padre Emídio Correia.
Foto de jantar oferecido pelos professores, ex-alunos e amigos,
pelo transcurso do seu 70
º aniversário, em 17/10/1956

Alguns de seus alunos foram: Petrônio Figueiredo, Félix Araujo, Raymundo Asfora, Amauri Vasconcelos, Ademar Borges, Everaldo Agra, Airton Queiroga, William Tejo, Mário Carneiro, Antonio Lucena, Salvino e Nilton Figueiredo, Evaldo Gonçalves e Luiz Bronzeado.

Testemunhos: 

Elizabeth Marinheiro: “Competência, mansidão e ética, seus atributos naturais. Recordo-o com orgulho. Sua esmerada educação; suas dóceis repreensões; seu olhar reflexivo; seu caminhar semelhante ao 'passo fofo do gato'; seu saber tão simples quanto vasto".

Raymundo Asfora:  "Era um sábio. Um inesgotável tesouro de grandeza espiritual e dignidade humana. Franzino, muito franzino, de pálida tez morena, cabelos finíssimos, e moderação no falar e no agir, era um expoente da vida educacional campinense. Aprendera sozinho, por uma pré-destinação do talento. Lecionava por vocação, mas também para ganhar a vida”. 

Celso Pereira: "Meigo e terno, fazendo com que a Matemática não se tornasse tão austera”. 

Epitácio Soares: "Numa tábua de classificação ele estaria entre os sábios e santos".

Abaixo, foto da turma de concluintes de 1949 do Ginásio Alfredo Dantas. Professores homenageados: Alcide Loureiro, Dumerval Trigueiro, José de Almeida Júnior, Severino Loureiro (diretor), William Ramos Tejo (paraninfo), empresário João Rique (patrono), Antonio de Oliveira, Milton Paiva, Normando Feitosa: 

CLIQUEM NA IMAGEM PARA AMPLIAR
Concluintes do Colégio Imaculada Conceição 
Colégio Alfredo Dantas

Abaixo, foto de 1936, aproximadamente. Padre Odilon Pedrosa e Professor Oliveira, com alunos do Colégio Pio XI. (Foto publicada no Diário da Borborema em 1971, e cedida por Geraldo Dias):


Vida Familiar:

De vida simples e rígida, só andava de terno. Gostava de usar chapéu e suspensório. Teve nove filhos. 

Fotos com a esposa Maria Anunciada:




Com os filhos em 1966:
Na frente: Zenira, Adazilda, Antonio de Oliveira, Maria Anunciada, Adair, Ademir; Na fileira de trás: Agamenon, Amadeu, Adailton, Arnóbio, Antônio:


Com os filhos e netos, em 1966:



PARTE 2 - A VOCAÇÃO DO PROFESSOR OLIVEIRA

"Um homem deve ser homem desde menino"

"Sou um homem feliz e realizado porque fiz do magistério meu ideal. O Magistério constituiu-se durante 29 anos de minha existência, num motivo de constantes alegrias e prazeres."

"Numa de suas aulas, o venerado mestre, desiludido e um tanto desgostoso com os minguados proventos oriundos de uma exaustiva jornada de três expedientes em sala de aula, em tom de desabafo, dizia-nos: -- é melhor vender bananas nas feira central do que ser professor. Não mudo de profissão porque, em primeiro lugar, não tenho queda para negociar e, em segundo lugar, o que me satisfaz mesmo é ensinar". (Dr. José Moyses)

Diário de 5 de novembro de 1936:

“Hoje foi o último dia de aula no Colégio Pio XI. No dia 9 vou examinar os alunos das minhas turmas: 1ª série – português e matemática; 2ª série – matemática; e nas séries 2ª, 3ª e 4ª, inglês. 

É este também o último mês em que tenho ordenado. Dezembro, janeiro e fevereiro não ganharei nada no Pio XI.

E entro neste período de férias sem dinheiro e obrigado a gastar no mínimo 400$000 mensais.

O ensino particular é incerto no fim de ano; não posso contar com essa renda duvidosa, que pode até não vir.
Estou pensando em fazer bebidas e soda para vender. E se nesse período de férias achar qualquer colocação que dê para viver, não voltarei mais a ensinar.

