Terreno antes da construção da Maternidade Municipal - Acervo Elpídio de Almeida |
Início das obras da construção da Maternidade Municipal - Acervo Elpídio de Almeida |
Obras da construção da Maternidade Municipal - Acervo Elpídio de Almeida |
Terreno antes da construção da Maternidade Municipal - Acervo Elpídio de Almeida |
Início das obras da construção da Maternidade Municipal - Acervo Elpídio de Almeida |
Obras da construção da Maternidade Municipal - Acervo Elpídio de Almeida |
Obras da construção da Maternidade Municipal - Acervo Elpídio de Almeida |
Obras da construção da Maternidade Municipal - Acervo Elpídio de Almeida |
Obras da construção da Maternidade Municipal - Acervo Elpídio de Almeida |
Obras da construção da Maternidade Municipal - Acervo Elpídio de Almeida |
Aspecto da Maternidade - Concluída (Antes da Inauguração) - Acervo Elpídio de Almeida |
Palanque Montado para Autoridades - Inauguração da Maternidade Municipal - Acervo Elpídio de Almeida |
Multidão Presente na Inauguração da Maternidade Municipal - Acervo Elpídio de Almeida |
Interior da Maternidade e Sala de Cirurgias |
Foto Acervo Elpídio de Almeida |
No início da década de 80 Campina Grande recebeu grandes levas de professores/as de fora, dentre os quais estavam Paola Cappellin Giuliani e Ângela Maria de Arruda. Com mestrado em Psicologia Social pela EcolédesHautesÉtudesenSciencesSociales(França), Ângela Arruda chegava de Paris afetada pelas experiências do Grupo Latino-Americano de Mulheres e passou a lecionar na UFPB e URNE, nos períodos de 1982 a 1994 e 1982 a 1985, respectivamente. Graduada em Sociologia pela Libera UniversitaDegli Studi Di Trento, na Itália, Paola Cappellin realizou seu mestrado pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, chegando à Paraíba em 1978. Essas mulheres foram responsáveis por fundar o Grupo de Mulheres de Campina Grande, cuja articulação se deu em 1982.
Encontrando um ambiente propício a colocar em pauta as experiências adquiridas em parte no exílio ou na chegada ao país em contato com o regime civil-militar instaurado, essas mulheres se articularam dentro das universidades de Campina Grande, conseguindo contar com o apoio também de uma outra professora: Maria do Socorro Pereira. Esta, paraibana e campinense, se articulou em conjunto com as “de fora” e atuaram a nível de UFPB, URNE e na periferia da cidade. Dentro da Academia, o lócus de atuação dessas mulheres girava em torno do curso de Psicologia da URNE e do Mestrado em Sociologia Rural da UFPB. Como fala-nos Barbosa et al (2001), esse grupo atuou através de oficinas de reflexão e autoconsciência, discutindo temáticas específicas da mulher. Foi responsável por disseminar o feminismo na universidade e na cidade e investiu na formação de novos quadros feministas, trabalhando para isso, sobretudo com estudantes universitárias. Logo, a atuação do Grupo de Mulheres de Campina Grande não se restringia ao âmbito da universidade. Essas mulheres trabalharam com assessoria a grupos de mulheres do meio popular, sindicalistas da região do Brejo, associações de empregadas domésticas e também clubes de mães.
O Grupo Raízes, por sua vez, nasceu do desdobramento das atividades do Grupo de Mulheres de Campina Grande. Criado em 1984, por alunas de Psicologia da URNE, teve uma grande participação no meio popular da cidade, realizando oficinas, seminários e conscientizando mulheres. Além disso, desenvolveu projetos de alfabetização através do método Paulo Freire e atuou na formação do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher da cidade.
Inicialmente formado para compor uma chapa do Centro Acadêmico de Psicologia da URNE, o Raízes se estruturou enquanto grupo feminista muito a partir dos ensinamentos de suas mentoras. Constituído por Vilma Maria Vaz, Soraia Jordão e Gilberta Soares, incorporou outras mulheres ao longo de sua trajetória. Dissolveu-se em 1992 por mudança de suas integrantes para a capital, João Pessoa, quando lá constituíram outros grupos feministas a exemplo da Cunhã Coletivo Feminista, ONG fundada em 1990, e prestaram assessoria ao Centro da Mulher 8 de Março. Além dessas integrantes, o grupo agregou outras mulheres como Margareth Rose Souza e Marília Lacerda.
