"A fundação de Campina Grande": Desenho a lápis sobre papel Canson 300g/m², tamanho 30x12 (Vanderley de Brito) |
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A denominação de ruas e praças de uma cidade se faz em
geral em homenagem a figuras histórica que contribuíram para o seu
engrandecimento e ganham tal notoriedade que depois de um tempo as pessoas se
esquecem do laureado para lembrar apenas do lugar.
Em Campina, a grande cidade Rainha, erigida nos
contrafortes da Borborema, não poderia ser diferente. Muitas são as ruas que
trazem em si nomes que se perderam na memória. Talvez essa tenha sido a
intenção de Cristino Pimentel (1897-1971) ao fazer o resgate da rua Marques do
Herval no hebdomadário “O Rebate”, que circulava nesse município na década de
40 do Século passado.
Em 1912 – segundo Cristino – havia apenas algumas
casas pequenas de frontões, um cercado de arame, dando passagem para a leira do
capim, e por trás algum cemitério pertencente ao patrimônio da igreja, que
depois foi ocupado por uma firma comercial. A artéria chamada nesse tempo de
“Rua Nova”, segundo ele, foi quase toda construída pelo espírito empreendedor
do Major Belmiro Ribeiro Maracajá.
No fundo da rua – prossegue Cristino, dono da fruteira
mais conhecida da cidade e cultuador das letras – ficava a igreja N. S. do
Rosário e, ainda por trás, a Sociedade Beneficente Deus e Caridade, fundada por
Tertuliano Barros Lino Fernandes, Jovino do Ó e José Peixoto; a qual pela proximidade
do templo, também passou a se chamar “Largo do Rosário”, e depois “Praça da
Bandeira”. Anos mais tarde se construiu a sede dos Correios e Telégrafos, sendo
este prédio um ponto referencial da mesma rua.
Não é demais lembrar, que em tempos áureos, a “Marques
do Herval” era conhecida como “Rua dos Armazéns”, pois ali acontecia a “feira
do capim”, com a venda de animais (cavalos, galinhas etc) onde também se enchia
os sacos de algodão para exportação.
Foi na rua Marques do Herval que João Ferreira Rique
fundou o “Banco Industrial de Campina Grande” (1927), na base do edifício que
leva o seu nome (Edifício Rique). Na mesma rua passou a funcionar o “Instituto
Pedagógico” (1930) do Tenente Alfredo Dantas Correia de Góes
Caso inusitado é mencionado neste artigo d’O Rebate.
Narra Pimentel que na rua dos Armazéns havia uma venda de cachaça pertencente a
um português, conhecido apenas por “Marinheiro”, que certa vez pegou fogo
consumindo a aguardente. Dizem que José Congo gritava com as mãos na cabeça: “tanta
cana se perdendo e eu não posso beber”.
Cristino encerra o seu memorial afirmando que a sua “meninice
foi alegre na Rua dos Armazéns onde nasci na casa nº 6. Muitas vezes passei o
cercado da feira do capim para ir brincar por cima do muro do Cemitério Velho”.
Cristino é autor dos livros “Abrindo o livro do
passado” (1958), “Pedaços da História de Campina Grande” (1959) e “Mais um
mergulho na história campinense” (2001). O cronista escreve os fatos pitorescos
da cidade a partir de sua vivência neste rincão paraibano.
Manoel Luís Osório (1808-1879) ingressou como Praça no
Exército Imperial e foi herói da Guerra do Paraguai. O patrono da Arma de
Cavalaria do Exército Brasileiro (1962) é mais conhecido como “Marques do
Herval”. Para nós, dá nome a uma importante rua de Campina Grande.
Monumento sendo construído em 1975 (Imagem enviada por Jonatas Pereira - Diário da Borborema) |
Prof. Balduíno Lélis, em 1975, ocasião em que discursava para a Câmara Municipal de Campina Grande. |
O Monumento ainda em obras (Imagem enviada por Calina Lígia Teixeira) |
Obelisco do Parque Evaldo Cruz. Foto de Vanderley de Brito em 08 de abril de 2013 |
Dona Anália Barbosa, uma autêntica descendente dos Cariri da região de Campina Grande. Foto 1976. |
Com 36 anos foi eleito Conselheiro Municipal e, por suas vezes prefeito desta Cidade (1947/51 e 1955/59), assumindo ainda uma cadeira na Assembleia Federal em 1951.
