O texto abaixo foi fundamentado no artigo “A MISSÃO CATEQUÉTICA DE CAMPINA GRANDE: UMA PSEUDOMISSÃO PARA DISSIMULAR O ETNOCÍDIO NOS SERTÕES DA PARAÍBA”, de autoria de Vanderley de Brito e Thomas Bruno Oliveira.
Uma das Fotos Mais Antigas do Açude Velho |
“Entre fins de 1695, até 1697, nuvens negras se aglomeravam no horizonte dos sertões do Piancó com o curraleiro e capitão-mor Teodósio de Oliveira Ledo, em conjunto com seu alferes João de Miranda e o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, dando impulso a sanguinolentos assaltos contra os tapuias “insurgentes”, degolando índios às centenas, queimando aldeias e fazendo milhares de prisioneiros de guerra, sem constituir exceção mulheres e crianças.”
‘Campanha de horrores’ foi o termo utilizado pelos autores do artigo em questão sobre a incursão do desbravador Theodósio de Oliveira Ledo no longínquo ano de 1697, quando o capitão-mor dirigiu-se à Parahyba do Norte e, em meio à jornada, decidiu deixar o grupo aldeado numa povoação de índios Cariri que havia num extenso prado no sertão dos chamados Cariris Velhos, um lugar que tinha por nome Campina Grande.
Chegando nesta imensa planície, coberta de gramíneas e plantas herbáceas, ou subarbustivas, os Ariú trazidos por Oliveira Ledo foram acomodados numa aldeia de índios Cariri que ali existia, os Bultrins, que já deviam ser bem conhecidos do famoso capitão-mor (possuidor da fazenda Santa Rosa próximo dali), e muito possivelmente esta aldeia Bultrim já era bem frequentada pelos boiadeiros nesta época, pois o lugar já constava registrado num mapa publicado em Roma desde 1698, elaborado por Andreas Antonius Horatiy.
Aliás, é um indício cronológico que comprova que Campina Grande já era uma povoação conhecida mesmo antes de Teodósio ter deixado lá os Ariú, pois no ano de 1699 quando o Governador da Paraíba Manoel Soares de Albergaria escreveu a carta ao Rei de Portugal notificando sobre o lugar, que, como frisamos, já constava referenciado em mapa que provavelmente devia ter sido elaborado há pelos menos três anos passados a contar daquela data, porque a confecção de um mapa naquela época era demorada devido à técnica tipográfica e as inúmeras permissões que tinham de ser solicitadas.
Campina Grande era um lugar perfeito para pouso de viajantes e negociantes por estar situado bem no meio do caminho que ligava o sertão ao litoral (Estrada Real do Sertão), em terras adequadas à cultura de vários cereais indispensáveis à vida dos colonos e junto a uma lagoa no remanso do Riacho das Piabas, que bem mais tarde viria a ser o Açude Velho.
A evidência de que havia uma lagoa na povoação indígena de Campina Grande pode ser encontrada numa sesmaria de 1781 onde menciona: “... até toparem com a lagôa das terras que foram dos índios da Missão da Campina Grande...” (TAVARES, 1982 p. 394) e na obra de Aires de Casal, editado em 1817, que ao tratar de Campina Grande, diz: “seus habitantes bebem duma lagoa contígua, a qual, faltando água nos anos de grande seca, os obriga a ir buscá-la ali a duas léguas” (CASAL, 1976 p. 276). Como sabemos, o Açude Velho só começou a ser “construído” em 1829, custando 1:000$000 (um conto de réis) aos cofres provinciais (PINTO, 1977 p. 110) sendo, portanto, nada mais do que paredes de retenção erguidas para aumentar a capacidade hídrica de uma lagoa, ou alagado, já existente no lugar.
Deixando os Ariú acomodados junto aos Bultrins, Teodósio seguiu para a Capital e de lá retornou no dia 1 de janeiro de 1698 trazendo mantimentos, munição e uma tropa de índios esoldados, para ajudar na guerra do sertão de Piranhas. Para a conversão dos gentios deixados na Campina Grande o sertanista trouxe um religioso do convento de Santo Antônio (franciscano) e, com a chegada do missionário, a aldeia do lugar Campina Grande foi convertida em Missão, cujos catecúmenos gentios passaram a ser chamados genericamente de Cavalcantes.