Como nos traz Margareth Rago (2013), com práticas concretas e seu modo de pensar feministas, essas mulheres propuseram novos modos de viver o social, produzindo rupturas e deslocamentos no que tange à sexualidade, à família, à corporeidade. Com certeza contribuíram para a construção de um pensamento crítico. Nesse limiar, essas mulheres (trans)formaram suas vidas sob um projeto feminista de ser, estar e colaborar com a emancipação de outras mulheres e de seus mundos.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Luciana Cândido. [et. al]. Grupos de Mulheres da Paraíba: Retalhos de uma história. João Pessoa: Cunhã Coletivo Feminista; Textoarte Editora, 2001.
RAGO, Luzia Margareth. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções de subjetividade. Campinas, SP: Ed. da UNICAMP, 2013.
Para saber mais, ver: SOBREIRA, Dayane Nascimento. “Mulher bonita é a que luta”: nas tessituras do feminismo em Campina Grande (1982-1992). 74 f. Monografia. (Graduação em História). Universidade Estadual da Paraíba. Campina Grande, 2014.
* Dayane Sobreira é natural de Esperança-PB; é graduada em História pela UEPB, mestre em História pela UFPB. Foi professora substituta da UFSB e atualmente é doutoranda do Programa de Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo da UFBA.
O tempo é uma ranhura que traz o passado para o presente e seu reflexo de costas vislumbrando uma saudade. São os olhos da vontade, do desejo que faz da graça de ver de novo o que se fora sem pedirmos. No soneto Saudade de Augusto dos Anjos, ele se revela tocado pela soledade que lhe invade a alma, trazendo lembranças que o fogo da vida e suas mágoas lhes povoam. E ele diz no último terceto do poema: - [...]“Da saudade na campa enegrecida / Guardo a lembrança que me sangra o peito, / Mas que no entanto me alimenta a vida.”
E na estrada da vida que às vezes nos limita e nos arrasta acabrunhando o que é nosso e o que nos avizinha: a ausência de quem gostamos de quem admiramos de quem temos amizade e de quem amamos. A lembrança foca na visão do acontecido e nos deixa perdido no vazio da busca de nos encontramos novamente com aquilo que se distanciou ou perdemos. Assim, pelos caminhos da cidade me vem à mente: Os Coqueiros de Zé Rodrigues; a Rua das Imbiras,rua onde nasci; a Bodega de Biu Cuité; D. Elisa,e meus primos: Dão, Paulo, Nenê, Lulu e Socorro Soares;Uray outro morador, conhecido jogador do Treze;Noaldo Nery do Bar - “O Buracão;” uma rua estreita, animada e enfeitada com bandeirolas coloridas para as festividades de São João, as quadrilhas comandadas por Dona Nuca (Maria Luiza), uma senhora risonha, simpática, amiga e comadre de minha mãe. Lembro-me do pé de Groselha no seu quintal que escalava com certo esforço para tirar os frutos maduros e saía com os dentes desbotados. Como é doce a lembrança.
A saudade é o elo entrelaçado entre nós que muitas vezes não desatam e nem se rompem, mas estão frequentes entre um peito e outro para a emoção contida no coração. A saudade é a falta de tomar banho no Açude de Bodocongó e quando se aprende a nadar sem instrutor. Ir aos bingos com os pais e vizinhos às margens do Açude Velho, ladeado por barracas cheias de quitutes e guloseimas. Esse misto de sentimentos que relembramos de uma época, e há o vazio que nada contém e, há também, uma melancolia daquilo que ficou no passado. A sensação de não sabermos por que perdemos uma boa amizade, porque perdemos o amor de nossas vidas, a mulher querida, o irmão, nossos pais. A felicidade se foi e nada nos anima, a saudade nos sufoca e nos força a pensar no que deixamos no passado.