Como adido cultural, participou da criação da Revista Campinense de Cultura lançada em comemoração ao centenário de Campina Grande, e escreveu duas obras de grande importância: “Areia e a abolição da Escravatura: o apostolado de Manoel da Silva” (Oficinas gráficas do Jornal do Commercio, 1946) e “História de Campina Grande”, que é o nosso foco.
O livro – editado pela LIVRARIA PEDROSA e impresso no Recife em 1962 - traz o prospecto da cidade desde a antiga Aldeia Velha até o período revolucionário de ‘30. Contém 424 páginas, divididas em 32 capítulos, com destaque para a sua origem, vultos e personalidades.
Em seu prefácio, enfatiza o autor:
“(...) impunha‐se a elaboração deste trabalho, sem mira a prêmio ou ajuda oficial, como contribuição espontânea às festividades de 1º centenário da cidade, a comemora‐se em 11 de outubro de 1964. Como realizá‐las com afeição e ufanias sem um caderno descritivo do seu passado? Sem um depoimento exato sobre os homens que a fundaram? Sem uma narrativa dos principais sucessos ocorridos em seu território, desde o tempo da fundação da aldeia, velha de quase três séculos? Aparece essa publicação para evitar a falha” (Elpídio de Almeida).
O compêndio destaca a dificuldade no abastecimento d’água e a seca no primeiro século, os fatos políticos – como as Câmaras que dirigiram o Município de 1853 a 1866, e as que sucederam até 1930 – os acontecimentos até a Proclamação da República (1889), o surgimento do Grupo Escolar “Solon de Lucena” (1924), dentre outros aspectos:
“A água para as necessidades domésticas era difícil, mas com despesa e trabalho se obtinha. As fontes do Lozeiro, não muito distante, acudiam aos habitantes nessas emergências” (págs. 119 e 159).
O Dr. Elpídio em sua obranos lembra a velha denominação da cidade (Paupina), muito antes de ser vila, constante da Geografia Brasília (1817). Ele também menciona que, um ano após o aldeamento, ela figurava como povoação no mapa de Andreas Horatiy, utilizado por Frei Gioseppe de Santa Tereza em sua “Istoriadelle Guerra delRegnodelBrasile” (1898). Seria o Aldeamento dos Ariús (1697), citado por Câmara Cascudo.
Em Campina, foram muitas as homenagens ao médico areiense que instalara seu consultório na Av. Marechal Floriano, citemos: A maternidade municipal, o viaduto na entrada da cidade e a denominação do instituto histórico campinense.
O Dr. Elpídio de Almeida é patrono das Cadeiras n° 11, da Academia de Letras de Campina Grande - ALCG; e n° 5 do Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba - IHGP.
Rau Ferreira
Moacir Germano, em suas notas introdutórias, destaca a destreza do autor, que ao mesmo tempo se apresenta como “historiador e artista”, comparando-o a Tolstói em seu clássico “Guerra e Paz”:
Foi imbuído nesse espírito que o escritor esperancense começou a escrever, para o órgão católico “A Imprensa”, artigos que foram publicados entre 9 de abril a 12 de agosto de 1950, totalizando sessenta textos que compuseram este livro sobre o catolicismo na Paraíba.
O jornal “A Imprensa Catholica” foi criado em 1893 pela Diocese da Parahyba com o objetivo de divulgar a fé cristã e combater as heresias.
A produção textual de Epaminondas permaneceu arquivada na Cúria Metropolitana por cerca de meio século, apesar de publicada nos folhetins de “A Imprensa”. Foi o professor Antônio Soares que se esmerou em garimpar essa relíquia para publicar, através das Edições Caravela, com a ajuda do Núcleo Cultural Campinense e da Academia de Letras de Campina Grande aquela que “resistiu às traças e aos cupins”, vindo à lume nos anos 2000.
A obra destaca a influência da Igreja Católica no movimento social e cultural do Estado, sem olvidar a participação do protestantismo na formação do ser e do saber de nossa gente; e muito menos a despeito contribuição do domínio holandês na formação da identidade popular.
O livro possui 140 páginas e em sua folha de rosto dá autoria da capa ao cartunista Fred Ozanam, com fragmentos de xilogravura de Josafá de Orós.
