“Desculpem a sinceridade... A Campina Grande da qual gosto já está tão distante da que eu vejo hoje que eu procuro na alma o sentimento para ficar alegre com o seu aniversário e não encontro nada...”
Assim comecei uma postagem no face no último dia onze de outubro. Houve, então, para alguns pedidos para que eu descrevesse a Campina Grande da qual sinto saudade...
Descrever uma Campina Grande que não existe mais, na verdade é algo até fácil. Bem, inicialmente é preciso demarcar um tempo: dos anos 60 para cá, pois nasci em 1962... Tudo era muito simples e talvez possa até mesmo causar surpresas para alguns.
Mas vamos lá... Eu começaria lembrando os inesquecíveis términos das aulas nos colégios, quando a maior parte dos estudantes seguia para a Maciel Pinheiro, ficando em um agradável bate-papo até às 18 horas, quando a “Ave-Maria” executada pela Rádio Campina Grande FM determinava que era hora de todos seguirem para as suas casas. Aos domingos, no final da década de 70, o encontro era na “Feirinha do Shopping”, hoje área ocupada pelo Museu Vivo da Ciência.
Rua Maciel Pinheiro nos anos 70 |
Enquanto hoje as fardas dos colégios são quase semelhantes, no passado eram todas diferentes. Como esquecer a elegância que era o fardamento feminino do Colégio das Damas, assim como do colorido exótico das Lourdinas ? Nos desfiles de Sete de Setembro, as mais belas garotas eram escolhidas para os pelotões de destaque e que se apresentavam ao som de bandas marciais, destacando-se as do Colégio Moderno Onze de Outubro e do Colégio Alfredo Dantas.
O 7 de Setembro era um grande evento no passado campinense |
Lembro com saudade, ainda no âmbito escolar, das Olimpíadas Estudantis... Uma semana com as aulas suspensas, havendo um congraçamento de todas as escolas. Jogos nos três turnos nos ginásios da AABB, Clube do Trabalhador e no Campinense Clube. Havia a rivalidade entre colégios, claro, mas sem existir violência. Alguém imagina isso hoje ?
Em termos de esporte, sou de um tempo em que Treze e Campinense eram GALO e RAPOSA, jamais tratados pelos torcedores adversários de “galinha” e “preá”. Recordo que tanto no PV como no Amigão, as torcidas entravam pelo mesmo portão, sem violência alguma. Saudades da GUGA – Galera Unida do Galo; da TOGA – Torcida Organizada do Galo; da CHARANGALO – Charanga do Galo... E, para dizer que não falei dos adversários, havia a TORA – Torcida Organizada da Raposa... O mais importante de tudo: ser adversário não significava ser inimigo...
A "Guga" e a "Tora", torcidas históricas do futebol de Campina Grande |
Saudades da Sorveteria Flórida, tanto no Calçadão como ao lado da Panificadora das Neves... Saudades do Café São Braz, também no Calçadão... Do Cisne Lanches, no Edifício Esial e de um restaurante que servia uma “cabeça de galo” perto do Posto de Saúde Francisco Pinto. Saudade da pizza do Restaurante Cave...
Saudades do Capitólio e do Babilônia... Tempos onde, se não havia jogo do Treze na cidade, eu podia assistir a cinco filmes em um final de semana pagando apenas três ingressos. Funcionava assim: na sexta-feira à noite, após o encerramento das aulas, havia a sessão bacurau no Capitólio, normalmente um bom filme exibido durante a semana. Começava às onze da noite e acabava por volta de uma da madrugada. No sábado, no Babilônia, assistia a sessão das nove da noite e ficava para a sessão coruja, que começava às onze da noite. No domingo, finalmente, matinê as quatorze horas e, por volta das dezesseis horas, outro filme. Tudo isso de modo calmo, onde ninguém conversava no cinema nem muito menos se atendia celular (afinal, este último não existia)...