Ensinar hoje é um sacrifício.”


Carta dos alunos pedindo anulação de uma prova, em 1949:



Desfile do Grupo Escolar Antonio Oliveira em 1975, Rua 13 de Maio:



PARTE 3 – CRÔNICA DE FELIX ARAUJO
(Entre as inúmeras crônicas sobre o Professor Oliveira, esta é uma das mais belas)

Carrossel da Vida – Dia: 16 de Setembro de 1952 - Felix Araujo

Alguém, no mundo, está hoje envelhecendo mais um pouco. Aos cabelos já brancos que, discretamente, acumulam-se em sua cabeça pensadora, virão juntar-se ainda mais as névoas do tempo. É nesse dia, em que um dos mais perfeitos seres humanos que residem nesta cidade assiste à passagem do seu aniversário. O exemplo de sua admirável vida é um clarão diante da juventude. 

Desde os dias distantes da mocidade, escolheu um destino, guiou os seus passos para o mais luminoso e o mais áspero de todos os caminhos. Ser professor. Sacudir nas almas, como um jardineiro, as sementeiras maravilhosas, que ora rebentam em rosas, ora se afirmam em árvores, as sementeiras da cultura e do conhecimento humano.

Na pequenina cidade de Bananeiras, onde nasceu, nos idos de 1886, começou o seu apostolado. Ensinando meninos de curso primário no Instituto Bananeirense, criancinhas que hoje são pais e mães nos caminhos do mundo, repetindo o seu nome e gratos ao que dele receberam.

As lutas da vida, as responsabilidades da família, os anseios de fazer sempre o maior bem possível, que esse é um traço do seu caráter e uma destinação de sua existência, o trouxeram, um dia para a nossa cidade.

Aqui, chegaram-lhe mais filhos. Os filhos do seu amor e os filhos do seu apostolado. Sua casinha, onde algumas vezes o pão deve ter sido amargo, porque esse é o destino dos grandes mestres, encheu-se de crianças. E por suas mãos começaram a correr, como um rio maravilhoso, centenas, milhares de destinos, -- os adolescentes que desfilavam diante de sua cátedra com o respeito com que os crentes desfilam diante de um altar.

E de tal modo, em sua personalidade rica de conteúdo humano, o pai e o mestre se confundiram, que ninguém poderia distinguir ao certo, diante da cátedra, se era o pai ensinando aos filhos, ou se no lar era o mestre ensinando aos alunos.

Professor de Inglês, Francês, Português, História, Matemática, Ciência Naturais, -- sem jamais ter cursado academias e centros científicos, autodidata formado na ampla escola da vida, a sua palavra ungida de experiência das coisas e dos homens foi sempre recebida entre os mestres e os discípulos com respeito e com amor.

Poder-se-ia mesmo resumir a atitude com que as novas gerações o acolheram na direção do seu destino espiritual, com essas duas palavras:- respeito e amor. Pela sua autoridade moral, pela expressão sólida de sua cultura, pela austeridade do seu caráter, conquistou o respeito da juventude irrequieta e rebelde. Porém foi mais além. Não bastaria que os alunos o obedecessem, para que as sementes lançadas na terra frutificassem. Ele conseguiu o ideal supremo do mestre: ser respeitado e amado. Todos o vemos, ainda hoje, pequenino, magrinho, os cabelos dia a dia mais brancos, o rosto dia a dia mais enrugado, o passo dia a dia mais lento, a voz dia a dia mais terna, assim, --- com essa devoção, essa ternura e esse amor com que saudamos os nossos pais, aqueles de que viemos um para o grande drama e a grande festa da vida.

Com os conhecimentos enciclopédicos de que dispõe, poderia, em outro país, ter ascendido os grandes postos da vida pública, e mesmo na tarefa de educar as gerações ter conquistado aquela independência econômica indispensável à tranquilidade da velhice. Mas vive no Brasil. Vive na Paraíba. É um professor brasileiro. E isso todos nós sabemos o que significa:- a luta sem fim, a canseira, o melhor sangue e o melhor pensamento favorecidos à glória da juventude e da cultura, e depois a velhice sem um teto, a velhice do pão escasso, - a velhice que pôde oferecer as chaves do triunfo a todos os filhos de todos os pais, e aos seus próprios filhos apenas pôde oferecer a herança da pobreza e da humildade.

