Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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QUAL ASSUNTO VOCÊ ESTÁ PROCURANDO?


Maria Garrafada
MESTRA DO AMOR, PECADORA E SANTA
Autor: Manoel Monteiro
Membro da Academia Brasileira de Literatura de Cordel


-01-
O século passado foi
Rico em criar personagens
Dos mais diversos matizes,
Das mais típicas linhagens;
Destacando, a lira arguta
Vai render a uma puta
As mais justas homenagens.


-02-
CAMPINA GRANDE cresceu
Graças a força empenhada
Por forasteiros e filhos
Desta terra tão amada,
Dentre os nomes que se inscreve
Um � quem CAMPINA deve
É MARIA GARRAFADA.
-03-
Todos deram ajuda GRANDE
Para construir CAMPINA
E MARIA GARRAFADA,
Logo cedo, bem menina,
Instalou próspero empório
Que tinha como escritório
As entranhas da vagina.


-04-
MARIA foi tão somente
MARIA só, e mais nada,
Alquimista intuitiva
Criou meizinha afamada,
Que fabricava e vendia
A qual deu-lhe o nome um dia
De MARIA GARRAFADA.
-05-
MARIA sem sobrenome
Sem passado ou tradição,
Sem procedência importante
Sem orgulho ou ambição
Sem apegos e sem laços
Viveu de vender pedaços
Do seu grande coração.


-06-
Ela que mercadejava
O amor por atacado
Sabia os riscos que corre
Quem vive nesse mercado
Mesmo porque muitas vezes
Viu alguns dos seus fregueses
“Comprar produto” estragado.
-07-
Antes da penicilina
A pessoa “premiada”
Com uma venérea estava
Numa tremenda enrascada
Da qual por vez não saia,
Para ajudá-los, MARIA,
Formulou a GARRAFADA.


-08-
Ela que portava o mal
Também ofertava a cura
Não tinha culpa de ser
Objeto de procura,
Corria riscos constantes
Igual, ou mais que os amantes
Nessa vida de aventura.
-09-
MARIA nos verdes anos
Fez da profissão antiga
Um sacerdócio e um bem,
Afável, doce e amiga;
Na idade matutina
Doou-se inteira � CAMPINA
Como prima-rapariga.


-10-
No bordel de um leito só
Era um vai-e-vem diário
De gente importante e rica,
Camponês e proletário,
Velho fazendo mestrado
E jovem pouco ilustrado
Fazendo o curso primário.
-11-
No Beco da Pororoca
Instalou seu paraíso
Aonde CAMPINA-homem
Baixava, quando preciso,
Na ânsia de conhecer
Os mistérios do prazer
O amor pleno e conciso.


-12-
� Numa cama pobre e tosca
Sob a luz bruxuleante
Duma lamparina acesa
Com sua chama ondulante
Esfumaçava paixões
De imberbes rapagões
Nas mãos de MARIA amante.
-13-
MARIA, corpo de louça,
Olhos ternos, voz serena,
Mãos de fada na carícia,
Parceira de Madalena
Nessa profissão sem nome
A não ser que você some
Nomes que vão a dezena.


-14-
As prostitutas do mundo
Muitos outros nomes têm:
Um, Mulher da Vida Fácil
Pois acham que vivem bem,
Mas isso é pura besteira,
Quer ver se a vida é maneira?
Caia na vida também.
-15-
Catraia, quenga, piranha
É assim que o povo chama,
Biscate, puta, rameira,
Quebra-galho, mulher-dama,
Mas sendo em sociedade
Ganha nova identidade
Pra ser Moça de Programa.


-16-
A puta é como o palhaço
Que jamais pode deixar
Transparecer seus problemas
Para não contrariar
Os que querem diversão
Mesmo porque a função
Precisa continuar.
-17-
MARIA igual a Maria
Aquela da Palestina
Também sofreu seus tormentos
Mas sem maldizer a sina,
Padeceu no paraíso,
Se triste, fez-se em sorriso
Pelas noites de CAMPINA.


