Travessa Almirante Alexandrino, popularmente conhecida como POROROCA. Situada no coração de Campina Grande, tendo uma entrada na Rua Vidal de Negreiros e duas outras na Rua João Tavares. Coincidentemente, as suas entradas ficam de frente a dois importantes estabelecimentos históricos da cidade: Na da Rua Vidal de Negreiros, olha meio que de ladinho para O Salão Campinense, barbearia muito antiga e tradicional; E nas outras duas da Rua João Tavares, miram à antiga clinica e hospital SAMIC, que é um capítulo aparte, e que deve ser contado em outro episódio.
A Pororoca - Arte de Marcus Nogueira |
Morada de inúmeros ilustres cidadãos e pessoas comuns de mesma importância, esta rua teve relevância fundamental para algumas pessoas, inclusive para este autor que vos escreve, que jamais serão esquecidas. Cito: Foi moradia do deputado Rômulo Gouveia, onde além de sua própria casa, seus pais tinham uma vila de casas numa ramificação do beco chamado de “Boa Boca”, na verdade é um correr de quartos com um banheiro ao fundo. Lugar muito peculiar, e com algumas características de um bairro muito pobre.
A casa do Seu Zuzu: pai do Rômulo, ficava vizinho a uma vendinha, que sua dona além de conferir o dinheiro várias vezes, não recebia em hipótese nenhuma uma cédula riscada, amassada ou muito menos rasgada, devolvendo-a imediatamente antes de entregar a mercadoria. Logo mais a frente e na mesma calçada, ficava a mercearia do senhor Apolônio: pai do distinto professor universitário de matemática “Brito”. O Seu Apolônio tinha no quintal da mercearia um depósito de carvão: Um quartinho bem escuro com uma montanha do produto. Quem fosse comprar carvão no centro da cidade, obrigatoriamente era no seu Apolônio, e invariavelmente sairia sujo do local. Neste mesmo lugar, funcionou durante algum tempo o Bar do Brito, frequentado por intelectuais e amantes das músicas de Chico Buarque.
Local da antiga mercearia do Seu Apolônio. Fotos de 1996 e 2011, respectivamente |
Outra figura de tamanha importância que residia na Pororoca, era o finado Chico do Tiro: Pai do jornalista e colunista Rogério Freire, que posteriormente assumiu um simpático sobrado na Rua. Pessoa muito bem humorada e de simpatia invejável, Chico do Tiro era semianalfabeto e bem afortunado, tinha um bar na antiga quatro de Outubro, e quando ia cobrar as contas, olhava para o numero de pessoas na mesa e dizia: É 15 pra cada. Todos riam e alguém dizia: Inteire os 20 de picado e mais duas saideira. Kkkkkkkkk. Gargalhada na certa.
Rita, Lêda e Amâncio dividiam a mesma casa na frente da mercearia de seu Apolônio. São três personalidades inesquecíveis: Rita e Lêda eram zeladoras da Igreja Nossa Senhora do Carmo. A irmã mais nova, Lêda, cantava no coral de beatas e tinha uma voz bem particular e destacada, dava para ouvir seu tom quando dobrávamos a esquina da igreja. Rita ficava na calçada de casa com um ferro à brasa, e claro, com carvão do seu Apolônio, passando roupas para toda vizinhança. E finalmente Amâncio, é conhecido artista local, tocando ainda hoje pelos bares e eventos em Campina. Um operário da música local.
Seu Rosielio Gomes e D. Salomé, donos da Cotecil, importante indústria de beneficiamento de couros, foram moradores respeitados por seu alto poder aquisitivo. Moravam numa casa ampla bem no ‘cotovelo’ da Pororoca e convidavam muitos moradores para fartas festas que havia no lugar, ou em sua granja fora da cidade.
Vamos para a boemia, falar de pessoas que embora não tivessem o mesmo valor perante a sociedade, imprimiam sua importância de forma mais ‘intimista’. Refiro-me a Maria Garrafa ou Maria Garrafada como queiram. Esta pessoa muito vaidosa, cheirosa e glamorosa, desfilava elegantemente pelas ruas de Campina arrasando corações, e de certa forma destruindo lares, não por sua culpa, pois, estava apenas cumprindo seu papel de “prostituta vip”, mas, pelas “puladas de cerca" (se é que posso assim dizer), das pessoas que se “deitavam” com Maria.
