Fotos Google: Ruas Carlos Agra e Manoel Pereira de Araújo (Feira Central) |
(por Uelba Alexandre do Nascimento)
Durante todos os anos 1920 o local onde se concentrava o maior número de prostitutas e casas de pensão em Campina Grande era a antiga rua 4 de Outubro, atual Major Juvino do Ó, mais conhecida popular e sugestivamente como “Rói Couro”. Era uma das ruas centrais da cidade que ficava relativamente próxima as ruas mais freqüentadas pelas elites, como a rua Grande por exemplo. Essa proximidade incomodava, especialmente porque as mulheres circulavam e se exibiam muito próximas as “famílias de bem” e repugnavam os letrados, fazendo com que eles carregassem nas tintas e pedissem insistentemente para as autoridades a transferência do meretrício daquele local para um mais afastado.
Como os pedidos eram muitos e a solicitação de tomadas de providência por parte dos prefeitos da cidade eram constantes, as prostitutas foram transferidas nos primeiros anos da década de 1930 para a região dos Currais, onde funcionava a feira de gado da cidade. Este local era uma área ainda marcadamente rural e pouco habitada, formada por pequenas casinhas e sítios cobertos de mato. O núcleo central desta área ficava a pouco mais de 100 metros da Vila Nova da Rainha, antiga rua das Barrocas(local em que se deu a origem do sítio que mais tarde se transformou em Campina Grande) e uns 300 metros da Igreja Matriz.
O local para onde se dirigiram as prostitutas e sua corte foi chamado de Mandchúria ou Bairro Chinês, numa provável associação com o episódio da invasão japonesa a região da Mandchúria na China por volta de 1931: “A transferência dos cabarés para os currais foi simbolicamente associada àquela invasão, talvez porque assim compreendessem os moradores que naquelas proximidades viviam, quando da chegada, ou “invasão”, da área pelas prostitutas e seus séqüitos. Chegaram àquele lugar, que até então concentrava boiadas e negociantes, raparigas mal-vestidas, marafonas, gigolôs, boêmios, cafetinas e cáftens, como invasores a ocupar e dividir o lugar com matagais, boiadas, cavalos, burros, merda e muito mau cheiro.”
Foram transferidas, segundo José Américo de Almeida, mais de 600 putas que “sifilizavam” os sertões da Paraíba.
Com as reformas ocorridas no centro da cidade a zona foi transferindo-se para as proximidades da feira central, entre as ruas Marcílio Dias, 12 de Outubro (atual Carlos Agra), Quebra Quilos e Manoel Pereira de Araújo (antiga 5 de Agosto), que comportava os melhores cabarés da cidade, ficando conhecida por “Rua Boa”. Segundo alguns memorialistas, a rua era “um esplendoroso mercado de luxúrias, que sobrevivia graças a um tipo de comércio confiscado pelas leis divinas, mas legalizado pela liberdade inconsciênte dos humanos.” Havia também a chamada rua da Pororoca, nas proximidades da Maternidade Elpídio de Almeida, que era conhecida e nomeada pelos seus freqüentadores como “Boa Boca”, onde se encontrava um dos mais conhecidos cabarés da cidade que era o de Maria Pororoca, eternizada na música de Jackson do Pandeiro juntamente com Josefa Tributino e Carminha Villar:
Oh linda flor, linda morena,
Campina Grande minha Borborema
Eu me lembro de Maria Pororoca,
De Josepha Tributino e Carminha Villar
Bodocongó, Alto Branco, Zé Pinheiro
Aprendi tocar pandeiro nos forrós de lá...
A zona permaneceu forte ali até o final da década de 1940, quando o comércio do algodão entrou em decadência e também pela retirada dos contingentes militares da cidade após o fim da II Guerra Mundial. Logo se transferiu novamente para o centro, para a região conhecida como Boninas, onde lá permaneceu por volta das décadas de 1950, 1960 e 1970, mas sem o mesmo encanto dos anos anteriores.
Por fim, foram surgindo no final da década de 1930 e início da década de 1940 outros locais de prostituição em Campina Grande nos bairros de José Pinheiro, Liberdade, local que era conhecido como “Deserto” 29 e Bodocongó, especialmente na Arrojado Lisboa e nas proximidades da conhecida “Volta do Zé Leal”, que segundo o memorialista Antonio Calixto, o local ficou conhecido como “Boca Quente”, por causa das constantes batidas policias ocasionadas pelos conflitos que lá ocorriam.
Íntegra do trabalho, disponível em:
http://www.snh2011.anpuh.org/resources/anais/14/1300668302_ARQUIVO_Mandchuria-ObairrochinesdeCampinaGrande-PB.pdf
Fotos Google: Antigo Casino Eldorado - Feira Central |
Famosa Rua boa, eu era criança quando circulava pela feira, com uns 10 anos, meu pai tinha uma loja na feira, chamada Feirão dos retalhos, e vivenciei a feira em sua plenitude por uns 3 anos, até ele se aposentar em 1980. Desde criança sabia que a feira de passarinho era na "Rua Boa", a famosa "Mané Pereira de Araujo", que andando por lá, comecei a perceber pelas mulheres "estranhas" que via ao longo da rua, depois meu pai, com seu jeitão aberto, fazia comentários de sua vida de rapaz que fazia eu somar o sentido de ser considerado "boa" a rua. Nunca gostei muito de andar por lá, tinha bêbados com mais frequência, então andava normalmente acompanhada.
Os mais antigos chamavam Manichôla.
Braulio José Tavares
Ainda vivi a época do "deserto 29", quando criança, meu pai era comerciante de bebidas, estivas e cereais e bem próximo de lá, ficava o não menos famoso "Cabaré de Dolores"
Lembro de algumas das moças que la trabalhavam: Edileusa, Cida, Jaqueline e Rosa.
Apos o falecimento da proprietaria, o prostíbulo foi vendido a uma contrutora que demoliu a casa e no local foi construido um prédio residencial.
Uma área que poderia ser um centro histórico de campina grande, hoje é totalmente abandonado as traças. Prova disso é o cassino eldorado que atualmente só existe as ruínas do prédio. Lastimável.
Vergonha das "autoridades" que, ao longo dos anos, deixaram que o El Dourado, um patrimônio histórico e cultural, se transformasse numa ruina.