E antes de voltar ao presente, mergulho no pensamento do ontem e visualizo a Palhoçano primeiro semestre de 1983,margeando a Rua Sebastião Donato, de chão batido,estruturada por Francisco Chaves, mais conhecido por “Chico Trambique,”Aluísio Lucena (do carro de som), Roberto Cunha Lima e das tocadas de Edmar Miguel, ainda nos Coqueiros de Zé Rodrigues. A feirinha de Artesanato beirando o Açude Novo. A barraca de Cunha ao lado do Teatro Municipal, a Feira Centrale o seu colorido, o picado de Dona Carminhae, mais para o centro:a Boate Skina, o Futurama, o Bar de Seu Ferreira, o Caldo de Peixe, o Bar de Edgar, a Rodoviária Velha, seus transportes Urbanos e interestaduais. Ah, ainda no vigor da juventude: O CEU – Clube dos Estudantes Universitários;e os bailes nas quartas-feiras e domingos no Clube do Flamengo em José Pinheiro;O Cave e a Boate Maria Fumaça; O Chopp do Alemão; A Riviera; A Cabana do Possidônio; O Ceboleiro; O Refavela;o Beco do 31,as lembranças invadem e a mente nos enriquece no presente de boa memória.
Memória e afeto da antiga Feira da Prata, do Castelo mal assombrado, das sessões de cinemas Bacurau, Capitólio e Coruja, Babilônia, além dos cinemas dos bairros, Cine Art, em José Pinheiro, conhecido como “Cine Puiga,”do Cine São José, no bairro do mesmo nome; e Cine Avenida. E as Boninas recheadas de casas de encontros, jogos, salões de animados boêmios e de belas mulheres, e na Rodagem onde fui criado, rodeado de mulheres avulsas e seus lupanares. Saudade do menino ingênuo que passeava de coração solto.
A saudade do poeta Zé Laurentino, que cantava a vida com maestria e amor; de José Pedrosa, da Livraria Pedrosa, “Faça do livro o seu melhor amigo”, homem generoso e cultor das letras; de Rômulo Araújo Lima, poeta, sociólogo, o maestro do Direito Administrativo, professor de bem com a vida; do Dr. Virgílio Brasileiro, médico pediatra, guardião da memória afetiva de Campina Grande, um grande cavalheiro; Dr. Adhemar Dantas, médico e teatrólogo, sensível, educado; Dona Lourdes Ramalho, autora, mulher além do tempo, dramaturga premiada; Clóvis de Melo, jornalista, radialista, o humor em pessoa; Wilson Maux, (Bom dia para você) jornalista e teatrólogo, voz que ecoava na madrugada com força cultural; de Joacil Oliveira, “O Cabeção,” jornalista/radialista, a simplicidade e a amizade;Henrique do Vale, carnavalesco, espontânea musicalidade, artista eclético, bem humorado; a irreverência e perspicácia do cronista Altamir Guimarães, o grande Mica; a espontaneidade e vida buliçosa bôemia em Francisco Lopes –“Chico Campanheiro;”a altivez e inteligência do jornalista Fernando Soares.
O presente nos deixa sempre pensativo, no entanto, o cérebro nos envia mensagens de idas e vindas. São imagens incrustadas na memória da cidade e de seus personagens, do que ficou para trás; são lembranças retornadas e ressurgidas como saudades. Um desejo de ver de novo. Efígies, representações que no futuro não cabe.
Em tempos pulsantes das redes sociais, é quase que impossível não ouvir, ler, assistir ou mesmo saber algo sobre o programa Big Brother Brasil da rede Globo. A todo momento há um conteúdo criado sobre ‘a casa mais vigiada’ e seus participantes, com destaque para uma menina de sotaque arrastado, simpática e alegre, falo aqui da Juliette Freire, nossa conterrânea que vem conquistado o país.
O programa está na 21º edição e, de todas elas, assisti apenas a primeira. Por puro desinteresse não vi o restante até que em janeiro o zum-zum-zum aqui em casa me alertou que uma grande amiga de minha irmã e da família iria participar, a Juliette, menina cheia de alegria, irreverência e de luz que conheci em 2006. Conviveu conosco vários anos junto a sua irmã Julienne, que infelizmente faleceu aos 16 anos. Duas bonequinhas que nos acompanhavam até nos veraneios, inclusive chamavam meus pais de Papai e Mamãe.
