Recebi das mãos da bacharel em História, e funcionária do Ministério da Saúde (em Campina Grande), Gilvanete Rocha do Bu, uma cópia do importante documento, “Açúde Bodocongó”, sobre a construção daquele açude, documento este que fará parte do acervo do Instituto Histórico de Campina Grande. E como se fez premente sua divulgação devido ao centenário da data de ‘inauguração’, vai aqui um comentário, além da excelente descrição proporcionada por Elpídio de Almeida, em seu História de Campina Grande.Tudo teria começado em 1911, quando se vivia uma seca, quando o Inspetoria de Obras Contra a Seca (IOCS), criada, em 1909, no governo de Nilo Peçanha, sob a direção do engenheiro, Miguel Arrojado Lisboa projetou a construção do açude, 6 km acima da cidade. O lugar escolhido, o sítio Catirina (ou Santa Catarina), a 5 km de distância de Bodocongó, logo se revelaria impróprio, devido à água ser salobre e o recinto, pequeno. Só, em 1915, com a seca de novo à porta, é que retornaram os estudos e o local escolhido para a barragem foi o riacho de Bodocongó.
Segundo Elpídio foi fundamental a eleição de Epitácio Pessoa, como senador em fins de 1912 e, em 1915, “o ano do flagelo”, o senador visitou Campina Grande. Cristiano Lauritzen falava em aproveitar a mão de obra dos ‘flagelados’, que chegavam à cidade. Até que veio o engenheiro Júlio Barcelos e se decidiu pelo “lugar chamado Ramada, na confluência do riacho Bodocongó com o Caracóis” (que passa perto da FAP e Redentorista). Diz mais o historiador: “Além de ficar muito mais perto da cidade, dispensando a canalização e a caixa d’água, iria o coroamento da barragem servir de leito à estrada em construção, ligando Campina Grande aos sertões”.
A obra durou todo o ano de 1916, de intenso trabalho na remoção de pedras, com explosão de outras, usando-se 150 trabalhadores, em que mais da metade era de ‘flagelados’ (não concordo com este termo; pois seca não é castigo, flagelo, discurso religioso). O documento (hoje, do acervo DNOCS) traz toda descrição da construção, das obras de engenharia, plantas baixas, a demarcação da bacia hidrográfica e hidráulica (calculava-se em 90.000 m²), constituída, então de nove córregos e dois riachos. Preços/custos, diárias, e a economia que se fizera usando material local, para não se gastar cimento, já que era importado; o Brasil, praticamente, não o produzia. E o que é também importante, traz a cartografia (em tamanho reduzido) do sítios desapropriados por 10 contos de réis e os nomes de seus proprietários: Franklin Clemente de Araújo, Salvino Gonçalves de Souza Figueiredo, José Baptista Flor, Manoel Ildefonso de Oliveira Azevedo, José Ferreira de Queiroga (Queiroz, na planta), Joaquim Monteiro da Silva, Joaquim Gomes da Silva e as irmãs, Carlota, Ângela, Maria e Joana Rozalino de Araújo.
Em março de 1917, foi inaugurado pelo Mestre Inverno com uma bela sangria. Se nãos serviu para o abastecimento da cidade, devido à água ser, também, salobre, teve, segundo analistas locais, estudiosos universitários, grande importância, para os estudos de limnologia e serviria para a introdução da piscicultura no Nordeste, através do pesquisador Rudolf Von Ihering, na década de 1930, que morou em Campina. Sua barragem também foi utilizada como ponte/rodagem para a estrada do sertão. Nos anos 50, atrairia os trilhos da Reder Ferroviária do Nordeste, além da pioneira (fora do perímetro urbano) fábrica têxtil, e curtume. Como deixou registrado o prefeito-historiador: “Não diminuiria a crise da água potável. Mas o trabalho não se perdeu. Se não prestou os serviços desejados, veio mais tarde a impulsionar a formação de um novo bairro, um industrial, que tanto está concorrendo para a expansão e o desenvolvimento econômico de Campina Grande.
Portanto, em 10 de fevereiro de 1917, diz o documento, o engenheiro civil, Dr. José Pires do Rio (que se tornaria Ministro da Viação e Obras Públicas de Epitácio Pessoa) veio inspecionar a obra acabada. Podemos dar esta data como a inauguração? Então, viva Bodocongó-Congó!
Matéria exibida na TV Borborema, afiliada do SBT em Campina Grande - PB.
Repórter: Carla Amorim; Imagens e edição: Elthon Dantez.
Bodocongó - Jackson do Pandeiro
Amei! Recomendo a leitura.