Um antigo recibo de compra e venda datado de 1851. |
A Vila Nova da Rainha – hoje cidade de Campina Grande - registrava em 1876 o número de 1.206 escravos. Os maiores proprietários eram os fazendeiros de algodão. Em nossas pesquisas, encontramos a seguinte contagem:
O Coronel Alexandrino Cavalcante, sogro de Cristiano Lauritzem, possuia 44 escravos. João Lourenço Porto, tinha onze. João Tavares, nove. O Ildefonso Alves, oito. O Padre José Ambrósio, seis. O Juiz Antonio Trindade, oito.
O próprio Irineu Jóffily, escravo das conveniências e das necessidades domésticas, possuía duas escravas: “Isaura n° 319, com vinte anos de idade solteira, valor 800 mil réis; e Rosa, n° 1.275, idade 58 anos, solteira, valor 200 mil réis”.
O Dr. Maximiniano Lopes Machado – historiador e deputado provincial -, quando residiu em Campina em 1861, possuía ao menos uma escrava, de nome Leonor. Há notícias de sua fuga (AHPB, Polícia da Parahyba do Norte: 1861, fls. 122v).
Aliás, era comum a fuga de escravos na região, certamente motivada por maus tratos dos seus senhores. O fato era divulgado nos jornais de grande circulação, muitas vezes oferecendo-se prêmio para a sua captura. A esse respeito, veja a seguinte nota com a escrita de sua época:
“No dia 8 de Fevereiro do corrente anno fugiu de Campina-Grande, um escravo de nome José, pertencente a Francisco de Salles Pequeno, cujo escravo tem os signaes seguintes: - mullato, cor encerada, vinte e dous annos de idade, baixo de corpo, rosto redondo, cabellos caxiados, pés cambados (ou apagaiados como vulgarmente se dis) com duas verrugas no pé direito, falla serrada (sic)”.
O Coronel Alexandrino Cavalcante, sogro de Cristiano Lauritzem, possuia 44 escravos. João Lourenço Porto, tinha onze. João Tavares, nove. O Ildefonso Alves, oito. O Padre José Ambrósio, seis. O Juiz Antonio Trindade, oito.
O próprio Irineu Jóffily, escravo das conveniências e das necessidades domésticas, possuía duas escravas: “Isaura n° 319, com vinte anos de idade solteira, valor 800 mil réis; e Rosa, n° 1.275, idade 58 anos, solteira, valor 200 mil réis”.
O Dr. Maximiniano Lopes Machado – historiador e deputado provincial -, quando residiu em Campina em 1861, possuía ao menos uma escrava, de nome Leonor. Há notícias de sua fuga (AHPB, Polícia da Parahyba do Norte: 1861, fls. 122v).
Aliás, era comum a fuga de escravos na região, certamente motivada por maus tratos dos seus senhores. O fato era divulgado nos jornais de grande circulação, muitas vezes oferecendo-se prêmio para a sua captura. A esse respeito, veja a seguinte nota com a escrita de sua época:
“No dia 8 de Fevereiro do corrente anno fugiu de Campina-Grande, um escravo de nome José, pertencente a Francisco de Salles Pequeno, cujo escravo tem os signaes seguintes: - mullato, cor encerada, vinte e dous annos de idade, baixo de corpo, rosto redondo, cabellos caxiados, pés cambados (ou apagaiados como vulgarmente se dis) com duas verrugas no pé direito, falla serrada (sic)”.
A partir de análise de inventários, alguns historiadores fixaram o preço do esforço humano escravizado. Nos anos de 1840 à 1852, um escravo valia 500$000 réis. Porém, no período que corresponde a 1858/1871, o valor praticamente dobrou, alcançando a cifra de 1:000$000 e 1:500$000 réis, caindo para a quantia de 600$000 réis em 1885.
Para que o leitor melhor compreenda esta capitalização, apresentamos o seguinte quadro comparativo elaborado por Geraldo Irineu Joffily, ao prefácio das “Notas sobre a Parahyba” do famoso avô:
“A cuia (dez litros) de milho custava 400 réis, de feijão 1000 réis, de farinha 320 réis, o quilo de carne seca 600 réis, de carne verde 300 réis, e cada rapadura 60 réis”.
