Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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QUAL ASSUNTO VOCÊ ESTÁ PROCURANDO?


Por Vanderley de Brito

A história de Campina Grande está eivada de erros, principalmente no que diz respeito aos seus primórdios. Há anos venho estudando cuidadosamente documentos coevos do período de surgimento da povoação de Campina Grande e posso assegurar que os fatos que dispomos são, na sua grande maioria, interpretações apressadas de alguns poucos documentos e preenchimentos irresponsáveis de lacunas históricas.

Em primeiro lugar, Campina Grande não surgiu de um aldeamento de índios Airú. Na verdade, já existia uma aldeia dos Bultrins no local desde pelo menos 1668, e a propósito o lugar era chamado de “Taboleiros Grandes” por esses nativos, conforme um documento escrito por um sargento-mor bultrin, chamado Manuel Homem da Rocha, em 1752.

Os bultrins que viviam em Campina Grande eram índios aramuru, de etnia Cariri, vindos do São Francisco. Haviam lutado contra os holandeses na Guerra da Restauração e, como prêmio de guerra, receberam uma Data de terra na Paraíba. Vieram para a Paraíba junto com um capuchinho francês que os organizou em Missão num lugar próximo a “Lagoa da Roza”, e lá estabeleceu uma Missão de catequese com o nome de Boldrim. No entanto, esta Missão religiosa durou apenas dois anos, sendo desfeita em 1670 e os catecúmenos foram remanejados para a Missão de Pilar do Taypu, dos jesuítas. Porém, muitos nativos da antiga Missão Boldrim já haviam abandonado o centro catequético e se estabelecido em outras áreas e por isso não foram para o Pilar junto com seus parentes, pois a Data de terra naqueles agrestes lhes pertencia por direito. Assim, três aldeias ficaram estabelecidas na região, a de Boldrim, a de Genipapo e a de Campina Grande.

Teodósio de Oliveira Ledo já conhecia estes indígenas e sabia que ocupavam terras que lhes pertencia, mas como eram índios amigos dos colonizadores não os molestava e até tinha esta aldeias como ponto de pouso e lugar para se adquirir por escambo farinha e outros gêneros que eles produziam em suas roças.

"A fundação de Campina Grande": Desenho a lápis sobre papel Canson 300g/m², tamanho 30x12
( Vanderley de Brito)


Já os Ariú eram índios bravios que ocupavam os vales do Quinturaré e Seridó. Na verdade eram nativos Pegas, da nação Tarairiú e, muito provavelmente o nome ariú é corruptela de tarairiú. Estes índios guerrearam conta Teodósio quando este sertanista se empenhou em ocupar a região de Quinturaré (hoje região de Picuí) e depois de vencidos capitularam com o capitão-mor se oferecendo como vassalos de Sua Majestade.

Teodósio, que ainda lutava contra a tribo dos Pegas do líder Pecarroy, precisou ir até a cidade da Parahyba adquirir munição e mantimentos e achou por bem afastar os índios capitulados do cenário de guerra  para que não voltassem às hostilidades e os levou consigo, aldeando-os junto dos cariri-bultrins de Campina Grande. O ano era 1697.

Estes índios Ariú eram comandados por um índio de nome Cavalcante, que manifestou interesse de que seu grupo recebesse os ensinamentos cristãos. Dessa forma, quando o capitão-mor retornou da Parahyba trouxe consigo um frade do Convento de Santo Antônio para doutrinar estes indígenas. Portanto, o surgimento de Campina Grande como povoado cristão remonta o ano de 1698.

Obs: O espaço disponível nesta página não possibilita que se faça todo o estudo de fundamentação dos dados apresentados, mas o leitor poderá encontrar este estudo no livro de minha autoria “Missões na Capitania da Paraíba” (Cópias & Papéis, 2013).

6 comentários

  1. Hugo César Gusmão on 2 de abril de 2013 às 08:52

    Excelente postagem. Pena que tão curta.

     
  2. Rau Ferreira on 4 de abril de 2013 às 06:15

    Vanderley, você põe em cheque antigas teorias e estudos como os de José Elias Borges? Preciso adquirir seu livro, como faço?

     
  3. walmir chaves on 4 de abril de 2013 às 07:51

    Parabéns Vanderley de Brito pelo excelente postagem!
    Gostaria saber mais...
    Impressionante o desenho da Fundação. É realmente muito bom desenhista!

     
  4. Anônimo on 5 de abril de 2013 às 16:44

    Eu desenho desde pequeno, fui cartunista no Jornal Gazeta de Alagoas e por 20 anos trabalhei como artista plástico aqui em Campina. Infelizmente a uns 3 anos adquiri uma alergia a tinta e desde então parei de pintar, só faço desenhos à lápis agora, aguada de nanquim e aquarela. Este desenho ainda era inédito e foi publicado aqui neste blog pela primeira vez, mas faz parte de um projeto que estou desenvolvendo para reconstituir momentos históricos da Paraíba pra um livro que estou escrevendo sobre a História Colonial da Paraíba,

     
  5. Mônica Torres on 12 de outubro de 2013 às 13:17

    É sempre uma alegria ver descortinar-se fragmentos da história, principalmente se tratando de tão importante passagem. Devolve-se a vida, quando se encontra a verdade. A ilustração é não menos importante, lindíssima e completamente apropriada. Parabéns pela postagem.

     
  6. walmir chaves on 16 de outubro de 2013 às 12:09

    Vêjo e rêvejo, detalhadamente, a ilustração de Vanderley de Brito. É maravilhosa. Admiro muito os bons desenhistas...

     


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