-18-
Foi namorada e amante,
Conselheira e confidente
De uma cidade inteira
Rica de bens, mas carente
De um corpo disponível
Que aceitasse passível
O desfrute permanente.
-19-
MARIA dava de graça,
Por muito, ou pouco dinheiro,
Seu negócio era manter
Os fregueses do puteiro
Onde era Mestra e Doutora,
Dona, serva e criadora
Do comércio pioneiro.


-20-
Numa ruazinha estreita
MARIA fez o seu ninho
Onde – vendia um “pedaço”
do corpo – ou dava todinho,
Alma, vida, coração,
Mais amor, e mais paixão,
Mais ternura e mais carinho.
-21-
“Comprar” mulher não é coisa
Que se chame novidade,
Você “compra, paga e usa”
Quando bem lhe dá vontade,
“Come” e fica satisfeito
Mas deixa do mesmo jeito
Pra outra oportunidade.


-22-
Desse-lhe um copo de vinho,
Uma dose de licor
Ou uma pequena cédula
Do mais ínfimo valor
Isso bastava a MARIA
E ela retribuía
Com uma taça de amor.
-23-
Estava sempre ao dispor
Quer de noite, quer de dia,
Era só bater de leve
Ela solícita atendia,
Para a cidade carente
MARIA literalmente
Pernas e portas abria.


-24-
Na alcova MARIA
foi Passiva, ativa, instrutora,
Recatada, libertina,
Maternal e professora
Por isso reconhecida
MARIA foi nessa vida
A mais Santa-pecadora.
-25-
MARIA ensinou CAMPINA
A arte da putaria,
Moça cair na fuzarca,
Rapaz “chupar” porcaria;
Velho quando estava seco
Era só passar no Beco
E afogar-se em MARIA.


-26-
Muitas damas da cidade
Hoje matronas casadas,
Com esposo/filhos, netos,
Proles bem estruturadas;
Não esquecem que um dia
Foram da Mestra MARIA
Alunas bem aplicadas.
-27-
Estou relembrando isso
Mas sem recriminação,
Quem deu, se deu porque quis,
Por amor, ou precisão,
Deu uma coisa que dando,
Não diminui, vai somando
Prazer e satisfação.


-28-
Também muitos cavalheiros
Dos quais ninguém desconfia
Freqüentando a Pororoca
Forçaram na fantasia,
Em noites de vinho e tara
Findaram metendo a cara
Entre as pernas de MARIA.
-29-
Nesse caso eu digo o mesmo,
Se fez e fez porque quis,
Sem MARIA forçar muito
A cara do infeliz
Não vou condenar ninguém
Pois cá pra nós, eu também
Algumas besteiras fiz.


-30-
Mesmo o passado só serve
Para lembrar no futuro
E aquilo que se deu
Numa alcova ou quarto escuro
Só aos dois interessa
Sendo melhor que a conversa
Jamais ultrapasse o muro.
-31-
Homem vence touro brabo
Mas a mulher o “derruba”
Anotem, pois alguns nomes
Dos que fizeram suruba
Com MARIA GARRAFADA:
- Seu Terto passou noitada
Com Severo e Carnaúba.


-32-
Francisco da Marinete,
Carlos, dono do Abrigo
Numa noite fraquejaram
Igualzinho � seu Rodrigo
Que ao lembrar-se do Beco
Ficava engolindo em seco,
Porque? Eu sei, mas não digo.
-33-
Dr. William de Brito
Ilustre cardiopata
Numa noite de gandaia
Bebeu que meiou a lata
Depois caiu na orgia
E lambeu tanto MARIA
Que ficou de venta chata.


-34-
O industrial Serginho
Aquele da Tecelagem
Era lambedor de fama
E contava pabulagem;
O Chefe da Estação
Num concurso de chupão
Ganhou com 10 de vantagem.
-35-
Mesmo arriscando o pescoço
De delatar eu não fujo
Pois MARIA me contou
Que o empresário Araújo
Nas noites que a visitava
Dificilmente escapava
Sair de bigode sujo.


-36-
Na lista dos lambe-lambe
Estão Quirino e Lindolfo,
Anézio, Mário e Luiz,
Asdrúbal, Santos, Rodolfo,
Tavares, Costinha, Paulo,
Wanduy, Marquito, Saulo,
José, Valdez e Sindolfo.
-37-
Alfredo da Padaria,
Tenório, Cícero, Cabral,
Antunes que ajudava
As missas da Catedral;
Segundo contou MARIA
A relação encheria
Um caderno de jornal.