No dizer de Germano, não se constitui em uma apologia ou elogio ao clero, mas um relato da instituição no desbravamento do território e sua expansão da catequese, nas palavras de Epaminondas:
“E quanto aos demais livros da história paraibana, tenho observado que os seus autores não tem situado, no verdadeiro lugar, a grande influência, ou melhor, a grande coadjuvação da Igreja Católica na evolução social, moral, cultural e econômica do nosso estado. [...] não me interessa o fato de alguns historiadores universais ou brasileiros, a serviço de credos, filosofias ou sistemas políticos inconsistentes procurarem desvirtuar ação da igreja pondo em relevo alguns fatos, isolados e reprováveis cuja culpa não cabe a ela, mas a certos clérigos desviados da sublime missão” (CÂMARA: 2000).
O livro apresenta não apenas a formação moral, mas o contributo social e econômico das irmandades missionárias católicas, ligadas a alfabetização, construção de escolas e postos de trabalho.
Rau Ferreira
CHAPÉU PRETO
Raymundo Asfóra foi um grande advogado, político e orador de ascendência sírio-libanesa que encantou Campina Grande e a Paraíba com seus versos de singular estética. Era um defensor incansável da Paraíba e de Campina, que eternizou o seu amor no poema/canção “Tropeiros da Borborema”.
O crítico literário José Mário da Silva Branco, em artigo para o Correio das Artes [Ano LXIX, Nº 11: 2019] escreveu que “Raymundo YasbeckAsfóra é um código onomástico que impõe respeito, é signo coletivo numeroso e multiplicado, para cuja adequada apreciação faz-se necessária uma hermenêutica aberta, pluridimensional”.
O boêmio Asfórafrequentava bares campinenses e com frequência declamara seus versosque fascinava a todos com a sua lírica poética; sonetista impecável, ora em versos sáficos, ora heroicos, com ritmo, imagem e conceito de fino lavor de joalheiro, como nos define o mestre Zé Mário da Academia de Letras de Campina Grande.
“A morte está enganada / Eu vou viver depois dela!”, assim escrevera.De fato, a memória de Asfora é cultivada pelos intelectuais e, se pode observar deste poema que ora resgatamos das páginas do velho jornal “O Rebate” do professor Luiz Gil de Figueiredo:
ÚLTIMO ADEUS
Tenho bem viva, na lembrança, aquela
tarde estival do derradeiro adeus,
o sol poente, com frágil vela,
cedia à noite as amplidões dos céus.
Pálida e triste, mas de face bela,
tendo o crepúsculo nos olhares seus,
por entre as brumas da distância, ela,
partiu saudosa entre um saudoso adeus.
E, a relembrá-la, estou no meu caminho,
arquitetando, em sonho, o nosso ninho
na frondosa palmeira da ilusão.
Mas ela, ingrata, não voltou mais nunca...
E o pesadelo que o meu sonho trunca,
É atroz ironia da desilusão.
Este poema foi publicado em 04 de outubro de 1949, quando Asfora contava apenas 19 anos de idade.
De igual beleza são os versos de “Chapéu preto”, de sua autoria e que foi reproduzido em folheto como homenagem póstuma pela Livraria Pedrosa. Vejamos:
CHAPÉU PRETO
Era preto, tão preto como preto
foi seu destino de findar ao léu...
e, sendo preto assim o meu chapéu,
faço-lhe preto todo este soneto.
Preto um quarteto como outro quarteto,
e como o preto deste preto véu
de mistério que oculta o meu chapéu
preto farei, também, o seu terceto.
Preto e mais preto do que o próprio preto!
Preto e tão preto quanto este soneto
Ou como o preto de um brumoso céu...
Com o meu preto chapéu me comprometo
a nunca mais usar um chapéu preto,
preto, tão preto como o meu chapéu.
Raimundo Asfora
Formado em Direito pela UFPE, ingressou na política em 1954, assumindo uma cadeira na Câmara Municipal; quatro anos depois, elegeu-se deputado estadual pelo PSB, seguindo-se, a partir deste momento, inúmeras vitórias nas urnas.
Faleceu aos 56 anos, na Granja Uirapuru, em Campina Grande,no cargo de vice-governador da Paraíba, no dia 06 de março de 1987.
Rau Ferreira
Um curioso registro encontrado no Diário da Borborema de 1958, mostrando o Carnaval de Campina Grande, evento na época muito forte em nossa cidade e que tinha sua maior concentração nos clubes da cidade.