Para que o leitor melhor compreenda esta capitalização, apresentamos o seguinte quadro comparativo elaborado por Geraldo Irineu Joffily, ao prefácio das “Notas sobre a Parahyba” do famoso avô:
“A cuia (dez litros) de milho custava 400 réis, de feijão 1000 réis, de farinha 320 réis, o quilo de carne seca 600 réis, de carne verde 300 réis, e cada rapadura 60 réis”.
Os escravos vinham em “galeas” e aportavam em Recife, de onde eram trazidos para serem comercializados nas vilas.
É sabido que um movimento escravo liderado pelo negro Manuel do Carmo, na Província da Parahyba, realizou uma verdadeira revolução em 1874. O evento foi denominado de “Quebra-quilos” e marcou a história de Campina Grande.
Houve uma marcha em direção ao Sítio Timbaúba, onde os revoltosos pretendiam haver o “Livro de Fundo da Emancipação”, onde eram pintados os escravos novos. Porém, os homens foram ludibriados e tiveram que se esconderem nas matas.
Manoel Pedro CARDOSO VIEIRA era, ao lado de Irineu Jóffily, um grande abolicionista. O velho tribuno em um de seus discursos, desabafa:
“Nas sociedades em que a institução da escravidão perdura por certo tempo, ela planta no coração daqueles que se servem dela um instinto, a que eu já me referi e que chamei de escravagista: a necessidade de ter escravos, o vício de não poderem servir-se senão que com eles, essa repugnância invencível pela liberdade, que é um dos males que acometem aqueles que se utilizam por muito tempo da escravidão”.
O cidadão em questão chegou a ocupar o cargo de Deputado-Geral pelo Partido Liberal (1878/1880).
Até a abolição da escravatura, em 13 de maio de 1878, praticamente não se concebia direito aos escravos. Mesmo os libertos eram proibidos de adquirir instrução. Assim reza o art. 14 da Lei nº 20, de 6 de maio de 1837: “Os professores só admitirão em suas aulas pessoas livres”. Adiante, o regulamento de 11 de março de 1852, prescreve em seu art. 12: “Nas públicas não são admitidos os que padecem de moléstia contagiosa, os escravos e os pretos africanos, ainda que sejam libertos ou livres, e os não vacinados”.
Este quadro se alterou ao longo dos séculos, mas ainda existe muito preconceito que precisa ser rompido definitivamente, para que este país seja considerado igualmente livre.
Fontes:
- ALMEIDA, Elpídio de. História de Campina Grande. Edic̜ões da Livraria Pedrosa.
- JÓFFILY, Geraldo Irinêo. O Quebra-Quilo. Vol. 1. Ed. Thesaurus: 1977.
- MAIOR, Armando Souto. Quebra-quilos: lutas sociais no outono do Império. Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. V. 10 da Série Estudos e Pesquisas. V. 366 Brasiliana.Cia Editora Nacional: 1978.
- PINHEIRO, Antonio Carlos Ferreira. Da era das cadeiras isolasdas à era dos grupos escolares na Paraíba. Editora Autores Associados. Campinas/SP: 2002.
- RIEDEL, Oswaldo de Oliveira. Perspectiva antropológica do escravo no Ceará. Edições Universidade Federal do Ceará: 1988.
- ROCHA, Solange Pereira da. Gente negra na Paraíba oitocentista – população, família e parentesco espiritual. Editora Unesp. São Paulo/SP: 2009.
- WIKIPÉDIA: Escravos, escravidão no Brasil. Disponível em http://pt.wikipedia.org, acesso em 06/01/2012.
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OBSERVAÇÃO: Não deixem de visitar o blog de Rau Ferreira sobre a história da cidade de Esperança: http://historiaesperancense.blogspot.com/
É sabido que um movimento escravo liderado pelo negro Manuel do Carmo, na Província da Parahyba, realizou uma verdadeira revolução em 1874. O evento foi denominado de “Quebra-quilos” e marcou a história de Campina Grande.