-38-
Por favor, não vão sair
Suspeitando de ninguém
Porque os nomes acima
São fictícios e quem
Vai fazer o papel feio
De mostrar o erro alheio
Se tem seus erros também?
-39-
Os nomes foram trocados
Mas a história é real,
O Beco da Pororoca
Por décadas foi o local
Onde se achava MARIA
E a cidade fazia Repetido bacanal.


-40-
Na Escola da Pororoca
A estudantada via
Uma oportunidade
De aprender anatomia,
MARIA ensinava tudo
Era o compêndio de estudo
Onde a moçada aprendia.
-41-
Foi desgastando-se aos poucos
De tanto ser folheada,
Cada ruga que surgia
Era uma folha rasgada,
Chegando ao final do conto,
Resta uma cruz, como ponto,
De MARIA GARRAFADA.


-42-
MARIA, jovem, vendia
Beleza, lascívia e graça
E quando passava enchia
De brilho os olhos da praça
Mas o tempo foi passando
E MARIA foi ficando
Como vitral que se embaça.
-43-
Seus trejeitos sensuais,
Seus meneios provocantes,
Seu corpo de saciar
A sede de mil amantes
Dando amor e recebendo
Aos poucos foi perdendo
As belas formas de antes.


-44-
MARIA, Santa MARIA
Deu a cidade que amou
Seu corpo em flor de menina
Assim que desabrochou,
Mas como tudo é furtivo,
Um dia, assim, sem motivo
MARIA inerte, murchou.
-45-
CAMPINA sentindo falta
Da puta mais festejada
Mestra na arte sublime
De dar prazer � moçada
Por ser de pleno direito
Queda-se rendendo um pleito
A MARIA GARRAFADA.


-46-
CAMPINA cidade obreira
Feita por gente impoluta
É GRANDE porque nasceu
Com muito trabalho e luta
De criadores, tropeiros,
Filhos natos, forasteiros,
Índio, branco, preto e puta.
-47-
M – ÁRIA, estes versos são
A – minha humilde oferenda
N – ão devo esquecer que em vida
O – teu corpo esteve � venda;
E – ras Santa e dissoluta,
L – inda, pecadora e puta,
M – ULHER, mulher, rica prenda.


3 comentários

  1. Jobedis Magno de Brito Neves on 4 de junho de 2011 às 20:01

    Parabens ao site por divulgar o cordel sobre Maria Garrafada (uma das damas da noite mais famosa de nossa cidade do passado). No ciclo do algodão que aconteceu em nossa cidade atraia gente de todos os cantos do Brasil e do Mundo e a diversão desse pessoal era ir para os cabarés. Os bregas de antigamente os dias se transformavam em noites, estas em madrugadas. Quase todos os homens endinheirados freqüentavam os antigos cabarés da Rua Manoel Pereira de Araujo a famosa “Rua Boa”. Era compradores de algodão, engenheiros, advogados, autoridades em geral desfilando garbosamente nos salões de dança, atraz das damas e heroínas da noite (que não passavam de moças da roça ou meninas da cidade “que tinham se perdido”) . Antigamente a lei era dura: transou, não casou, vai para o cabaré. A presença desse pessoal endinheirado na “Zona” era uma festa. Com dinheiro no bolso, era “disputado” a tapa pelas raparigas.

     
  2. poetaalberto on 7 de junho de 2011 às 17:06

    Velho eu fiquei chocado com a variedade silábica sem falar no vocábulo, pois bem, eu escrevo cordel tenho um blog www.poetaalbertolima.blogspot.com
    inclisive estarei postando uma resposta aos meu leitores que me questiona, -de onde você tirou tanta escrotidão pra escrever A MULHER QUE MATOU O MARIDO PARA AMENCEBAR COM O JUMENTO, exatamente , essa abordagem sinuoso porém direta é massa.
    Sou de Salvador quanto estiver por aqui me ligue.
    Abraço

     
  3. Leda Maria on 11 de junho de 2011 às 09:33

    Merecida homenagem!

     


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