Por décadas e décadas o campinense brincou
animadamente o seu Carnaval. Acredite:
em seus clubes e ruas já foram vistos pulando alegremente, desengonçadamente,
democraticamente, um faraó e uma Chiquita Bacana, um pierrô e uma nega-maluca, muitos
palhaços, papangus, índios, um pirata e uma colombina, muitos 'carregos' e uma nega-do-cabelo-duro.
Fizesse o tempo que
fosse: sol ou chuva, vento ou mormaço, frio ou calor. Antigamente tinha festa
em toda a cidade. Nas ruas, no centro da cidade e nos clube sociais espalhados por
todos os bairros e comunidades. Cantando as machinhas que a turma toda sabia de
cor, e saía cantado, antes, durante e depois do carnaval.
Hoje não se vê mais isso, nossos bons e antigos
carnavais foi extinto, talvez as musicas de hoje, por razões várias, não sejam
mesmo mais tão empolgantes – e, note bem, não escrevo “bons”, ou “bonitos”, mas
“empolgantes”. Talvez seja por conta da perda de espaço para outros gêneros
“musicais”, tais como a axé-music, o fanque-carioca, o sertanejo e destas Bandas
de Forrô de Plástico e sem conteúdo nenhum, entre outros equívocos. Ou, quem
sabe, eu é que estou ficando velho e nostálgico. E implicante.
Todo esse antelóquio, na verdade, serve apenas para falar
com saudade dos nossos dos bons-velhos-tempos, daqueles que o
folião e a foliona não esquecem mesmo com o tempo a riscar o chão.
Pois é amigos, falar sobre os antigos carnavais de
Campina Grande nos anos que regaram a
minha juventude é como dissertar sobre mim mesmo. Eles foram como um perfume
inebriante que se dissipou no tempo, mas deixou sua fragrância em nossos
sentidos, e onde quer que estejamos, ao lembrá-los, sentiremos que existirá
sempre um pierrô e uma colombIna jogando confetes e serpentinas no salão da
saudade.
Bate uma saudade grande... Uma tristeza imensa por
não poder viver mais aquele tempo que ficou perdido no espaço.
Os
antigos Carnavais da nossa cidade tinham uma inocência peculiar, uma tradição,
um amor próprio tão grande... Éramos felizes e sabíamos... Com certeza nossos
amigos moradores de outras cidades irão pensar da mesma maneira, que saudades
dos antigos carnavais e tempos antigos...
Tenho ainda muito vivas em minha memória recordações
deliciosas das comemorações que eram feitas durante o carnaval aqui na nossa
cidade. Refiro-me aos anos 60, quando eu vivia minha infância, e 70, já na
minha juventude. Sinto, sim, saudades daqueles carnavais. Lembro-me dos
papangús que passavam pelas ruas e brincavam com as crianças.
Era impossível sair ás ruas da cidade, lá pelos idos dos anos 50, sem se deparar com essa figura curiosa, mascarada, com o corpo todo coberto, andando sozinho ou em bando. Amado e muitas vezes temido, os papangus faziam a festa, ora assustando, ora divertindo, num misto de palhaço e bicho papão.
Na minha rua os papangus eram pessoas normalmente sisudas. E a meninada, assustadas ou não, saíam atrás dos papangus, esses brincantes de indumentária rústica, improvisadores de mímicas e palhaçadas, atraindo as atenções por onde passavam. Da La Ursa e os
foliões mascarados que saíam pelos bairros a alegrar e a divertir a
todos.
São lembranças que com o passar dos anos ficam mais
vivas na minha memória. Sinto saudades dos vesperais carnavalescos dA AABB, onde bricamos junto a amigos e amigas do bairro do São José conforme foto abaixo:
Parece que quanto mais o tempo passa a nostalgia aumenta. Era uma festa alegre,
o clube ornamentado com máscaras, serpentinas, um cheiro agradável de lança
perfume, à orquestra tocando marchinhas (Algumas músicas são tão marcantes, que
até mesmo nos dias de hoje são cantadas em momentos de alegria. Entre elas
estão: “Allah-lá-ô“, “Cachaça”, “Cabeleira do Zezé”, “Abre Alas”, “Ô Balancê”
“Mamãe eu quero”, “O teu cabelo não nega”, “Me dá um dinheiro aí” entre
outras), samba e frevo, a garotada pulando, jogando confetes, serpentinas e
jatos de água para todos os lados. Momento mágico, guardado na memória como uma
relíquia.
Saudade imensa, sim, das famosas “batalhas de jogar Talco,
maizena, colorau ou água nos componentes do corso que eram formados pelas
pessoas jovens e adultos que iam em cima de veículos, especialmente jipes e
caminhões, que levavam os citados blocos, grupos de amigos, para as ruas
seguindo os carros e aos clubes. Todas as pessoas, mascaradas ou não, mas
sempre com suas vestimentas e com uma disposição fantástica para brincar de
forma saudável, sem precisar de “estimulantes”.
A cidade, especialmente o centro formado pelas ruas:
Maciel Pinheiro, Floriano Peixoto Marquês do Herval, Cardoso Vieira e
Beco do 31, fervilhava de foliões de todas as classes sociais. Era comum
cruzarmos com pessoas conhecidas que, usando fantasias, tentavam brincar
conosco sem se deixar reconhecer.
O Corso
- Nas décadas de 1960 e 1970 o corso
da cidade era outra atração, um dos veículos mais utilizados no corso era o
Jipe, sem capota. Havia também muitas camionetes e caminhões, por serem
veículos abertos, essenciais para a brincadeira. Diversos foliões preparavam
carros só para o desfile do corso. Serravam a lataria de fuscas, por exemplo,
para que ficassem conversíveis e os decoravam com pinturas carnavalescas
e frases engraçadas.
