Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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O tempo é uma ranhura que traz o passado para o presente e seu reflexo de costas vislumbrando uma saudade. São os olhos da vontade, do desejo que faz da graça de ver de novo o que se fora sem pedirmos. No soneto Saudade de Augusto dos Anjos, ele se revela tocado pela soledade que lhe invade a alma, trazendo lembranças que o fogo da vida e suas mágoas lhes povoam. E ele diz no último terceto do poema: - [...]“Da saudade na campa enegrecida / Guardo a lembrança que me sangra o peito, / Mas que no entanto me alimenta a vida.”

E na estrada da vida que às vezes nos limita e nos arrasta acabrunhando o que é nosso e o que nos avizinha: a ausência de quem gostamos de quem admiramos de quem temos amizade e de quem amamos. A lembrança foca na visão do acontecido e nos deixa perdido no vazio da busca de nos encontramos novamente com aquilo que se distanciou ou perdemos. Assim, pelos caminhos da cidade me vem à mente: Os Coqueiros de Zé Rodrigues; a Rua das Imbiras,rua onde nasci; a Bodega de Biu Cuité; D. Elisa,e meus primos: Dão, Paulo, Nenê, Lulu e Socorro Soares;Uray outro morador, conhecido jogador do Treze;Noaldo Nery do Bar - “O Buracão;” uma rua estreita, animada e enfeitada com bandeirolas coloridas para as festividades de São João, as quadrilhas comandadas por Dona Nuca (Maria Luiza), uma senhora risonha, simpática, amiga e comadre de minha mãe. Lembro-me do pé de Groselha no seu quintal que escalava com certo esforço para tirar os frutos maduros e saía com os dentes desbotados. Como é doce a lembrança.

A saudade é o elo entrelaçado entre nós que muitas vezes não desatam e nem se rompem, mas estão frequentes entre um peito e outro para a emoção contida no coração. A saudade é a falta de tomar banho no Açude de Bodocongó e quando se aprende a nadar sem instrutor. Ir aos bingos com os pais e vizinhos às margens do Açude Velho, ladeado por barracas cheias de quitutes e guloseimas. Esse misto de sentimentos que relembramos de uma época, e há o vazio que nada contém e, há também, uma melancolia daquilo que ficou no passado. A sensação de não sabermos por que perdemos uma boa amizade, porque perdemos o amor de nossas vidas, a mulher querida, o irmão, nossos pais.  A felicidade se foi e nada nos anima, a saudade nos sufoca e nos força a pensar no que deixamos no passado.


 Vista parcial de Campina Grande, anos de 1950. -  Acervo de José Edmilson.

E antes de voltar ao presente, mergulho no pensamento do ontem e visualizo a Palhoçano primeiro semestre de 1983,margeando a Rua Sebastião Donato, de chão batido,estruturada por Francisco Chaves, mais conhecido por “Chico Trambique,”Aluísio Lucena (do carro de som), Roberto Cunha Lima e das tocadas de Edmar Miguel, ainda nos Coqueiros de Zé Rodrigues. A feirinha de Artesanato beirando o Açude Novo. A barraca de Cunha ao lado do Teatro Municipal, a Feira Centrale o seu colorido, o picado de Dona Carminhae, mais para o centro:a Boate Skina, o Futurama, o Bar de Seu Ferreira, o Caldo de Peixe, o Bar de Edgar, a Rodoviária Velha, seus transportes Urbanos e interestaduais. Ah, ainda no vigor da juventude: O CEU – Clube dos Estudantes Universitários;e os bailes nas quartas-feiras e domingos no Clube do Flamengo em José Pinheiro;O Cave e a Boate Maria Fumaça; O Chopp do Alemão; A Riviera; A Cabana do Possidônio; O Ceboleiro; O Refavela;o Beco do 31,as lembranças invadem e a mente nos enriquece no presente de boa memória.


Campina Grande, Cartão Postal de 1959 – Acervo de José Edmilson

Memória e afeto da antiga Feira da Prata, do Castelo mal assombrado, das sessões de cinemas Bacurau, Capitólio e Coruja, Babilônia, além dos cinemas dos bairros, Cine Art, em José Pinheiro, conhecido como “Cine Puiga,”do Cine São José, no bairro do mesmo nome; e Cine Avenida. E as Boninas recheadas de casas de encontros, jogos, salões de animados boêmios e de belas mulheres, e na Rodagem onde fui criado, rodeado de mulheres avulsas e seus lupanares. Saudade do menino ingênuo que passeava de coração solto.

A saudade do poeta Zé Laurentino, que cantava a vida com maestria e amor; de José Pedrosa, da Livraria Pedrosa, “Faça do livro o seu melhor amigo”, homem generoso e cultor das letras; de Rômulo Araújo Lima, poeta, sociólogo, o maestro do Direito Administrativo, professor de bem com a vida; do Dr. Virgílio Brasileiro, médico pediatra, guardião da memória afetiva de Campina Grande, um grande cavalheiro; Dr. Adhemar Dantas, médico e teatrólogo, sensível, educado; Dona Lourdes Ramalho, autora, mulher além do tempo, dramaturga premiada; Clóvis de Melo, jornalista, radialista, o humor em pessoa; Wilson Maux, (Bom dia para você) jornalista e teatrólogo, voz que ecoava na madrugada com força cultural; de Joacil Oliveira, “O Cabeção,” jornalista/radialista, a simplicidade e a amizade;Henrique do Vale, carnavalesco, espontânea musicalidade, artista eclético, bem humorado; a irreverência e perspicácia do cronista Altamir Guimarães, o grande Mica; a espontaneidade e vida buliçosa bôemia em Francisco Lopes –“Chico Campanheiro;”a altivez e inteligência do jornalista Fernando Soares.

O presente nos deixa sempre pensativo, no entanto, o cérebro nos envia mensagens de idas e vindas. São imagens incrustadas na memória da cidade e de seus personagens, do que ficou para trás; são lembranças retornadas e ressurgidas como saudades. Um desejo de ver de novo. Efígies, representações que no futuro não cabe.

5 comentários

  1. José Edmilson on 12 de maio de 2021 às 14:02

    Interessante cometário Gerson, saudade avivada.

     
  2. José Edmilson on 12 de maio de 2021 às 14:03

    Gersoni

     
  3. Unknown on 12 de maio de 2021 às 17:41

    Espetacular Poeta sinceramente poeta você me fez agora embarcar numa viagem ao passado e reviver lugares e figuras na nossa terrinha que jamais serão esquecidos esquecidos

     
  4. José Edmilson on 22 de maio de 2021 às 17:57

    Valeu pela atenção

     
  5. Anônimo on 18 de abril de 2023 às 04:32

    Tem muitas lembranças deste lugar

     


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