(por Rau Ferreira)
Foi numa pesquisa, acerca da
produção do cordel em Campina Grande, que deparei-me com os versos de
Estrelinha e Luiz Gomes produzidos a pedido de um comerciante campinense. Foram
dois motes dados aos repentistas, cujos versos em torno do tema, nos fazem
lembrar a cidade rainha que descansa na serra da Borborema:
Campina
Grande é princesa
No dorso
da Borborema!
E antes
de ser princesa
Teve o
nome de rainha!
O registro é do folclorista e
escritor F. Coutinho Filho (1891-1975) em seu antológico livro“Repentistas e Glosadores” (1937). Os
poetas discorrem da próspera cidade, elencando os fundamentos que lhe fizeram
grande, como escolas as escolas primárias e liceus, o algodão que por muito
tempo impulsionou o seu progresso, e sua estação de trem.
L.G. – Pelo luxo ela se ufana
No mais requintado gosto!
Nela o lugar de Agosto
Derrama luz soberana...
É dela donde se emana
Todo fulgor do poema...
Campina
Grande é princesa
No
dorso da Borborema!
E. – É preciso se saber,
Esta terra tão decente,
No passado e no presente,
Quem foi, quem é, quem vai ser!
É grande, com seu poder,
Afamada e bonitinha...
Tem prestígio que não tinha,
Tem asseio e tem riqueza,
E
antes de ser princesa
Teve
o nome de rainha!
L.G. – Tem ela escolas primarias
Tem colégios, tem liceus,
E tem até ateneus
De instruções secundárias!
Obras belas e várias
Ornam o seu diadema!
Nela se encerra o sistema
Mais belo da natureza!
Campina
Grande é princesa
No
dorso da Borborema!
E. – Tem estação de transporte,
Pra sua prosperidade!
É a mais linda cidade
Da Paraíba do Norte!
No algodão ela é forte!
Forma na primeira linha!
Da estação é pracinha,
Nela só se vê beleza...
E
antes de ser princesa
Teve
o nome de rainha!
L.G. – Homem, menino e mulher
Ela acolhe com carinhos...
Se vagam sem lar, sem ninhos,
Vindo aqui gozam mister!
Por isto, enquanto eu puder,
Com forças que o peito gema,
Da maior terra em nobreza
Campina
Grande é princesa
No
dorso da Borborema!
E. – Conhecida em toda parte,
Por seu comércio é falada!
É a princesa encantada
Da serra do Bacamarte!
Em ciência, letra e arte
Não é cidade mesquinha!
O que ela dantes não tinha
Hoje já tem com franqueza,
E
antes de ser princesa
Teve
o nome de rainha!
Germano Francisco dos
Prazeres (1914-1995) ficou conhecido pela alcunha de “Estrelinha”. Era natural
de Queimadas (PB), tendo nascido numa época em que esta ainda era Distrito de
Campina Grande. Residia em Campina onde praticava o comércio e também a
cantoria popular.
Luiz Gomes de Albuquerque
mudou o nome para "Lumerque" em função da numerologia. Nasceu na
Alagoa do Matias, em Bananeiras (PB) em 1908; e faleceu em Sapé (PB) em 1959.
Iniciou na cantoria aos 14 anos, não tendo outra profissão. Nunca frequentou
escola. Ele próprio confessava: “o que
sei aprendi comigo mesmo!”.
Em uma justa homenagem, ressaltaram a
importância desta cidade Rainha da Borborema, com seus encantos e belezas
fazendo alusão à primitiva vila.
Rau Ferreira
* * *
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Referências:
- AURÉLIO, Marco. Breve
História da Literatura de Cordel. 2ª ed. Revista e Ampliada. Ed.
Claridade. São Paulo/SP: 2016.
- FILHO, F. Coutinho. Repentistas e Glosadores. A. Sartorio & Bertoli. São
Paulo/SP: 1937.
- SOBRINHO, José Alves. Cantadores, Repentistas e Poetas Populares. Ed. Bagagem.
Campina Grande/PB: 2003.
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