Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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Uma das coisas que me fascina é andar pela cidade. Não ter hora para voltar e, como um flâneur, dar asas a uma caminhada errante, fluindo ao sabor do vento. Há um quê de mágico em se misturar àquela multidão, ao movimento, ao infinito de gente, prédios e coisas; é uma forma de enxergar algo além do vai e vem de pessoas que, aos montes, tangem suas bagagens e mentes, suas dificuldades e alegrias. Gosto de observar o cotidiano, a ‘mise en scène’ que forma a cidade com todas suas personagens e idiossincrasias. Uma dessas observações, numa sexta-feira, me levou à Rua Maciel Pinheiro no coração de Campina Grande, polo comercial mais importante da cidade.

Estava na Av. Floriano Peixoto admirando o prédio do antigo Grande Hotel, hoje adaptado para o funcionamento das secretarias de administração e finanças da prefeitura municipal. O pensamento me levou para a década de 1940, momento em que era implantado no centro da cidade o estilo arquitetônico art déco na maioria de suas edificações, uma nova roupagem com a qual Campina encararia o futuro, deixando para trás o passado colonial e imperial: “afinal estamos em uma república!”.

Cheguei à calçada do edifício Anézio Leão, prédio onde funcionou a câmara legislativa e hoje é nossa biblioteca municipal, atravessei a rua, na outra esquina pude me abrigar do sol na sombra que o Palácio do Comércio e da Indústria me ofertara. Esse prédio é a sede da Associação Comercial e Empresarial de Campina, antes chamado de Palácio e até início dos anos 1980 sede também da Federação das Indústrias da Paraíba. Nestes dois prédios, que abrem alas para a Rua Maciel Pinheiro, muitas decisões importantes para o destino da cidade foram tomadas.

Na Rua Maciel Pinheiro moravam famílias tradicionais e seu destaque comercial se deu pela instalação da feira livre através de esforços do pernambucano Alexandrino Cavalcanti de Albuquerque, primeiro líder comercial de Campina que construiu um edifício para um novo mercado público concorrendo com o mercado (velho) de Baltazar Luna que funcionou onde hoje é a FURNE. O mercado novo se localizava próximo ao entroncamento com as grandes estradas do Seridó e também do Sertão, num ponto elevado, chegada dos cereais brejeiros (largo entre Maciel Pinheiro e Sete de Setembro). Alexandrino ainda ergueu umas vinte outras casas comerciais centralizando todos os negócios naquela rua; eram quitandas, bodegas, armazéns, etc. A feira passou a ocupar a extensão da Rua Maciel Pinheiro à sombra de frondosas gameleiras de 1864 até sua mudança para o lugar atual em 1939.

Sentado em um de seus bancos, olho os contornos do art déco de hoje e me vem o exercício de identificar onde foi o Cine Theatro Apollo (1912) e o Cine Fox (1918), cujos proprietários eram adversários políticos e usavam seus empreendimentos nas disputadas campanhas políticas. Interessante é que na época do cinema mudo no Cine Fox, os filmes eram acompanhados pelo piano de Lourenço da Fonseca Barbosa, o famoso Capiba. Ao longe eu estimava onde seria o Mercado Novo e a Casa Inglesa de 1877; a padaria de Neco Belo (mecenas de antigos carnavais); a fruteira de Cristino Pimentel e suas animadas reuniões; o Bar Macaíba, organizado pelos irmãos Francisco e Assis Macaíba, para onde iam personalidades como Elpídio de Almeida, Félix Araújo, Severino Cabral e Plínio Lemos. Rua que pulsou e pulsa a história da cidade.

Rua sede dos desfiles carnavalescos, d’onde rios de serpentinas desciam das sacadas tornando-se cordas onde os rapazes subiam para admirar os sorrisos das senhoritas mascaradas. Sobre o carnaval, recolhi uma história bem interessante de dona Efigênia Farias, me relatou que no carnaval de 1941, durante o desfile de corsos, ela

estava acompanhada e “um belo moço passou por mim e jogou confetes, ele sorriu e eu sorri também. Marminina, meu namorado morreu de ciúmes e pouco tempo depois ele foi me deixar em casa”. Rua do Natal nos idos de 1970, atraindo a população que participava das festividades na Matriz e seguia para o passeio onde admirava vitrines enfeitadas e iluminadas; Rua da Boate Skina e da Livraria Pedrosa, da antiga sede do Treze F. C., do calçadão que tomou toda a rua nos tempos do Prefeito Enivaldo Ribeiro.

Rua Grande, Rua da Feira, Rua das Gameleiras, Rua (ou estrada) do Seridó, Rua do Comércio, Rua da Independência, Rua Uruguaiana e Praça Epitácio Pessoa, todos esses foram nomes que a Rua Maciel Pinheiro ganhou ao longo dos tempos, marcas da historicidade de uma cidade que sempre esteve em modificação. Fui embora olhando para seus quatro cantos, admirado com sua história, reverenciando sua importância para a Rainha da Borborema.

5 comentários

  1. Eduardo Marinho on 20 de abril de 2019 às 11:34

    Ah, belíssimo texto de meu estimado amigo Thomas Bruno, desde o início de sua vida acadêmica, já deixava transparecer seu amor por Campina Grande e sua rica história, grande abraço.

     
  2. Agenor Filho on 26 de junho de 2019 às 04:47

    Saudades de Campina Grande onde passei os melhores anos de minha infância. Saí de lá com 10 anos de idade para vir morar em Fortaleza. Meu pai era funcionário do Banco do Nordeste. Eu estudei nas Lourdinas.

     
  3. Honorio Pedrosa on 25 de julho de 2019 às 17:26

    Muito boa essas lembranças.

     
  4. Hélio Guedes on 1 de setembro de 2019 às 22:57

    Saudades da minha terra natal Campina Grande. Mesmo morando em Palmas, capital do Tocantins, todos os finais do ano estou na minha Rainha da Borborema, matando a saudade da terrinha.

     
  5. Unknown on 10 de outubro de 2021 às 11:13

    Muita saudade de campina grande. Nasci em queimadas em 1948, a época era distrito de campina. Em 1961 queimadas se emancipou politicamente. Quando eu era criança, meu maior sonho, era de conhecer campina. Quando fui à campina pela primeira vez, tinha 8 anos de idade. Foi a maior admiração para mim. Vai completar 54 anos que vivo longe daí. Sinto muita saudade mesmo. Quem sabe se um dia voltarei pra minha terra? É neu sonho. Saudações aos meus conterrâneos.

     


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