São, os nossos mestres, os professores brasileiros, injustiçados, incompreendidos, mal pagos na mocidade e quase mendigando na velhice, como os acendedores de lampiões de que fala o poeta:- distribuem claridades, semeiam luzes, consomem a vida na tarefa de iluminar os outros, e findam, na sombra da velhice, na escuridão dos crepúsculos, pobres fontes de luz sacudidas à margem da vida.

Hoje, um homem está envelhecendo mais um pouco. Novos cabelos irão cobrir a sua cabeça. A sua cabeça de velhinho, tão grande quanto o seu coração, - uma cabeça onde se abrigou a sabedoria humana, um coração onde pulsam as mensagens de Deus e da Verdade. Boa noite ao Professor Antonio de Oliveira, ao mestre de tantas gerações, ao abridor de tantos caminhos, ao plasmador de tantos destinos. 

É ele que hoje está aniversariando, ele, o bem amado Professor ANTONIO DE OLIVEIRA.

As novas gerações beijam, hoje, comovidas e gratas, a mão do nosso mestre, do nosso velhinho.

Para nós, ele é um símbolo.

O símbolo do esforço humano incompreendido, da inteligência humana injustiçada, da bondade humana esquecida, que, na terra deserta de generosidade e de compreensão para os mestres, que é este país, - vai continuando o seu apostolado, vai prosseguindo na sua missão, vai semeando a sua mensagem, até o luminoso dia do futuro, quando a Justiça Social brilhando entre os homens restabelecer os valores da inteligência e da cultura.

BOA NOITE, Professor Antonio de Oliveira. Essa é a palavra de amor da juventude. Essa é também a sua palavra de esperança no novo dia que despontará para o Mundo.


9 comentários

  1. Anônimo on 4 de março de 2015 às 09:50

    Que material. Parabéns Saulo Araújo

     
  2. Edmilson Rodrigues do Ó on 4 de março de 2015 às 12:37

    Era como nos anos 1950 ao apresentar na nossa saudosa Radio Borborema o programa "A Semana em Revista", o grande jornalista e radialista Fernando Silveira dizia: "...Ei-nos recuados no tempo e no espaço..."
    Esta matéria nos fez recuar aos felizes tempos que não voltam mais.
    Parabéns, muito obrigado...!

     
  3. Unknown on 10 de agosto de 2015 às 20:25

    Não tive a chance de conviver mais tempo com meu avô,mas as histórias contadas por meu pai e tios sobre o Prof. Oliveira meu avô me dá a dimensão de o quanto foi dedicado e era apaixonado pela educação!

     
  4. Unknown on 10 de agosto de 2015 às 20:25

    Não tive a chance de conviver mais tempo com meu avô,mas as histórias contadas por meu pai e tios sobre o Prof. Oliveira meu avô me dá a dimensão de o quanto foi dedicado e era apaixonado pela educação!

     
  5. Unknown on 10 de agosto de 2015 às 20:25

    Não tive a chance de conviver mais tempo com meu avô,mas as histórias contadas por meu pai e tios sobre o Prof. Oliveira meu avô me dá a dimensão de o quanto foi dedicado e era apaixonado pela educação!

     
  6. Unknown on 10 de agosto de 2015 às 20:26

    Não tive a chance de conviver mais tempo com meu avô,mas as histórias contadas por meu pai e tios sobre o Prof. Oliveira meu avô me dá a dimensão de o quanto foi dedicado e era apaixonado pela educação!

     
  7. Unknown on 10 de agosto de 2015 às 20:26

    Não tive a chance de conviver mais tempo com meu avô,mas as histórias contadas por meu pai e tios sobre o Prof. Oliveira meu avô me dá a dimensão de o quanto foi dedicado e era apaixonado pela educação!

     
  8. Alon82 on 23 de novembro de 2019 às 22:00

    Um exemplo de homem e de educador. Que alegria, hoje, conhecer um pouco da história desse nobre mestre que dá nome a Escola Estadual a qual faço parte.

     
  9. Anônimo on 25 de janeiro de 2024 às 18:46

    👍👍👍👍

     


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