Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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Cemitério Velho, Década de 1920

Campina Grande evidencia o ‘boom’ da expansão do mercado imobiliário, em vistas à inúmeras construções de condomínios verticais e horizontais, que modificam a antiga paisagem estática de alguns bairros da cidade. “Todo dia” um novo condomínio surge na cidade, sendo construídos em locais que outrora abrigara descampados, terrenos baldios ou campos de futebol amador – inclusive, alguns ‘times de pelada’ têm ficado sem seus campos  tradicionais para realização da prática desportiva dominical.

Em meio à substituição da paisagem campestre que ora vivenciamos, calha buscarmos dados históricos que remetem a um caso típico de ocupação de área existente para exploração comercial imobiliária: o antigo cemitério das Boninas, o chamado “Cemitério Velho”, primeiro Cemitério Público de Campina Grande.

Instalado no ano de 1857, sob orientação do pároco local o Pe. José Ambrósio da Costa Ramos para que se utilizasse a área existente no antigo Sítio Boninas, à 200 metros ao noroeste da antiga Igreja do Rosário, o Cemitério das Boninas ocupava a área onde hoje é a Rua Félix Araújo, no Centro da Cidade. Não era tão grande; possuía trinta metros de frente e uma extensão que previa atender uma população estimada de 2.000 vagas.

Sua implantação foi necessária após a dizimação de grande parte dos moradores da Vila Nova da Rainha após uma epidemia de cólera-morbus no ano de 1856 como também pela proibição de que pessoas continuassem a ser sepultadas nas Igrejas. Em Campina Grande vários notáveis foram enterrados na Igreja Matriz que possuía, inclusive, uma divisão de castas, onde os ricos eram sepultados na Capela-Mor, diante do pagamento de taxas mais altas para este privilégio. A partir da aprovação da Lei nº 09 de 12 de Setembro de 1857, a Câmara Municipal estipulava, no art. 12: “É proibido nesta vila e suas povoações o enterramento nas igrejas, devendo ser em cemitério, ou campo para esse fim destinado, que seja fora dos povoados, e em sepulturas bastante fundas.”, dessa forma, ficavam impedidas as igrejas de receberem sepultamentos.

Monsenhor Sales
No ano de 1899 o Vigário local, o Monsenhor Sales, comunicava ao então prefeito João Lourenço Porto que aquele campo santo não comportava mais nenhum sepultamento, estava lacrado o Cemitério Velho por falta de espaço para acomodar uma cova sequer.

Diante da urgência, prefeito e vigário percorreram os arredores da cidade em busca de uma área que fosse destinada a abrigar o novo cemitério local. Dessa forma, fora escolhido o sítio afastado, no alto que ficaria conhecido como Monte Santo, para o novo Cemitério que contou apenas com o aplainamento do terreno e com uma cerca de arames para ser considerado apto e inaugurado como novo campo santo, o Cemitério Nossa Senhora do Carmo.

Dessa forma, o Cemitério Velho fora abandonado... seus muros foram caindo, era profanado, maculado,  virou ruínas em pouco tempo. Esse descaso provocou o surgimento de um movimento junto a sociedade em prol da recuperação do local, encabeçado por Hortêncio de Sousa Ribeiro e pelo Monsenhor Sales.

Foram realizadas campanhas, quermesses, leilões, festivais... tudo para arrecadar fundos para a reforma do Cemitério das Boninas que, enfim, foi realizada tendo  sido considerada por um dos jornais locais como a maior obra estética religiosa até então concretizada em nossa terra.

Recebeu muros largos e altos e um monumento central, com a função de ossuário em sua base. Ainda contaria com outro monumento voltado ao portão de entrada em homenagem aos fundadores de Campina Grande, ali sepultados ao longo da sua História, contendo um dístico em latim escrito por João Suassuna que dizia:

“CAMPINENSES GENS URBIS CONDITORIBUS DICAT”

Traduzindo, com o auxílio do Pe. Evanilson Sousa: "Os campinenses dedicam este monumento aos fundadores da cidade."

Assim sendo, a antiga necrópole pôde receber as visitas por invocações e preces dos familiares de milhares de campinenses, entre pobres e mais abastados, jovens e velhos, senhores e escravos, que ali jaziam desde a segunda metade do Século XIX.

Porém, em 1º de Abril de 1931, o decreto nº 04 assinado pelo prefeito Lafayete Cavalcante (abusando do poder discricionário) colocou todo o terreno onde se localizava o Cemitério das Boninas em hasta pública, tendo o mesmo sido arremato pela firma Oliveira Ferreira & Cia, posteriormente S. B. Cabral & Cia. Assim, o terreno seria destinado a exploração comercial com a construção de garagens e oficinas e o Cemitério de Nossa Senhora do Carmo, no Monte Santo, recebeu em uma vala comum, indistintamente, os restos mortais que estavam depositados no Cemitério Velho, transportados em barris, todos misturados sem qualquer cuidado ou respeito, tendo sido chamado tal fato de “execrável profanação à memória dos seus mortos”, por Hortêncio Ribeiro.



Na obra “História de Campina Grande”, o ex-prefeito Dr. Elpídio de Almeida , em seu desfecho sobre esse ocorrido escreveu que;

“Enquanto na Palestina, a tumba de Raquel, a predileta de Jacó, pode ainda ser vista, em Campina Grande não há vestígios dos túmulos que guardavam os restos mortais dos fundadores da cidade.”

Área do Antigo Cemitério, atualmente - Foto (c) Google

7 comentários

  1. Unknown on 1 de novembro de 2019 às 15:08

    Muito interessante, nasci aqui em Campina Grande, no bairro Monte Santo ,estou com 56 anos, mas não tinha conhecimento desses fatos. Obrigada pelas informações!!!!

     
  2. Um gole de História on 1 de novembro de 2019 às 15:44

    Uma cidade sem memória, cidade do transitório, tropeiros de passagem essa é a nossa origem.

     
  3. Unknown on 2 de novembro de 2019 às 08:54

    Fatos históricos de campina grande muitos não vc conhece poderia ensinar nas escolas para a nova geração que vem ai

     
  4. Unknown on 2 de novembro de 2019 às 11:12

    Sensacional. Não conhecia algo tão importante da história da minha Campina Grande. Hodiernamente nossa cidade está crescendo muito e como foi dito, está repleta de prédios e condominios.

     
  5. DARLAN Santos Silva on 3 de novembro de 2019 às 13:08

    Ainda tem osssos?er bom fazer um memorial dos nossos fundadores tem muitos que nuanca ouviram falar de Teodoro de Oliveira ledo.

     
  6. Anônimo on 4 de novembro de 2019 às 23:11

    Ótimo texto, riquíssimo em detalhes e contado de uma maneira que prende o leitor, tanto pela história contada, quanto pela construção do texto...

     
  7. Edmilson Rodrigues do Ó on 22 de agosto de 2021 às 12:49

    Toda memória deve ser preservada. Todavia, no nosso país. Isso é excessşão. São poucas as pessoas que veneram os seus mortos. Eu construí o meu túmulo há exatamente 61 anos e o visito semanalmente. Cemitérios, ao contrário de que uma grande maioria pensa, trata-se de um local de meditação, lembranças, saudades, filosofia......!

     


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