Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
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por Thomas Bruno Oliveira (thomasbruno84@gmail.com)
  
Desde que meu pai, seu Paulo Roberto Oliveira, abriu uma assistência técnica em conserto de eletrodomésticos, lá nos idos de 1996, que sou ativo frequentador e caminhante da Avenida Presidente Getúlio Vargas no Centro de Campina Grande, onde inicialmente partilhava os turnos entre estudo no Colégio Alfredo Dantas e o trabalho como office boy e depois com “a mão na massa” no conserto de ventiladores e toda sorte de aparelhos elétricos, aprendendo o mister com os funcionários mais experientes. 

Sociedade Beneficente dos Artistas de Campina Grande – SBA (RHCG)

Num certo período de carnaval, quando Papai e eu passamos na rua a caminho de casa, nos deparamos com a demolição de um prédio antigo, bonito, de linhas arquitetônicas robustas e marcantes; “como podem destruir um prédio tão bonito” balbuciou Papai e eu, em meus 13 ou 14 anos, vendo aquela gigantesca máquina destruindo tudo, fui tomado pelo incômodo da revolta. O prédio era a Sociedade Beneficente dos Artistas, fundada em 1929 e oriunda da antiga União Beneficente dos Sapateiros, sociedade filantrópica que oferecia cursos para pessoas de baixo poder aquisitivo. Naquele momento nem pensava em vestibular, quanto mais em ser historiador e jornalista, mas hoje vejo que aquela sensibilidade pueril foi o fio condutor para me guiar até aqui.

O Bar e Mercearia Ferro d'Engomar 

A antiga Avenida Brandão Cavalcanti, hoje Pres. Getúlio Vargas, possui um nicho patrimonial interessante, resistiram ao tempo a sede dos Correios, o tradicional Ferro d’Engomar (e seus boêmios!), a antiga Faculdade de Administração, o Memorial Severino Cabral, o casarão e a antiga fábrica Marques de Almeida, o acesso às Boninas, o antigo Colégio Pio XI, o castelinho onde funciona a clínica Dr. Maia, a casa de Alvino Pimentel e o Cine Avenida, só para citar o trecho entre a Praça da Bandeira e a esquina com a rua Siqueira Campos.

Cine Avenida (RHCG)

E eis que caminhando na mesma avenida, há alguns anos, vi o abandono seguido de demolição da casa do exportador de algodão Alvino Pimentel, residência onde se hospedou Juscelino Kubistchek. Lembro que o amigo Prof. Daniel Duarte esteve à frente de uma verdadeira campanha para evitar a demolição desse prédio histórico, mas o poder da especulação imobiliária venceu; é a “força da grana que ergue e destrói coisas belas” como bem afirmou Caetano Veloso. Neste caso, um grande empreendimento residencial e comercial está sendo erigido, modificando todo aquele ambiente; na descomunal escavação para fundações sequer foi permitida a averiguação de possível existência de vestígios arqueológicos que podia muito nos contar sobre o passado de nossa terra.

Antigo DTOG, ao fundo a Estação Nova

Tempos depois, ao caminhar pela Getúlio Vargas, senti falta de um prédio, o Cine Avenida. No seu lugar, tapumes altos, mas suficientes para perceber que ele não mais estava ali. Foi aí que conversando com um operário descobri que como se não fosse suficiente o tamanho da destruição da casa de Alvino Pimentel, o empreendimento causou sério comprometimento da estrutura do prédio vizinho, justamente o Cine Avenida, cinema inaugurado em 17 de março de 1945 em estilo Art Déco e que estava funcionando a sede da igreja evangélica universal. O Cine é patrimônio sentimental da cidade e mantinha seus traços arquitetônicos. Por fotografias existentes no blog Retalhos Históricos de Campina Grande se percebia que o interior contava com poucas modificações. O fato de não estar dentro da delimitação do Centro Histórico da cidade dificultou a sua preservação e com o abalo causado pelo empreendimento, o Avenida foi adquirido e anexado ao projeto imobiliário.