Mesmo sabendo, pedi aqui em casa que me informasse sobre sua performance, mas eu não iria assistir. Até que vi a abertura do programa em um dia qualquer e apareceu a foto dela sorrindo e o nome abaixo ‘Campina Grande-PB’, momento em que me arrepiei todo tocado por aquele ufanismo medonho que enche nosso coração de orgulho. Me lembrei da primeira vez que vi falar do Treze em rede nacional “o Treze de Campina Grande!”, não basta ser da Paraíba, mas da minha cidade querida e isso me rendeu e passei a acompanhar o ‘BBB’ sempre que podia.
A primeira semana não vi praticamente nada, mas na segunda fiquei impressionado como Ju foi colocada de lado (foi cancelada!) por um grupo majoritário de integrantes (alguns famosos). A casa virou as costas para ela. Não a compreendeu e não só isso, a importunou ridicularizando sua fala, seu sotaque, seus gestos. Restou muitas vezes a companhia do travesseiro que a confortou e se banhou com suas lágrimas. Usou como mantra a música ‘Deus me proteja’ de Chico César, que canta sempre que está angustiada: “Deus me proteja de mim e da maldade de gente boa/ Da bondade da pessoa ruim /Deus me governe e guarde ilumine e zele assim”. Confesso que fiz algumas orações antes de dormir para que ela pudesse aguentar firme tudo aquilo que vinha sofrendo. Aqui em casa a angústia nossa era imensa. Entretanto, a todo o ódio, Ju respondia com generosidade, com carinho, com acolhimento, gestos reais que não eram vistos pela maioria da casa, mas pelo público sim. Sem duas conversas, agia de maneira firme, verdadeira, apaziguando conflitos, sendo transparente e resiliente, tanto que seu emoji (símbolo) é um cacto que representou bem sua resistência. Isso foi conquistando o público de tal maneira que a popularidade dela subiu meteoricamente. O Brasil viu as tramas, as injustiças e como ela lidava com tudo isso nunca abandonando suas raízes, o amor por sua terra, por seus amigos e familiares. Sempre falando do São João, de aspectos de Campina, João Pessoa, Boqueirão... mostrando as belezas de sua terra.
Quase desisti de ver o programa há 3 semanas, pois o que vi me bastou! Outro participante nordestino, o Gil, ganhou a prova do líder e teve direito a uma festa temática com – inclusive – escolha de comida. Ele, pernambucano que é, pediu bolo-de-rolo, rubacão, a nossa canjica (não a deles), etc. Ju se emocionou demais e, em um programa que testa as emoções de maneira surreal, ela se sentiu extremamente representada e feliz! Sua nordestinidade brotou em seu sorriso e acalentou seu coração, mas foi extremamente censurada por alguns que quiseram deslegitimar sua identidade cultural, querendo impedi-la de sentir emoção em ouvir Chico César, Alceu Valença e cantar pelos quatro cantos da casa. Isso nada mais é que uma brutal violência psicológica, a velha xenofobia imposta em vários lugares aos nordestinos.
Sabe, conhecendo essa menina que tem mostrado fibra, caráter, alegria, honestidade e, sobretudo, generosidade deu vontade de ir lá, pegar na sua mão e tirá-la dessa violência toda. Venha minha filha, você não precisa passar por isso não! Mercê de Deus foram saindo um a um os que mais lhe fizeram mal. Com isso, o Brasil a abraçou aqui fora e não só a colocam como campeã como todo mundo só fala em Juliette. Especula-se que escolas de samba disputam para quem vai trazê-la como tema, a globoplay vai fazer um documentário sobre a sua sofrida e heroica história de vida, inclusive um contrato como atriz ou até apresentadora na Globo é comentado; é a paraibana com mais seguidores no Instagram (21,5 M), artistas e famosos só falam nela, já a convidaram para trabalhos e shows; vendo o seu talento musical em festas já apontam como possibilidade de carreira e músicas já foram feitas para ela e sua alegria arretada vai mundo a fora. Essa semana, em uma conversa, Ju falou em minha irmã e comentou sobre meus textos regionais, sobre a bagunça que ela e minha irmã fazia nos livros e coleções em meu quarto e nos livros que escrevo.
Assim, a nova ‘Namoradinha do Brasil’ sem dúvida alguma é essa sensação, é ela! Ju, você merece!
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Publicado na coluna 'Crônica em destaque' no Jornal A União de 17 de abril de 2021.