Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
retalhoscg@hotmail.com

QUAL ASSUNTO VOCÊ ESTÁ PROCURANDO?

por Eduardo de Castro (*)

Dom João VI, Príncipe do Brasil à
época da Vila Nova da Rainha. 
Ao longo dos anos, principalmente na última, década. A fundação de Campina Grande tem sido
objeto de discussão. A dita história social afirma que Campina Grande foi fundada pelos índios Ariús, uma afirmação desonesta intelectualmente, pois como se sabe o conceito de cidade, ruas, casas, iluminação, concentração do comércio e atividades artesanais é essencialmente europeu, provindo das aglomerações de artesãos e mercantes chamados de burgueses que muravam esta aglomeração de pessoas e habitações com paliçadas ou muros de pedra e passou-se a chamar de burgos. O aldeamento não é necessariamente uma forma de cidade, dadas as inúmeras diferenças de atividades e organização, assim, o local chamado de Campina Grande passou a constituir uma cidade a partir da chegada de atividades econômicas e culturais como a formação de ruas, edificações de casas em separado por famílias, produção de gêneros alimentícios de forma sedentária e o comércio dos mesmos e demais itens. Por fim, faz-se óbvio crer que o local Campina Grande, passou a ser um embrião de cidade com a chegada dos colonos portugueses, afinal, a administração, aplicação das leis para todos os membros, logicamente respondia à Portugal e El Rey. Fechando o argumento, também é natural crer que aqui só passou a se chamar Campina Grande com a chegada de lusófonos, pois nenhuma das duas palavras que constitui o nome da cidade é de origem indígena. A conclusão simples é que Campina Grande partiu de um empreendimento dos colonos portugueses e não de uma aglomeração indígena, muito embora aqui residissem também os Ariús, a articulação entre os nativos e os colonos permitiu a formação da comunidade, sua defesa durante a Guerra dos Bárbaros com a aliança entre Teodósio de Oliveira Lêdo e o índio Cavalcanti.

No entanto, fica em aberto quando ocorreu a fundação oficial de Campina Grande a partir da Vila Nova da Rainha. Porém, esta lacuna é preenchida pela história de Paulo de Araújo Soares Filho. Bisneto de Teodósio de Oliveira Lêdo e neto de Dona Adriana de Oliveira Lêdo, filho de seu homônimo português, natural de Viana do Castelo no Reino de Portugal. Mas porque não conhecemos esta história? Ou melhor, porque ela nos é escondida? Mistérios historiográficos. Na verdade, mistério nenhum. Pois mais uma vez o grupo de historiadores da escola da História Social (àquela que tem influências Marxistas e de Gramsci) quer desfazer a identidade cultural, corroer nossos símbolos e a história dos heróis, criando sempre grupos que se enfrentam na famigerada “agravação da luta de classes”. Uma pena que nossa história seja tão atingida por esta forma de pensamento.

Paulo de Araújo Soares foi Sargento-Mor das Ordenanças de Portugal. Casou-se com Bárbara Maria de Jesus Carvalho. Foi possuidor de diversas fazendas, e desempenhou atividades econômicas de empréstimo e guarda de quantias em dinheiro, dada a falta de bancos na época, se estabeleceu na Fazenda Logradouro nas imediações do Vale de Santa Rosa. Sem dúvida, da história do século XVIII no interior da Paraíba, foi ele o homem de maior prestígio e influência social, superando inclusive sua avó Dona Adriana. O Sargento-mor destacou-se por ser homem de confiança dos Governadores da Capitania da Parahyba e posteriormente desta mesma Província. Viveu a transição de Colônia Portuguesa do Brasil para o Reino do Brasil unido à Portugal e Algarves. Assim, tendo sido um dos correspondentes de José Bonifácio de Andrade e Silva, conselheiro de Dom João VI e de Dom Pedro I, também futuro articulador da Independência do Brasil quando do famoso Grito do Ipiranga. Porém, o maior destaque de Paulo, foi ter sido o jogador por trás do xadrez da elevação da Freguesia de Campina Grande à Vila Nova da Rainha. Cabe aqui destacar, que freguesia, no sistema português, corresponde à bairro ou paróquia. Já vila é uma etapa anterior ao que se chamava de Concelho ou Município. 

De acordo com Tarcísio Dinoá, o Governador de Pernambuco, Tomás José de Melo, sob o qual estava submetida a Capitania da Parahyba (1755-1799), recebeu uma petição encabeçada pelo Coronel José da Costa Romeu em 1786, “homem bom” da Freguesia de Nossa Senhora dos Milagres do Cariri de Fora (atual São João do Cariri), solicitando que esta freguesia fosse elevada à vila, com o título de Vila Nova Da Rainha. Na petição, constavam outros homens-bons, isto é, aqueles que correspondiam às exigências de quantidade de posses para voto, entre eles Inácio de Barros Leira, Filipe de Faria Castro e José Félix de Barros Leira. 