Sobre a Missão de Campina Grande, particularmente, entendemos que o riacho do Prado, ou das Piabas, com sua mata ciliar ainda preservada, fosse naqueles tempos um arroio perene que, mesmo nos períodos de verão, canalizava águas de exíguas nascentes. Neste caso, nada mais coerente do que instalar a missão na colina que levemente se ergue na encosta deste riacho (alto da Rua Vila Nova da Rainha) com o desenvolvimento da povoação, devido ser um entroncamento de estradas e um ponto de parada para o gado beber das águas da lagoa contígua, o sítio das Barrocas, por trás da igreja e próximo a feira de gado que se instalou nas margens desta lagoa (atual Açude Velho), que foi adquirindo aos poucos moradias de comerciantes de gado, charque e farinha, dando ares de Vila ao Povoado.
Buscar as origens de Campina Grande é uma tarefa basicamente inoperante, porque, além da destruição de muitos documentos cartoriais durante o movimento do Quebra-Quilos, em princípios dos anos quarenta do século XX o então prefeito Vergniaud Borborema Wanderley determinou a incineração dos documentos contidos no Arquivo Público da Cidade.
Algumas décadas depois, Newton Vieira Rique prefeito à época, em inícios dos anos sessenta, determinou nova incineração. O pouco que restou do Arquivo Público da Cidade ficou por anos amontoado num galpão público, à margem do Açude Velho, prédio em que funcionou o Departamento de Transportes, Oficina e Garagem da Prefeitura Municipal, o D.T.O. (recentemente alienado do patrimônio público municipal), expostos à umidade, goteiras, ratos e traças.
Na obra “História Eclesiástica de Campina Grande” o padre Boulanger Uchôa anuncia Teodósio de Oliveira Ledo como o fundador de Campina Grande, tido por um símbolo da bravura sertaneja e subjugador do índio. Quanto ao fato de Uchôa valorizar as ações de Teodósio Oliveira Ledo, isto é de se estranhar, sobretudo partindo de um padre. Pois sabemos que a maioria dos missionários condenava veemente às arbitrariedades cometidas pelos sertanistas e colonos contra os nativos. Até o próprio Rei de Portugal já havia manifestado repúdio às atrocidades cometidas por Teodósio contra os tapuias dos sertões.
Deste modo, não é judicioso enaltecer os feitos do famoso sertanista Teodósio de Oliveira Ledo nem tampouco determiná-lo como o fundador de Campina Grande. A menos que consideremos desprezível, silvícolas anônimos terem fundado e dinamizado o lugar que depois se tornaria uma das cidades mais importantes do Nordeste brasileiro.
“Desprezível ou não, o fato é que os Cariri já tinham suas aldeias na campina antes de Teodósio chegar trazendo seus Ariú e, portanto, não faz nenhum sentido o memorial dedicado a este sertanista erguido na praça Clementino Procópio, no centro da cidade de Campina Grande. Exceto que queiramos homenagear indiretamente o genocídio de nossos naturais.”
Falam tanto de Reis e de Princesas
De valentes e crueis Conquistadores
Se o que enche nossa vida de belêza
É o trabalho dos nossos Criadores!
A História há que ser interpretada sob o contexto da época:
1- A Igreja Católica era "SÓCIA" na colonização,amealhando almas e bens.Era o segundo poder,por vezes o primeiro.
2- Nem hoje, em pleno Sec XXI, uma aldeia, tribo ou nação indígena é capaz de fundar uma Cidade.
3- Foi uma época de conquista e ocupação com escaramuças de ambas as partes,em todo o território da colônia(Brasil), e que venceu o mais poderoso.Graças a Deus!
Braulio José Tavares
Perguntar não ofende: à parte o grão de areia chamado Campina Grande, como se deu a colonização do planeta Terra (interrogação)
A ironia sim, pode ofender, caro anónimo.
Podia responder que o resto do planeta nos imitaram e foram evolucionando pouco a pouco...rsrsrs
Será que seu Deus ficaria contente com a atribuição da vitória do mais poderoso à ele Braulio José Tavares?
Acho que foi muito mais graças a pólvora do que a Deus essa conquista.
Não temos que enaltecer Teodósio de Oliveira Lêdo, bravo e conquistador, não resta dúvidas, porém um verdadeiro sanguinário que brincou de matar homens índios e até mesmo as mulheres e crianças, um facínora que brincava de verificar o fio da navalha cortando o pescoço dos já vencidos.