Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
retalhoscg@hotmail.com

QUAL ASSUNTO VOCÊ ESTÁ PROCURANDO?

No início da década de 80 Campina Grande recebeu grandes levas de professores/as de fora, dentre os quais estavam Paola Cappellin Giuliani e Ângela Maria de Arruda. Com mestrado em Psicologia Social pela EcolédesHautesÉtudesenSciencesSociales(França), Ângela Arruda chegava de Paris afetada pelas experiências do Grupo Latino-Americano de Mulheres e passou a lecionar na UFPB e URNE, nos períodos de 1982 a 1994 e 1982 a 1985, respectivamente. Graduada em Sociologia pela Libera UniversitaDegli Studi Di Trento, na Itália, Paola Cappellin realizou seu mestrado pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, chegando à Paraíba em 1978. Essas mulheres foram responsáveis por fundar o Grupo de Mulheres de Campina Grande, cuja articulação se deu em 1982. 

Encontrando um ambiente propício a colocar em pauta as experiências adquiridas em parte no exílio ou na chegada ao país em contato com o regime civil-militar instaurado, essas mulheres se articularam dentro das universidades de Campina Grande, conseguindo contar com o apoio também de uma outra professora: Maria do Socorro Pereira. Esta, paraibana e campinense, se articulou em conjunto com as “de fora” e atuaram a nível de UFPB, URNE e na periferia da cidade. Dentro da Academia, o lócus de atuação dessas mulheres girava em torno do curso de Psicologia da URNE e do Mestrado em Sociologia Rural da UFPB. Como fala-nos Barbosa et al (2001), esse grupo atuou através de oficinas de reflexão e autoconsciência, discutindo temáticas específicas da mulher. Foi responsável por disseminar o feminismo na universidade e na cidade e investiu na formação de novos quadros feministas, trabalhando para isso, sobretudo com estudantes universitárias. Logo, a atuação do Grupo de Mulheres de Campina Grande não se restringia ao âmbito da universidade. Essas mulheres trabalharam com assessoria a grupos de mulheres do meio popular, sindicalistas da região do Brejo, associações de empregadas domésticas e também clubes de mães. 

O Grupo Raízes, por sua vez, nasceu do desdobramento das atividades do Grupo de Mulheres de Campina Grande. Criado em 1984, por alunas de Psicologia da URNE, teve uma grande participação no meio popular da cidade, realizando oficinas, seminários e conscientizando mulheres. Além disso, desenvolveu projetos de alfabetização através do método Paulo Freire e atuou na formação do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher da cidade.

Inicialmente formado para compor uma chapa do Centro Acadêmico de Psicologia da URNE, o Raízes se estruturou enquanto grupo feminista muito a partir dos ensinamentos de suas mentoras. Constituído por Vilma Maria Vaz, Soraia Jordão e Gilberta Soares, incorporou outras mulheres ao longo de sua trajetória. Dissolveu-se em 1992 por mudança de suas integrantes para a capital, João Pessoa, quando lá constituíram outros grupos feministas a exemplo da Cunhã Coletivo Feminista, ONG fundada em 1990, e prestaram assessoria ao Centro da Mulher 8 de Março. Além dessas integrantes, o grupo agregou outras mulheres como Margareth Rose Souza e Marília Lacerda.

Como nos traz Margareth Rago (2013), com práticas concretas e seu modo de pensar feministas, essas mulheres propuseram novos modos de viver o social, produzindo rupturas e deslocamentos no que tange à sexualidade, à família, à corporeidade. Com certeza contribuíram para a construção de um pensamento crítico. Nesse limiar, essas mulheres (trans)formaram suas vidas sob um projeto feminista de ser, estar e colaborar com a emancipação de outras mulheres e de seus mundos.


REFERÊNCIAS

BARBOSA, Luciana Cândido. [et. al]. Grupos de Mulheres da Paraíba: Retalhos de uma história. João Pessoa: Cunhã Coletivo Feminista; Textoarte Editora, 2001. 

RAGO, Luzia Margareth. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções de subjetividade. Campinas, SP: Ed. da UNICAMP, 2013. 

Para saber mais, ver: SOBREIRA, Dayane Nascimento. “Mulher bonita é a que luta”: nas tessituras do feminismo em Campina Grande (1982-1992). 74 f. Monografia. (Graduação em História). Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande, 2014.

* Dayane Sobreira é natural de Esperança-PB; é graduada em História pela UEPB, mestre em História pela UFPB. Foi professora substituta da UFSB e atualmente é doutoranda do Programa de Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo da UFBA.



0 comentários



Postar um comentário

 
BlogBlogs.Com.Br