O Governador General concordou com tal pedido e enviou à região o Ouvidor e Desembargador Antônio Felipe Soares de Andrada Brederodes, seu homem de confiança, para que fosse realizar a elevação à vila de tal localidade e, ao mesmo tempo, também a elevação das povoações que são hoje Caicó e Açu, no Rio Grande do Norte, à Vila Nova do Príncipe (futuro Dom João VI) e Vila Nova da Princesa, respectivamente. Ao chegar à região, o Desembargador deparou-se com uma comitiva de homens do alto do Planalto da Borborema, liderados por ninguém menos que o Sargento-Mor Paulo de Araújo Soares que queria convencê-lo à elevar a Vila a Freguesia Nossa Senhora da Conceição de Campina Grande ao invés da Freguesia do Cariri de Fora. Evidentemente que houve a disputa política entre os homens bons do Cariri e os do alto da serra, mesmo assim o Governador aceitou as ponderações e razões apresentadas pelo grupo favorável à Campina Grande, homologando a decisão do Desembargador em 1790. Mediante os seguintes argumentos enviados na forma de carta sobre as imediações do local: 

“serem as terras de lavouras e de boa produção; junto aos melhores brejos daquela freguesia, com abundância de farinhas não só para sustentação dos moradores como ainda para os lugares mais remotos que para lá correm”

Argumentando também, que a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição, no local Campina Grande era também ponto estratégico do comércio da região:

“por ficar na estrada geral que vai destas praças para os sertões, comércio este que serve de muita utilidade às vilas e povoações”

Por fim, a argumentação foi um pequeno ataque à Freguesia de Nossa Senhora dos Milagres de Cariri de Fora: 

“Os moradores da freguesia de Nossa Senhora dos Milagres requereram a Vossa Excelência para que se fizesse a vila naquele lugar com o fundamento de que só nele havia pessoas poderosas para sustentação da vila. O que se vê pelo contrário, por ser lugar estéril, de sorte que vivem os moradores que nele habitam miseráveis por razão de não terem farinhas para sua sustentação por virem procurar o socorro nos brejos daquele lugar distantes mais de vinte léguas.”

A então belíssima Princesa do Brasil Dona Maria.
Rainha de Portugal, Algarves e Brasil.
Entrou para a história como "A Piedosa"
 e posteriormente como "A Louca", pois
adquiriu uma doença mental já no fim da da vida,
passando a regência a Dom João VI.
Logicamente que o cabedal financeiro e político de Paulo tiveram preponderância maior. Como naquela época, a política se decidia de forma natural através da troca de favores, bens e títulos, com a elevação da Freguesia de Campina Grande à Vila Nova da Rainha não foi diferente. Assim, o Desembargador Brederodes, recebeu uma quantia de 200$000, duzentos mil réis do Sargento-mor e também uma boa quantidade de gado, que prosperando, serviram-lhe para quitar a quantia de 800$000, oitocentos mil réis que o desembargador já devia previamente à Paulo de Araújo Soares. Assim, consistindo numa enorme doação a Freguesia de Campina Grande, futura Vila Nova da Rainha da parte do Sargento-mor.

Fica claro aqui, com uma apresentação honesta da história, que Paulo de Araújo Soares, como descendente de Dona Adriana de Oliveira Lêdo e do Capitão-mor Teodósio de Oliveira Lêdo foi possuidor do espírito de colaboração com sua região e comunidade, mais uma vez a gênese de um dos muitos povos paraibanos se deus graças a um Oliveira Lêdo. O sargento-mor fora um homem do seu tempo, não teve nenhuma excentricidade, igual à todos os homens bons de sua época, perseguiu uma patente das Ordenanças Portuguesas, fundou inúmeras fazendas, converteu terras devolutas em sesmarias em consórcios com outros associados onde realizou-se a criação de gado, atividade típica de todos os Oliveira Lêdo do século XVIII. Porém, foi graças ao seu espírito empreendedor que hoje a Vila Nova, tornou-se Rainha da Borborema.