A folia
nos Clubes
No Salão dos clubes o trajeto dos foliões
consistia em uma movimentação em círculo, obedecendo ao sentido horário – mas
também havia alguns sujeitos cheios de “ birita”, que preferiam brincar no
sentido anti-horário, o que era sinônimo de confusão. As garotas
desacompanhadas ficavam nas bordas do salão, observando aquela alegre confusão.
De repente, uma mão saindo do meio da massa lhe alcançava o pulso e a
puxava para o salão. Se houvesse interesse recíproco, a foliona enganchava no
sujeito e ia pra guerra. Se não, ela dava um jeito de liberar o pulso das mãos
do “enxerido”. Essas efêmeras conquistas carnavalescas se constituíam na glória
(ou “toco”) de qualquer moleque que buscava as folias de Momo.
Os foliões se movimentavam no salão de acordo
com a música. Havia as marchinhas para uma evolução rápida – leia-se correria
desenfreada e trombadas entre os participantes –, como os frevos as mais
frenéticas de todas, que costumava causar algumas quedas coletivas no salão. No
dia seguinte, após a ressaca carnavalesca, a turma se reunia para contar
vantagens sobre as conquistas efetuadas e fazer planos para os bailes do dia
seguinte. Só cascata, evidentemente, ninguém tinha “ficado” com ninguém.
Aqueles beijinhos pueris eram somente isso, beijinhos pueris. Mas na nossa
adolescência, com os hormônios à flor da pele, a mentira era nossa mais
perfeita aliada. E não deixava de ser um bom aprendizado para a idade adulta.
No final dos anos 70, face final dos grandes
carnavais de clube. Participei dos últimos carnavais em nossa cidade no
Campinense Clube com a orquestra de maestro Cipó. Carnaval animado com a boa
orquestra, tocando frevos, machinhas e o velho samba, com a presença de blocos
de salão, muita fantasia e grande animação. Nesse período o carnaval de bairro
já estava em decadência, não só em Campina Grande, mas na maioria das cidades
Nordestinas.
Na década de 80 foi o início da ocupação das bandas
baianas e a comercialização dos grandes carnavais, fim da era romântica, da
espontaneidade, da irreverência, do deboche e da critica. Infelizmente, acabou
nosso Carnaval em salões, desapareceram as velhas marchinhas, ninguém passa
mais brincando e cantando feliz. Assim era o nosso Carnaval ou velhos e antigos
carnavais da nossa terra “Rainha da Borborema”, reminiscências de um passado
glorioso que fica para registro da história.
Alguns já se encontram em dimensões mais elevadas.
Outros, porém, continuam percorrendo os outros caminhos. E agradeço a Deus por
ter me dotado de tão boa memória, de me conservar ainda lúcido, para reviver a
alegria de um passado, que se perde nas brumas do tempo! Quando encontro
amigos, que durante muito tempo.
Feliz de quem contemplou os bons tempos que se
passaram, onde tudo era mais difícil, tudo era mais suado, mas sem dúvidas,
fomos mais felizes! Hoje as coisas são mais fáceis, ao alcance de todos,
mas o homem se destrói com o passar do tempo, simplesmente a conseqüência mais
atroz da inversão de valores.
As noites de carnaval já não são como antigamente,
quando milhares de foliões iam às ruas e lotavam os clubes para atravessar a
madrugada no embalo das marchinhas carnavalescas. A tradição do carnaval está
se perdendo a cada ano, os jovens que freqüentam as festas em alguns clubes
querem “curtir” à noite com músicas eletrônicas nas baladas, às quais são
acostumados.
Finalmente se eu tivesse a cidade e a chave do
Carnaval de Campina Grande em minhas mãos, certamente que eu faria um Carnaval
aos moldes dos anos 60 e 70. O frevo tomaria o seu posto de antes; retomaria as
escolas de samba e os “corsos e os blocos de rua; as ruas como antigamente
seriam enfeitadas com amostra próprias da festa de Rei Momo; poria um
policiamento ostensivo, contrataria boas orquestras de frevos e impediria,
através de um acompanhamento fiscalizador, que “aqueles blocos” ficariam
proibidos de tocar. Quem quisesse tocar o seu “axé” que o fizesse distante do
nosso Carnaval.
FOTOS DE
BLOCOS DOS ANTIGOS CARNAVAIS DE CAMPINA GRANDE
Para muitos campinenses, as mais remotas lembranças
do carnaval são feitas de confetes, serpentinas e tubos de lança-perfume.
Alguns ainda se recordam, em fotos já amareladas, imagens de alguns blocos, ou
dos bailes promovidos pelos tradicionais clubes da cidade. Outros guardam
apenas na memória passagens dos bons momentos vividos nos dias de folia.
Relembre a partir de hoje, e durante todos os dias
de festa, imagens de antigos carnavais.
Ver fotos antigas de antigos blocos de Campina
Grande é viajar no tempo, é voltar à saudade e resgatar a inocência perdida. Deparei-me
com fotos da década de 30, 40, 50, 60, e até a amada década de 70. As fotos,
quase todas em preto e branco, me fizeram viajar no tempo e foi impossível não
sentir uma enorme saudade, de fatos que, inclusive, sequer vivenciei ou mesmo
estive presente das décadas de 20, 30 e 40.
Esta 3 primeiras fotos abaixo são do grande fotografo Soter Carvalho
Estas 3 fotos abaixo são do acervo da familia de Neco Miranda
Nesta foto mostra os atletas Leucio 0 Terceiro) e Tadeu de Erinete (ultimo a direita)
Texto e acervo fotográfico do saudoso Jóbedis Magno de Brito Neves