Houve uma marcha em direção ao Sítio Timbaúba, onde os revoltosos pretendiam haver o “Livro de Fundo da Emancipação”, onde eram pintados os escravos novos. Porém, os homens foram ludibriados e tiveram que se esconderem nas matas.
Manoel Pedro CARDOSO VIEIRA era, ao lado de Irineu Jóffily, um grande abolicionista. O velho tribuno em um de seus discursos, desabafa:
“Nas sociedades em que a institução da escravidão perdura por certo tempo, ela planta no coração daqueles que se servem dela um instinto, a que eu já me referi e que chamei de escravagista: a necessidade de ter escravos, o vício de não poderem servir-se senão que com eles, essa repugnância invencível pela liberdade, que é um dos males que acometem aqueles que se utilizam por muito tempo da escravidão”.
O cidadão em questão chegou a ocupar o cargo de Deputado-Geral pelo Partido Liberal (1878/1880).
Até a abolição da escravatura, em 13 de maio de 1878, praticamente não se concebia direito aos escravos. Mesmo os libertos eram proibidos de adquirir instrução. Assim reza o art. 14 da Lei nº 20, de 6 de maio de 1837: “Os professores só admitirão em suas aulas pessoas livres”. Adiante, o regulamento de 11 de março de 1852, prescreve em seu art. 12: “Nas públicas não são admitidos os que padecem de moléstia contagiosa, os escravos e os pretos africanos, ainda que sejam libertos ou livres, e os não vacinados”.
Este quadro se alterou ao longo dos séculos, mas ainda existe muito preconceito que precisa ser rompido definitivamente, para que este país seja considerado igualmente livre.
Fontes:
- ALMEIDA, Elpídio de. História de Campina Grande. Edic̜ões da Livraria Pedrosa.
- JÓFFILY, Geraldo Irinêo. O Quebra-Quilo. Vol. 1. Ed. Thesaurus: 1977.
- MAIOR, Armando Souto. Quebra-quilos: lutas sociais no outono do Império. Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais. V. 10 da Série Estudos e Pesquisas. V. 366 Brasiliana.Cia Editora Nacional: 1978.
- PINHEIRO, Antonio Carlos Ferreira. Da era das cadeiras isolasdas à era dos grupos escolares na Paraíba. Editora Autores Associados. Campinas/SP: 2002.
- RIEDEL, Oswaldo de Oliveira. Perspectiva antropológica do escravo no Ceará. Edições Universidade Federal do Ceará: 1988.
- ROCHA, Solange Pereira da. Gente negra na Paraíba oitocentista – população, família e parentesco espiritual. Editora Unesp. São Paulo/SP: 2009.
- WIKIPÉDIA: Escravos, escravidão no Brasil. Disponível em http://pt.wikipedia.org, acesso em 06/01/2012.
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OBSERVAÇÃO: Não deixem de visitar o blog de Rau Ferreira sobre a história da cidade de Esperança: http://historiaesperancense.blogspot.com/
Gostei muito dessa informação. Lembrei-me de uma imagem da minha infância: Minha mãe sempre chamava uma velhinha negra quando passava na frente da nossa casa para lhe dar esmola. Chamava-se Manuela e quase não falava o Português. Minha mãe lhe fazia perguntas sôbre o passado quando a velhinha tinha sido escrava do meu bisavô. Meus bisavós eram Pernambucanos que vinheram para Campina em 18..(?) Lembro-me que me avô contava que era menino na maior sequia do Nordeste: A sêca de 77 (1877) Meu avô vendeu aos MOTTA, que vinham de Caruarú, o terreno onde estava o Curtume São José. Minha mãe nasceu naquela casarão antigo que se resistiu, como um heroi do passado, no Parque da Criança!
Meu avô, Manoel Chaves, foi un grande folião dos Carnavais do passado, chegando a Ser "Rei Mômo" no inicio dos anos cincuenta...