Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
retalhoscg@hotmail.com

QUAL ASSUNTO VOCÊ ESTÁ PROCURANDO?

No momento histórico em que foi deflagrada a sedição do Quebra-quilos havia uma forte instabilidade nas relações entre a Igreja e o Estado, sendo a maior parte delas ocasionadas pelas declarações do Bispo de Olinda/PE, Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira (1844/ 1878), que inclusive chegou a ser preso e condenado por ordem do governo imperial.
Em Campina, o Vigário Calixto Correia da Nóbrega era um grande entusiasta das idéias que povoavam aquela época, tomando fôlego após a prisão de D. Vital em 1874.
Expulsou os maçons da igreja e convidou o Padre-mestre Ibiapina a abrir missões em sua paróquia. O missionário era por muitos considerado santo e insuflado de devoção fervorosa passou a pregar “a não pagarem impostos a um governo herético, que tem contra si o anátema da Santa Sé”. Arrependido de seus excessos, volta à missão apostolar e a construir suas casas de caridade.
Silvino Elvídio Carneiro da Cunha - futuro Barão do Abihay – em seu relatório à Assembléia Legislativa, aponta a questão religiosa como causa principal do levante:

Esta província, que sempre se distinguiu em todas as épocas pelo seu conhecido espírito d’ordem e respeito às autoridades, em Novembro do ano próximo passado foi vítima, em diversos municípios, das ciladas dos agitadores, e fanatismo religioso, sob o pretexto dos impostos provinciais e leis de alistamento do exército e armada e do sistema métrico decimal.” (MS 09.10.1875).

Apoiava-se o governo em um relatório produzido pelo Chefe da Polícia Dr. Manuel Caldas Barreto, que suspeitava das participações dos padres Calixto e Ibiapina e apontava Irineu Jóffily como um dos inspiradores da sedição do Quebra-quilos.
Enquanto isso, o jornal carioca A NAÇÃO noticiava em sua segunda página:

O Presidente da Parahyba, logo depois dos primeiros movimentos sediciosos, creou 11 destacamentos da guarda nacional, um na capital, e os outros nos municípios do Pilar, Pedras de Fogo, Ingá, Mamanguape, Arêa, Bananeiras, Alagôa Grande, Alagôa Nova, Independência e Campina Grande.
Pensa o mesmo Presidente que a questão religiosa é o motivo principal desses movimentos, para os quaes tem concorrido não só os devotos da fazenda provincial, obrigados a satisfazer seus compromissos, como os criminosos de toda a ordem, que estavam soffrendo incessante perseguição.
Segundo consta de officio de 6 do corrente do presidente da Parahyba ao de Pernambuco, foram presos naquella e remetidos para esta província o bacharel Francisco Lucas de Souza Rangel,  a quem se attibue participação nos movimentos sediciosos, e um padre jesuíta que com elle se achava (...)”. (A Nação: jornal político e comercial. Publicação da tarde de 22 de dezembro. Ano III. Rio de Janeiro/RJ:1874).


Em Pernambuco, D. Vital foi condenado por desobediência em 21 de fevereiro de 1874 a quatro anos de prisão com trabalho e custas, pena comutada pelo imperador em prisão simples. E por idêntico crime o Bispo do Pará D. Antônio de Macedo Costa.
O marquês de S. Vicente, ao justificar seu voto em 1875 acerca dos bispos condenados, afirmou: “o que há da parte da Igreja é um sistema organizado e firmemente disposto a predominar sobre o poder político. Vencê-lo ou capitular a questão
Na Paraíba o Padre Ibiapina, coadjutor do vigário campinense, sequer chega a ser denunciado. O Seu nome já era mito tendo o governo recuado prudentemente.
Quanto ao Padre Calixto, este foi preso e trazido para a cidade da Parahyba (atual João Pessoa) para ser julgado pelo Tribunal do Júri, tendo Irineu Joffily como seu advogado.
O clero veio em seu socorro. A esse respeito, encontramos no livro “A Maçonaria e os Jesuítas” a seguinte nota:

Tanto mais que um só padre não poderá ser indigitado, como realmente culpado. O próprio que ora está preso por este motivo, só tem um crime, mas crime gravíssimo, - é de haver tentado expelir a Maçonaria das Irmandades de sua Parochia. (184)”.

_____________
(184) O Revd. Vigário de Campina Grande, Padre Calixto Corrêa da Nobrega, foi pronunciado e preso por suposta intervenção nos movimentos sediciosos; ao passo que, não só é elle no todo inocente do crime que lhe impuseram, como até muito concorreu para apaziguar as iras populares” (OLIVEIRA: 1875, p. 138/139).