Saudade dos Bares Boião, Galeto, Chopp da Prata (depois Charriot)... Saudade de ouvir música de boa qualidade ao vivo nas vozes de Capilé e Gilmar... Saudade da Boate Skina e da matinê aos domingos. Da “Maria Fumaça”, no sábado à noite. Do “Parque do Açude Novo” e da fonte luminosa e sonora... Saudade da Cabana do Possidônio, que era “sua casa fora de casa, a família reunida”... Saudade do Cantinho Lanches, da raspadinha que era vendida ao lado do Capitólio e do pão com carne moída vendido em frente ao cinema... Saudade do lanche que fazia na noite de domingo na Polimar ou na Center Sucos, na Cardoso Vieira, ou mesmo na Brunella, na Afonso Campos.
A antiga "Boite Charriot" |
Saudade de comprar revista da semana que passara na feira do sábado, com o título cortado com régua, sendo vendida por menos da metade do preço... Saudade de ler o Diário da Borborema e da Gazeta do Sertão. Da crônica “Confidencial”, escrita por Chico Maria no Jornal da Paraíba... Saudade de ouvir “Bom dia, Nordeste”, com José Bezerra. “Olha a hora, ouvinte amigo. São exatamente seis horas e vinte minutos. “Hora de tomar o gostoso café São Braz com Vitamilho instantâneo e ler o Diário da Borborema de hoje que publica...”
(TEMA BOM DIA NORDESTE NA VOZ DE CAPILÉ)
Saudade de ouvir a Rádio Borborema, “O Esporte em Marcha”, “A Patrulha da Cidade”, “Retalhos do Sertão”, “A Voz dos Municípios”, “Contos que a noite conta” e “O Amigo da Madrugada”, saindo do ar somente à 01:30 da manhã.... A Rádio Cariri contribuía com “Violas na Cariri” e “Sua Paz Musical”. Na Rádio Caturité, saudade de ouvir “Os filmes do dia” e “Jogo Duro”, com Humberto de Campos, além do inesquecível “Postal Sonoro” “Fulano de tal que parte para São Paulo, com saudade oferece aos seus pais, familiares e amigos e a um alguém com as iniciais MJS este postal sonoro ....” Do ” Brasil de Norte a Sul”, com Clóvis de Melo, a partir das dezesseis horas e, a partir das dez da noite, “Caturité faz amigos”...
Saudade de um tempo em que se vivia e se andava nas ruas com relativa segurança. Que se tinha esperança do futuro e não se pensava no passado, que agora parece mais atrativo que o presente... Saudade, pois, de Campina Grande deste tempo...
Observações:
-Texto publicado originalmente no Facebook de professor Mário;
-Arquivos utilizados nesta postagem, oriundas do próprio arquivo do blog, cedidas por colaboradores.
cara, realmente o seu tempo foi o meu... adorei as lembranças...
um abraço,
valderi 6.5
Não vivi neste tempo, mas ao ler seu texto, também bateu uma saudade. Hoje tudo mudou, anda-se no centro da cidade feito bala, muita gente, muito carro, não se pode ao menos contemplarmos a paisagem. O tempo é implacável e leva com ele o que havia de melhor!
Imaginem que saudade sinto eu, pois também sou saudosista, e cruzo pelas ruas da minha querida Campina Grande desde 1937. Tenho muito o que contar.
Tomei banho no Açude Novo; conhecí o Açude Velho sem os diques; o Açude de Bodocongó com toda sua pujança e das matinais de domingo no Clube Aquático às suas margens; ví as históricas locomotivas Baldwin, a vapor, fazendo manobras no pátio da Estação Velha; vi os velhos aviões DC-3 do Loide Aéreo aterrisando e decolando do campo de pouso do Ligeiro e, como não existia asfalto a rotação das hélices faziam levantar um verdadeiro cogumelo de poeira; vi e participei da era do algodão; prestei Exame de Admissão no Colégio Diocesano Pio XI e, em 1953 eu era do corpo dicente do Colégio Estadual de Campina Grande assistindo a sua histórica aula inaugural; lembro-me também do soar do carrilhão do Convento de São Francisco, bem como dos apitos das fábricas às seis horas da manhã. E por falar em "cabeça de galo", não podemos esquecer esse cobiçado prato que era servido no Bar e Café Rosa de Ouro, do João Brabo, na Rua Marquez do Herval no local onde hoje funciona a agência do Bradesco. Tantas e tantas coisas maís, porém ficarão para uma outra oportunidade.