Estação Nova (?), abandonada

A nossa Rainha da Borborema não sabe mesmo conviver com “seus diversos passados”, essa ânsia pelo futuro e pelo novo me assusta, assim como o desrespeito a sua história. Perdemos o Cine Avenida e a sensação que fica é em forma de pergunta: qual será o próximo a tombar? Será a construção eclética da família Agra defronte a Feirinha de Frutas (vizinho ao antigo Posto de Enfermagem do saudoso Manoel Barbosa) ou o antigo Departamento de Transporte, Oficina e Garagem (DTOG) às margens do Açude Velho? Comemorar 155 anos de emancipação política é também refletir sobre seus problemas e uma chaga que não se fecha é a demolição de seu patrimônio histórico.

9 comentários

  1. Ronnie on 17 de outubro de 2019 às 15:18

    Belo texto, sou morador do centro e passo sempre a pé nesse trecho do ferro de engomar. Faltou mencionar a demolição de uma casa antiga e modernista que havia na altura do cruzamento com a Antenor Navarro. Foi demolida pra virar pátio de igreja. O antigo colégio fênix, também foi demolido há vários anos. Enquanto isso, fica a queda de braço sobre o cine capitólio que hoje é só a "caixa", ou seja, só as paredes ainda de pé e perigando cair na cabeça dos pedestres em plena hora de pico. Não dá pra entender campina grande.

     
  2. Unknown on 26 de outubro de 2019 às 11:43

    Tenho boas e saudosas lembranças de Campina Grande. Hoje já se foram muitos anos que fiz minha graduação em engenharia mecânica no CCT da UFPB e morei para minhas melhores recordações de estudante. Fiz amigos, fiz minha profissionalização. Amei e amo está linda cidade. Breve voltarei pra visitar e rever esse paraíso.
    Paulo Bastos - Maceió- Alagoas.

     
  3. Noelder Oliveira on 20 de dezembro de 2019 às 21:21

    Saudações á todos. Realmente Campina não cuidou nem cuida do seu passado que fora tão rico.

     
  4. Noelder Oliveira on 20 de dezembro de 2019 às 21:23

    Por sinal alguém sabe algo sobre o casarão por número 749 que fica de esquina com o posto de combustíveis da Siqueira Campos?

     
  5. cleudo on 19 de janeiro de 2020 às 21:10

    Belo texto,e desde já agradecendo ao belissimo trabalho do blog maravilhoso.Nasciem frente ao predio da Sociedade dos Artistas(como já falei antes),Joguei bola no campo do colegio Pio XI,nos meus tempos de criança,fui muitas vezes assistí os filmes de "Oscarito e grande Otelo" e "zé trindade"no Avenida.Muitas tarde,sentava em uma das portas(fechada) do Ferro de engomar,para conversar com amigos da rua Rui Barbosa.Perdi a conta de quantas vezes,fui comprar leite no casarão dos Pimenteis,comprar na mercearia do "Seu carvalho",esquina com Indios Carirí.O casarão da familia Cabral ainda sobrevive,só não se sabe até quando,a fabrica dos Marques está em ruinas,é um passado que vai ficando nas fotos e reportagens,a cidade não merecia perder sua historia tão linda.Quando penso em voltar a Campina grande,me vem logo uma certeza,que apesar de parentes(primos que não os conheço)tenho a sensação de não valer a pena,mesmo para rever a cidade,e me sentir em terra estranha,por ruas que não conheço mais....

     
  6. Gersoni Ferreira Lucena on 20 de maio de 2020 às 15:30

    É revoltante ver isso acontecendo não só em Campina Grande, que é minha cidade natal, mas aqui em Poços de Caldas -MG. Parece que ninguém está nem aí para a história da arquitetura da cidade que se confunde com a história das pessoas, as quais percebem tristemente que seu passado está sendo destruído, literalmente. Lamentável.

     
  7. Anônimo on 19 de março de 2021 às 12:57

    Alguém saberia informar o que eram antigamente as casas históricas seguintes:

    Rua Siqueira Campos, 658 ou 623
    Avenida Pres Getúlio Vargas, 732

     
  8. Anônimo on 19 de março de 2021 às 13:00

    Também gostaria de saber, é um casarão bem bonito e antigo

     
  9. Carlos on 2 de abril de 2021 às 22:34

    Gostaria de saber se vcs tem informações sobre uma mansão que ficava na Getúlio Vargas onde funcionou a CDRM e que foi demolida. Hj é um galpão que funciona como uma igreja.

    Carlos Henrique (caikcg@gmail.com)

     


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