Como também os poderes constituídos locais. O Juiz de Direito da Comarca de Campina Grande, em resposta a uma petição do dito Vigário escreve:

 “Attesto que o supplicante prestou a mim e às demais auctoridades desta comarca o mais prompto auxílio no intuito de restabelecer a ordem pública alterada pelo movimento popular, que nella se levantou no fim do anno próximo passado, convocando os seos parochianos para acudirem à defesa desta cidade quando fosse ameaçada de ser invadida pelos grupos sediciosos, apresentando-se com esses parochianos a mim para todos os misteres do serviço publico, acudindo às feiras desta cidade quando invadidas por esses grupos, para por meio de conselheiros dispersal-os; e praticando outros atos compatíveis com o seu ministério, tendente à pacificação de minha comarca. Cidade de Campina Grande, 13 de Fevereiro de 1875. – Antonio da Trindade Antunes Meira Henriques”.


E neste mesmo sentido, atesta o Bacharel Bento José Alves Vianna, Juiz municipal do mesmo termo:

“Attesto que o supplicante não só auxiliou as auctoridades desta comarca durante os movimentos sediciosos que nella tiveram lugar, como também foi um dos principais elementos da ordem, aconselhando e dissuadindo o povo a não prosseguir em taes desatinos, e finalmente que poz todos os seus serviços no sentido de serem os sediciosos repellidos e restabelecida a ordem. Campina Grande, 13 de fevereiro de 1875. – O Juiz municipal, Bento José Alves Vianna”.

E ainda o Delegado de Polícia do município de Campina:

 “Attesto para affirmativa o que me requereo na petição supra o Revdo. Vigário desta freguezia, Calixto Corrêa da Nobrega; pois que tanto pelas diligências policiais que a procedi para descobrimento dos cabeças dos movimentos populares deste termo, como pelas informações das auctoridades superiores a pessoas gradas deste mesmo termo, não resultou indício algum da participação nesses movimentos e desrespeito às leis, e às autoridades contra o supplicante, o qual desde a minha chegada neste mesmo termo, pôs à minha disposição todos os seos serviços para o restabelecimento da ordem publica. Cidade de Campina Grande, 18 de fevereiro de 1875. – João Theodoro Pereira de Mello”

João Theodoro Pereira de Mello era Oficial da Imperial Ordem da Rosa, Cavaleiro do Cruzeiro de Cristo e S. Bento de Aviz, condecorado com a medalha de campanha do Estado Oriental em 1852, e com a do Mérito Militar, Tenente-coronel Comandante do 14º Batalhão de Infantaria por S. M. Imperial da Província da Parahyba do Norte:

Ao final do processo o Padre Calixto foi absolvido e permaneceu na direção de sua paróquia até a morte, sendo sucedido pelo Monsenhor Sales que assumiu a Matriz de N. S. da Conceição aos 25 de março de 1885.

Rau Ferreira

Fonte:
- ALMEIDA, Horácio de. D. Vital e a questão religiosa no Brasil. R.IHGB. Vol. 323. Abril/Junho de 1979. Departamento de Imprensa Nacional. Brasília: 1980.
- ALMEIDA, Horácio. Brejo de Areia: memórias de um município. 2ª Edição. UFPB: 1980.
- Annais do Parlamento Brasileiro. Congresso Nacional. Câmara dos Deputados. Rio de Janeiro/RJ: 1875.
- BARROS, Luitgarde Oliveira Cavalcanti. A terra da Mãe de Deus. F. Alves, 1988.
- CUNHA, Silvino Carneiro da. Relatorio apresentado à Assembléia Legislativa da Província da Parahyba do Norte em 7 de agosto. Typ. Jornal da Parahyba. Parahyba do Norte: 1874.
- IHGP, Anais do Ciclo de debates do. A Paraíba nos 500 anos do Brasil. Disponível em: www.ihgp.net/
- OLIVEIRA, Vital Maria Gonçalves. A maçonaria e os jesuitas: instrucção pastoral do Bispo de Olinda aos seus diocesanos. Typ. do Apostolo. Rio de Janeiro: 1875.
- Revista de Cultura. Volume XVIII. Julho/Dezembro. Rio de Janeiro/RJ: 1935.
- RODRIGUES, José Honório. Atas do Conselho de Estado: Terceiro Conselho de Estado, 1875-1880. Vol. X. Obra comemorativa do sesquicentenário da instituição parlamentar. Centro Gráfico do Senado Federal. Brasília: 1973

0 comentários



Postar um comentário

 
BlogBlogs.Com.Br