Programa dominical das crianças o Clube Papai Noel, com Eraldo Cesar; o parque de diversão na Praça Clementino Procópio. Saudades em que podíamos ir as matines dos cines capitólio e Babilônia do Carnaval de rua com seus papangus e etc. etc. Até de quando se iniciou o São João no Parque do Povo. Saudades de minha infância e adolescência!
ARRETADO!!!!!!!!!!
Mario me fez chorar de emoção , lembrando da minha Campina nas antigas.
Grande Amigo Prof. Dr. Mário, confesso que fiquei emocionado com o seu texto. Só faltou você falar do Colégio Estadual da Prata com seus mais de 3.000 alunos, do seu desempenho nas Olimpíadas e na Banda Marcial com + de 100 componentes e que nas décadas de 70 e 80 uma vaga no Gigantão era disputadíssima, sobretudo pela elite campineira.
Parabéns pelo belo comentário, me deu muita saudade de Campina Grande, mas infelizmente é o preço que se paga pelo progresso,não só ai mas em todas cidades,lembro com carinho dos anos 70.
fico imaginando o quanto de transformações ocorreram num lugar, tirando pela vivencia da memoria de 40 anos, o que será CG daqui mais 500? O que era CG há 500 anos atrás...realmente nossa sociedade é um sopro, igual anossa vida..acaba e se cria facilmente.
Parece que qualquer tempo passado foi melhor ! Tenho saudade de uma Campina Grande com 20 anos menos a que você viveu. Viajei prá Europa no ano 1968 e perdi quase tudo isso que você relata, porém reconheço os lugares, os hábitos e diversões similares a minha época. Na minha adolescencia se podía andar por Campina a qualquer hora do dia ou da noite sem ser molestado ou atacado...Tá longe isso não?
Amigo, chorei! ...chorei muito.
A infância e a adolescência, quando papai e mamãe "pagam tudo", tendem a ser como um colírio para os olhos da alma. Já adultos, com as promissórias e faturas do cartão "batendo na porta", tudo funciona como uma venda que nos impede de apreciar o que se passa ao redor, daí o refúgio no passado idealizado( mas não "real").
Em breve, muito breve, nossos filhos w netos dirão saudosos: "Boa era a Campina de 2013".
"A infância e a adolescência, quando papai e mamãe "pagam tudo", tendem a ser como um colírio para os olhos da alma. Já adultos, com as promissórias e faturas do cartão "batendo na porta", tudo funciona como uma venda que nos impede de apreciar o que se passa ao redor, daí o refúgio no passado idealizado( mas não "real").
Em breve, muito breve, nossos filhos w netos dirão saudosos: "Boa era a Campina de 2013"."
Caro anônimo: Sem querer polemizar e acreditando que não tenha sido esta a sua intenção, esclareço que o meu sentimento é saudade, mesmo. Falo de coisas custeadas com o meu próprio esforço pois comecei a trabalhar aos 14 anos... E, particularmente, meu passado foi real, não é idealizado! Não poderia ter saudade de algo que não tivesse ocorrido. Caso contrário, seria ilusão.
Sem querer entrar no mérito da questão, vejo que o comentário sobre o "passado idealizado" é muito coerente.Tem razão o internauta, logo, logo nossos filhos e netos estarão lembrando com saudades dos dias de hoje, independentemente de quem "pagou as despesas"(papai ou mamãe ou o próprio saudosista).
Assim é a vida e suas memórias privadas.
Que o digam Edson Rodrigues do Ó e Walmir Chaves(entre outros).
Sou do tempo que a torcida do treze e campinense sentavam juntas na geral e não tinha briga.
Saudades!
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Não sou desse tempo,muito menos próximo a ele,porém posso dizer que minha vida seria bem diferente por esses anos. Não sinto saudade pois não o vivi,mas sinto o gostinho de poder viver tão feliz. Gosto da minha Campina atual,mas não posso compara-la com a descrita nesses tempos maravilhosos. Como eu gostaria que fosse tudo assim!