Vital Maria Gonçalves de Oliveira – Dom Vital – nasceu em Pernambuco em 1844. Eleito bispo de Olinda em 1872, o Capuchinho quando chegou ao Recife já encontrou certa instabilidade, pois o jornal A VERDADE publicara algumas “ofensas” ao clero. Diante dessa situação, ordenou uma exclusão branca, que consistia na recusa de celebrar missas para os maçons falecidos. Houve reação e resposta do Sr. Bispo, que publicou um artigo defendendo o dogma cristão. A disputa acirrada culminou com a publicação da “Carta Pastoral contra as ciladas da maçonaria”, proíbe a leitura daquele periódico e excomunga os franco maçons. A sua prisão pelo governo imperial provocou discórdias na província. Alguns padres levantaram a sua bandeira e a coroa foi obrigada a enfrentar aquela questão religiosa.
Em Campina, o Padre Calixto foi o mais exaltado. Em carta dirigida ao seu heróico prelado, datada de 18 de janeiro de 1874, profere o seguinte testemunho de adesão:
“Exm. e Revm. Sr. – Tive a infasta notícia da violenta, arbitrária e inesperada prisão de V. Ex. Revma., e cumprindo um dever de obediência, adhesão e lealdade, vou pelo presente dirigir um voto de profundo pesar à V. Ex. Revma. por tão sacrílego acto do governo deste paiz, que considerando só brasileiros e súbditos os maçons, persegue com inaudita crueldade a quase totalidade de seus súbditos, cart. App. Rom., esquecendo desta sorte o rigoroso dever de fazer manter a religião do Estado em prol de uma seita perversa e desenvolvendo por todos os meios uma terrível perseguição contra os ministros da Religião de Jesus Cristo.Sim, Exm. e Revm. Sr., estamos certos e convencidos de que a nossa perseguição continuará com maior afan, porém devem estar certos os perseguidores de que não recuaremos. Marchamos intrépidos, guiados por V. Ex. Revma., único a quem obedecemos, e a quem reconhecemos como legítimo Prelado desta diocese, em frente dos catholicos, e daremos ao governo e ao mundo inteiro uma prova do que sabemos soffrer e morrer pela religião, e sustentar as prerrogativas e direitos de V. Ex. Revma., e todo o sacerdote que assim não proceder é indigno do habito que veste e da posição que ocupa na egreja.O que nos pode fazer o governo?Tirar-nos a vida, sepultar-nos nos cárceres?Faça-o, sacie a sua sede de ódio e vingança, porém, elle (governo) fique certo que teremos em toda parte a Constancia do martyr, a fé do confessor e a liberdade do verdadeiro ministro da religião para exprobar-lhe a sua dureza e impenitência. Sinto dentro da minha alma, Exm. e Revm. Sr., não poder pessoalmente apresentar a V. Ex. Revma. este meu voto de pezar, pela distancia que nos separa, e peço humildemente a V. Ex. Revma. que o aceite como uma prova do meu amor e firmeza à Venerada pessoa de V. Ex. Revma.Nesta freguezia continua com intensidade a lucta e não pretendo ceder, emquanto aqui estiver com vida. Pretende-se a minha prisão e processo por ter desobedecido à celebre decisão do governo n recurso, com o que me não imporio, pois estou firme, e só reconheço e obedeço (em matéria religiosa) às decisões da Egreja Catholica, Apostolica, Romana, de quem é legitimo e fiel sustentáculo V. Ex. Revma.Deus e Maria Santíssima dêm saúde perfeita e animo a V. Ex. Revma.Cidade de Campina Grande, 18 de janeiro de 1874. Ilm. Exm. e Revm. Sr. D. Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira, muito digno Bispo desta diocese. – O Vigário, Callixto Corréa Nobrega”.
Com visto, o Padre Calixto era bem radical nas suas ideias. Não obstante por em risco a própria vida, seguia na firme decisão de apoiar em tudo o Sr. Bispo desta Diocese. Com efeito, Campina era paróquia do prelado de Pernambuco de onde seguiam as ordens episcopais. Confessa ainda o vigário campinense, que nesta freguesia “continua a intensa lucta”, notadamente por sua firme oposição contra os maçons. Tal qual Frei Vital, o Padre Calixto também excomungou os maçons, expulsando-os da Igreja de N. S. da Conceição. Nessa luta trouxe para si o apoio do Padre Ibiapina que, arrependido depois volta a sua missão de caridade.
Como resultado desta insurreição, o Vigário Calixto foi preso e conduzido à Parahyba (atual João Pessoa) para ser julgado pelo Tribunal do Júri. O Padre Ibiapina, coadjutor do vigário campinense, sequer chega a ser denunciado. Seu nome já era mito tendo o governo recuado prudentemente. Defendeu-o Irineu Jóffily.
Padre Calixto foi absolvido e permaneceu na direção de sua paróquia até a sua morte. Em que pese às teorias de Horácio de Almeida acerca da participação de Joffily, nada ficou comprovado.
Referência:
- ALMEIDA, Horácio de. D. Vital e a questão religiosa no Brasil. R.IHGB. Vol. 323. Abril/Junho de 1979. Departamento de Imprensa Nacional. Brasília: 1980.
- GUIMARÃES, Luiz Hugo. A Paraíba nos 500 Anos do Brasil. Anais do Ciclo de Debates do IHGP. GRÁFICA - SEC/DPG. João Pessoa/PB: 2000.
- O APÓSTOLO, Jornal. Ano IX, N° 30. Edição de 13 de março. Rio de Janeiro/RJ: 1874.
- OLIVOLA, Frei Felix (OFM). D. Vital: Um Grande Brasileiro. Edição da Imprensa Universitária. Recife/PE: 1967.
Dom Vital na realidade era paraibano. Nasceu na cidade de Pedras de Fogo. Existe um artigo publicado na Revista do Instituto Historico e Geografico Paraibano sobre a sua naturalidade.
Alberto Cavalcanti