Por: Vanderley de Brito
Historiador, sócio fundador da Sociedade Paraibana de Arqueologia
A maioria dos topônimos ainda em vigor nas regiões do Agreste, Brejo, Cariri, Curimataú, Seridó e do Sertão paraibano são originário dos princípios do século XVIII, quando os sertanistas começaram a ocupar estas regiões e solicitar Datas de terras ao governo da então Capitania da Paraíba. Estes topônimos eram dados como referencial do lugar e alguns lugares receberam o nome de Pedra Lavrada em função de haver uma pedra com inscrições rupestres gravadas a picão por sociedades pré-históricas. Dessa forma, lugares como o sítio Pedra Lavrada, no interior do município de Ingá, e a atual cidade de Pedra Lavrada, no Seridó do Estado, entre outras localidades, receberam esta nomenclatura em alusão às notáveis inscrições rupestres que referenciam estes lugares. O termo lavrado era muito comum até princípios do século XIX e já está em desuso, mas se referia a alguma coisa escrita ou ornamentada de lavores em relevo. Portanto Pedra Lavrada se referia a uma pedra com inscrições gravadas a cinzel.
Hoje não há nenhuma pedra a mostra com petróglifos em Campina Grande, mas temos um registro histórico que dá conta da existência de uma pedra lavrada onde hoje é área suburbana da Cidade. O registro é uma carta de doação do ano de 1790, quando o vigário de Campina Grande, padre João Barbosa de Góis Silva, cede ao Santíssimo Sacramento suas terras na data de Pedra Lavrada, próximas à Vila. Segundo consta, esta Data ficava meia légua ao “suleste” da Vila e, depois de doada, a propriedade passou a denominar-se “Terras do Santíssimo”. A Vila era no alto da colina onde se aglomerava as casas ao redor da igreja e, levando em consideração a referente localização das terras do Santíssimo, ou seja, três quilômetros a sudeste do centro da cidade, não resta dúvidas de que nestas terras, que tinham o nome de Pedra Lavrada, era onde hoje é o bairro do Catolé.
Pouco se sabe sobre as origens do bairro Catolé, mas, segundo estudos realizados pelo pesquisador Lincoln da Silva Diniz, no passado a sua área atual do bairro correspondia a um espaço de criações de gado, um ambiente dominantemente rural, e o nome do bairro se deve ao senhor José Evaristo Catolé, ou Zé Catolé, como era mais conhecido, que era bem conhecido na cidade pela qualidade da carne de sol que produzia. Segundo dados da Secretaria de Planejamento do Município, antigamente o bairro era divido em três grandes setores: Terras do Santíssimo, Catolé e o Prado, este último era o principal núcleo habitacional, formada por poucas ruas e ruelas habitadas por população pobre.
Em se tratando de uma suposta pedra lavrada, de acordo com o estudo da cultura de gravuras rupestres na Paraíba, este tipo de testemunho gráfico dos povos pré-históricos está quase sempre associado a um curso hídrico, especialmente em lugares onde formam corredeiras e, portanto, é provável que esta pedra com inscrições petrográficas se localizasse à margem do riacho do Prado, que é o nome que recebe o mesmo riacho das Piabas no perímetro em que passa a ser sangradouro do Açude Velho.
Embora atualmente o bairro do Catolé esteja bem urbanizado e o riacho cimentado, cremos que, como sugere as condições topográficas, o atual canal do Prado obedeça quase o mesmo trajeto do riacho primitivo. Não existem mais pedras afloradas a vista no bairro, mas acreditamos que a pedra lavrada que deu nome a região no século XVIII ficasse no lugar que hoje é conhecido como a “Pedreira do Catolé” que ficava próximo ao prédio do antigo CEDUC da UEPB na bacia do Açude Velho. Pois ali foi uma antiga pedreira explorada por muitos anos na extração de granito e em 1980, segundo uma matéria do jornal Gazeta do Sertão, ali eram depositados entulhos e lixo da cidade para preencher as crateras feitas pela pedreira, o lugar posteriormente se transformou numa favela, formada de casebres e lamaçal.
A pedra lavrada do Catolé deveria ser bem notável, caso contrário não daria nome ao lugar, e sua destruição deve ter ocorrido em fins do século XVIII ou início do século XIX, quem sabe não foi destruída para usar seus rachões na contenção das encostas do Açude Velho quando este foi construído? O certo é que na segunda metade deste século ela não mais existia, caso contrário Irinêo Joffily ou Maximiano Machado a teria referenciado em seus escritos, já que ambos se interessavam por inscrições rupestres e residiram por muito tempo em Campina Grande no século XIX.
Boa noite.
Muito interessante saber dessa informação. Minha família tem propriedade próxima ao canal do prado, no bairro da liberdade, e um dia desses meu pai me falou que quando meu Avô comprou a propriedade, era uma antiga pedreira que funcionou ate meados dos anos 60 para 70. Fiquei ate surpreso com a informação.
Parabens pelo blog, sempre que possivel dou uma olhada.
Morreu hoje no Recife, aos 90 anos, o artista plástico Abelardo da Hora.
Ele é o autor de mais de 1.800 obras(esculturas principalmente)entre elas a escultura da "Samaritana" que ficava localizada ali na praça da bandeira na beira de um lago artificial que existia na praça.
Como sabemos, a "Samaritana" hoje serve como alicerce(foi destruída para isto) de uma casa na vila Cabral de Santa Terezinha.
O então secretario de obras do municipio fez a "doação" da escultura a um motorista que prestava serviços a prefeitura, e estava precisando de "pedras" para fazer o alicerce.