(Texto de Bráulio Nóbrega)
Campina Grande vive aquela que talvez seja a contagem regressiva mais importante e decisiva de toda a sua história.
Se de um lado acompanhamos apreensivos a aterradora situação do Açude Epitácio Pessoa, em Boqueirão, que neste mês de fevereiro registrou a impressionante marca de 3,9% do seu volume total, do outro, porém de forma não menos dramática, aguardamos a chegada das águas do Rio São Francisco a Paraíba para, quem sabe, nos garantir a bem-quista e tão desejada segurança hídrica.
Embora a ideia de transposição das águas do São Francisco exista desde a época do Império de Dom Pedro I, foi com o início do Governo Lula, em 2003, que o projeto voltou a ser efetivamente amplamente discutido e com mostras que, enfim!, sairia do papel. De lá pra cá, muitas águas rolaram e a menos de um mês da integração da bacia do "Velho Chico" com alguns rios da Paraíba é hora de ler e ver mais uma vez pouco dessa história.
Nesse quesito, frize-se, a imprensa paraibana, em sua grande maioria, foi diligente no acompanhamento da concretização do projeto, dando voz a defensores, opositores, beneficiados e atingidos pelas obras, bem como a questões financeiras, pendengas jurídicas, perspectivas otimistas de uso das águas do São Francisco, e aos problemas de planejamento e atraso na exucação da proposta de integração.
Parte dessa história está contada nas páginas dos diários impressos e em revistas paraibanas, como se verá nesta e em outras postagens.
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O Jornal da Paraíba, em 2 de outubro de 2004, com reportagem de Fernando Barbosa, no caderno Cidades, destacava conclusão de relatório de pedido de licença prévia ambiental para realização do Projeto de Transposição do Rio São Francisco. O documento, de 132 páginas, assinalava que a "obra, apesar das dimensões, não representaria qualquer impacto ambiental significativo sobre a bacia do 'Velho Chico'".
Segundo o estudo, a captação de águas que seria "para perenizar bacias hidrográficas nos Estados da Paraíba (Rios Piranhas e Paraíba), Pernambuco (Rios Moxotó e Brígida), Rio Grande do Norte (Rios Apodi e Açu) e Ceará (Rio Jaguaribe) analisou todos os aspectos envolvidos com a obra: humanos, ambientais, econômicos e sociais." A conclusão foi que "os impactos gerados pelo Projeto de Integração poderão ser perfeitamente atenuados e monitorados, por meio de programas ambientais propostos"
A publicação informava que o início das obras estava previsto para os primeiros meses de 2005 e beneficiária 12 milhões de pessoa.
A reportagem apresentava também fala do então Secretário de Agricultura da Paraíba, Francisco Quintans. Segundo ele, a água recebida beneficiaria também culturas como a fruticultura e o algodão irrigado.
A previsão de início do Projeto de Integração do Rio São Francisco foi capa do caderno Cidades, do Jornal da Paraíba, em 31 de outubro 2004. A reportagem, assinada por Silvana Cibelle e Fernando Barbosa, trouxe um mapa explicativo com a lista de algumas das cidades paraibanas beneficiadas com as águas do rio. Destacou ainda alguns dos pontos positivos e negativos do projeto, bem como uma provável data de chegada das águas na Paraíba e o plano de gestão das águas que seria executado pelo governo do Estado.
O jornal destacava que a nomenclatura "Integração" foi utilizada no lugar de "Transcposição porque muita gente chegou mesmo a imaginar que toda a água do Velho Chico iria ser transportada para o Semi-Árido Nordestino".
Na reportagem, uma visão pra lá de otimista acreditava que em 2006 a Paraíba já poderia contar com as águas do rio. "Se for pelas expectativas otimistas do governo federal, o início das obras do projeto deve começar em 2005. Com isso, até o final de 2006, toda a estrutura necessária para o desenvolvimento do projeto nos Estados envolvidos deverá estar pronta". Entusiamo referendado por Sérgio Góis, à época secretário-adjunto de Recursos Hídricos do Estado. "Se for pelas estimativas do governo, podemos ter água na Paraíba já em 2006", disse. Mas, segundo a reportagem, uma visão mais realista estipulava um prazo de até 20 anos após o início da obras para a operação plena do projeto.
De acordo com a matéria, a integração do Rio São Francisco resolveria "(a médio e longo prazo) os problemas da população do Semi-Árido que continua sofrendo com a escassez de água e irreirregularidades das chuvas na região".
A segunda parte da matéria apresentava explicação da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado sobre a perspectiva de construção de canais e adutoras ao longo do percurso de passagem das águas do Velho Chico.
Por fim, o jornal apresentava a visão do pesquisador João Suassuna, da Fundação Joaquim Nabuco, em Pernambuco, crítico do projeto e que defendia que a transposição não acontecesse.
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