Cartas de pedido de confirmação das duas sesmarias das quais Paulo de Araújo Soares foi beneficiário:

Nº 1135 em 17 de Julho de 1823

          "Sargento-mór Paulo de Araujo Soares, Francisco Pereira Pinto, Antonio Pereira de Barros e João da Costa Villar dizem que descobriram terras devolutas na Villa de Souza da Rainha (sic!), pegando das extremas da fazenda S. Pedro e vargem da mesma, contestando pelo norte com terras da Bôa Vista e S. Bento, pelo sul com terras da serra das Vargens de S. João e dos herdeiros de Ignacio de Barros, pelo nascente com as ditas terras de S. Pedro e vargens e pelo poente com Tapera, fazenda da Aldeia e S. João, e como dellas precisam pedem ditas sobras com tres leguas de comprido e uma de largo ou como melhor lhes for. Foi feita a concessão, pela junta provisoria da provincia, Estevão José Carneiro da Cunha, presidente, João Ribeiro de Vasconcellos Pessôa, João Gomes de Almeida, Antonio da Trindade Antunes Meira e João Barbosa Cordeiro, secretario."

Nº 1136 em 30 de Julho de 1823

           "Sargento-mór Paulo de Araujo Soares, Francisco Pereira Pinto, Antonio Pereira de Barros e João da Costa Villar dizem que requerem terras devolutas no termo da Villa Nova da Rainha, pegando das extremas da fazenda S. Pedro e vargem da mesma, contestando pelo norte com terras da Bôa Vista e S. Bento pelo sul com terras da Serra das Vargens de S. João, e herdeiros de Ignacio de Barros, pelo nascente com as ditas terras de S. Pedro e vargens e pelo poente com terras da Tapera, fazenda da Aldeia e S. João. Ocorrendo embargo a junta do governo da provincia, Estevão José da Cunha, presidente, João Ribeiro de Vasconcellos Pessôa, Antonio da Trindade Antunes Meira, João Gomes de Almeida e João Barboza Cordeiro, secretario, mandou passar aos embargantes Ajudante José Gomes de Faria, alferes Antonio Gomes de Faria, D. Francisca Maria da Conceição e mais herdeiros da fallecida D. Maria José Pereira de Araujo a metade das sobras das terras pedidas pelos sobreditos, incluindo nessa metade o logar Gado Brabo de que os ditos embargantes estão de posse, não excedendo a quantidade legal".


Referências:
(1) –Antônio Pereira de Almeida.  “Os Oliveira Lêdo – De Teodósio de Oliveira Lêdo à Agassiz Pereira de Almeida”
(2)-Tarcízio Medeiros Dinoá. "Ramificações Genealógicas do Cariri Paraibano". Cergraf.
(3)- Francisco de Assis Ouriques Soares. "Bôa Vista de Sancta Roza". Da fazenda à municipalidade. Epgraf


(*) Eduardo de Castro é Engenheiro Mecânico em tempo integral, 
Cinéfilo, Historiador e Heraldista amador.
Texto publicado em seu blog pessoal: http://eduardodecastro.weebly.com/

3 comentários

  1. Soahd on 7 de agosto de 2015 às 09:45

    A instalação da nossa Vila Nova da Rainha (Homenagem a Maria Louca) foi, digamos assim, uma "passada de perna" em São João do Cariri (melhores famílias com letrados) para ficar em Campina Grande (tropeiros e pessoas populares) e para isto como primeiro passo, uma verdadeira "molhada de mão" através da articulação de Paulo Soares, que duvido que argumentos sozinho tirasse esta missão do Desembargador Brederodes seguir viagem para os Cariris Velhos, é claro que a turma dos Cariris velho sabendo da marmota, pede para o rei nova avaliação e "fuxica" esta corrupção, mas ao enviar segundo avaliador para tal procedimento, realmente entra ai o fator climático e estratégico de localização para definição que a Vila deveria ser mesmo aqui, e monta-se o juizado com quem, grande parte da famíliar da Fazenda Logradouro...rsrsrs

     
  2. Unknown on 7 de agosto de 2015 às 22:49

    Rica história a nossa,além disso,corroborando o acerto da decisão a nosso favor,além do fator climático,o que me espanta é nossa localização estratégica.
    Prova disso é o grande tráfego aéreo sobre nossas cabeças,pelas chamadas aerovias, de vôos transcontinentais em demanda dos principais aeroportos da Europa Ocidental partindo de S Paulo,ou no sentido inverso.
    Ao longo dos séculos continuamos bem localizados...


    Braulio José Tavares

     
  3. Anônimo on 16 de agosto de 2015 às 19:41

    Ha controversia sobre a ascendencia do Sargento Mor Paulo de Araujo Soares. Segundo Elpídio de Almeida na Historia de Campina Grande, Teresa Pereira de Jesus, mãe do Sargento Mor, era neta de Adriana de Oliveira Ledo. Portanto, Paulo de Araujo Soares seria bisneto de Adriana e trineto de Teodósio de Oliveira Ledo.

    Alberto Cavalcanti

     


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