Morou também durante muito tempo e ainda mora neste lugar: Rosilda. Também muito festeira e produzida, era e ainda é mestra na arte culinária, nesta época não se falava em ‘chefe de cozinha’ do sexo feminino’, era tratada mesmo como cozinheira. Elaborava as refeições das mais ricas famílias Campinenses, fazia jantares homéricos na casa de Dona Jesus Freire: Esposa de Artur Freire e Mãe de Pedro Freire; Ceias de encher a boca d’agua na casa de Zé Carlos do Café São Braz; Lanches da tarde incríveis na residência de Raimundo Lira da Cavesa, e de muitas outras residências poderosas.
Na Pororoca, construiu-se um dos pilares de sustentação da minha personalidade. Lá, aprendi com “Time Ruim”, nome do moleque mais traquino de todo centro da cidade, que mais tarde morrera de raiva felina, lições sobre arruaça e traquinagem. Aprendi com Anacleto e Laercio a jogar peão de madeira no chão de terra batida do lugar. Com Neném, Tutucha e Joselito, construíamos pipa e carrinhos de rolimã. Foi lá também, que me foi ensinada as primeiras “bolinagens” sexuais com “Batonzinho e Nicinha” (Por motivos óbvios são apenas apelidos fictícios). Bola de gude e cuscuz eram brincadeiras que só eram possíveis em ruas não pavimentadas. São por estes e outros motivos que a Pororoca: uma “ponta de bairro” no centro da cidade tem sua importância fundamental para toda uma comunidade.
Foi lá também, onde tivemos (eu e minha então namorada e hoje minha mulher) nosso primeiro empreendimento comercial: O Bar Escambo. Durante algum tempo na década de noventa, revitalizou-se a Pororoca com uma série de bares e restaurantes. O Escambo, ironicamente, funcionava no mesmo local aonde foi à mercearia do seu Apolônio e posteriormente o bar de Brito. Por irresponsabilidade de um dono de bar, a Pororoca veio a perecer, mas isto também é um outro capítulo.
Nesta imagem dos anos 90, cedida ao RHCG por Fidélia Cassandra, podemos visualizar os famosos bares da Pororoca |
Como denomina o próprio nome “Pororoca”: Uma grande onda que se forma pelo encontro das águas do mar com o rio e logo se desfaz, a Travessa Almirante Alexandrino também teve sua grande onda glamour e se desfez. Talvez pelo choque cultural, ou pela agitação noturna, quebrando o silêncio daquela pacata vila.
Fica aqui minha saudosa impressão dos bons tempos vividos na infância
muito legal, que saudade
Meu preferido era o Maria Garrafada.
Fui muito rsrs
Frequentador de carterinha
legal
Fantástico! Esse é o meu amigo Maerson!! Um memorialista nato e exímio cronista ! Parabéns Maerson, D. Maria Gaudêncio te daria 10,0(dez).
Eita q coisa Boa, vivi parte da MINHA infância aí, SÃO muitas Lembranças, matéria Ótima Parabéns...
Pronto!!! O RHCG agora arrumou um cronista de primeira linha e com memória de elefante...
Olá Pessoal, realmente esta "vila" no centro de Campina marcou muita gente. Obrigado aos amigos Helder Racine e Valfrêdo Farias pelos elogios.Grande abraço saudosista a todos.
Faltou sr Elisio Ferreiro do caldo de peixe e sua Grande família, seu Miro que dirigia a ambilancia do SAMIC, forro do sr padeiro que dirigia o caminhão do lixo.Dona xiquinha que tinha um pau de arara
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D. Socorro,
O Caldo do Peixe merece um capitulo a parte. Frequentei e frequento este bar desde de quando era ao lado do Posto Futurama.
Tenho muitas lembranças dos saudosos Reges, Renato, Cleodon e Pedrinho.Pode me aguardar que o caldo vem bem grosso.
Que bom, sou filha de Sr Elisio e Dona Nem, tinha muitos recortes de jornais e entrevistas dele. Infelizmente não tenho mais, mas ele marcou a história de Campina. Agradeço muito a consideração, obrigada
Desde o final dos anos da década de 1930 até hoje, eu sou contemporâneo da história da nossa querida Campina Grande. Muitas saudades...!
Que saudade!! Minha bisavó ela era Maria do Carmo Conhecida como Maria Garrafa