Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
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Fachada do Cemitério das Boninas


Texto originalmente publicado no Jornal A União, de 08/05/2019
por Vanderley de Brito

No centro da cidade de Campina Grande, entre meados do século XIX e princípios do centenário seguinte, havia o chamado Cemitério das Boninas, o mais antigo campo santo da cidade, e hoje, quem passa nessa área comercial congestionada de edificações comerciais, se aguçara percepção extra sensorial poderá sentir as lamúrias das almas novecentista da cidade a reclamar dignidade sepulcral. Isso porque o cemitério foi desapropriado e a área recebeu edificações sem que a maioria dos corpos ali sepultos fosse removida.

Para que o leitor possa entender melhor, vamos começar do começo. Em princípios da segunda metade do século XIX o sítio das Boninas era uma área periférica e desocupada da vila de Campina Grande,o lugar tinha esse nome porque, segundo os antigos, era recoberta por um arbusto comum da família das Nictagináceas, conhecida vulgarmente pela sinonímia de bonina. O núcleo da vila se compreendia basicamente num quadrante entre a atual Rua Maciel Pinheiro (antiga Rua Grande) e o largo da Matriz. Nesses tempos ainda não existiam cemitérios na vila, os mortos eram enterrados nas igrejas, mas devido os surtos constantes de epidemias que começavam a assolar a região,e só na Vila de Campina Grande matou 1.547 pessoas, o presidente da Província Beaurepaire Rohan mandou construir no ano de 1857 um cemitério para essa Vila, determinando em Lei a proibição de sepulturas em igrejas e a construção de um campo santo que deveria ser erguido fora do povoado e os sepultos teriam de ser enterrados em covas bastante fundas. O local escolhido foi o sítio das Boninas, o cemitério foi erguido com cerca de trinta metros de frente por outros tantos de fundos para atender uma população de 2.000 habitantes.

Em se tratando de um espaço relativamente pequeno, já no último anodo século XIX o cemitério não tinha mais lugar para a abertura de covas e, como a área circundante vinha se ocupando, por medidas sanitárias foi necessário edificar outro campo santo em lugar distante da já cidade de Campina Grande, sendo escolhido um monte distante, um quilômetro a oeste da cidade, lugar que atualmente é um bairro da cidade que ficou denominado de Monte Santo, certamente por causa do cemitério.

Com o novo cemitério, o velho das Boninas foi fechado e, consequentemente, caiu em completo abandono.

Na década de 20 do século XX o velho cemitério das Boninas se encontrava em ruínas, o muro caíra, animais pastavam por entre os túmulos e, diante de tamanho desrespeito ao lugar sagrado onde repousava os restos mortais de antigas gerações de Campina Grande, o bacharel Hortênsio Ribeiro se uniu ao padre Sales, vigário da cidade, para promover um arrecadamento de fundos junto à população campinense para a recuperação deste importante monumento em honra à memória dos mais antigos moradores de Campina Grande.

A reforma e restauração do cemitério das Boninas foi realizada, mas anos depois, em 1931, o então prefeito de Campina Grande, Lafaiyete Cavalcante,decidiu leiloar o velho cemitério, que foi arrematado e demolido para se construir no local oficinas e garagens. Segundo testemunho de Elpídio de Almeida, uma parte dos ossos humanos inumados e depois transportados em barris para o novo cemitério do Monte Santo, onde foram atirados numa vala comum e única,em total desrespeito sem sequer assinalar o lugar com um marco que fosse.

Anos depois a área foi toda ocupada em frações comerciais que em nada rememoram a primeira edificação do lugar, o velho cemitério das Boninas, que serviu de última morada e onde, indiscriminadamente,ainda jazem restos mortais dos antigos homens e mulheres, ricos e pobres, velhos e crianças, padres e maçons, senhores e escravos, nativos e forasteiros que viveram nos tempos provinciais da hoje glamorosa cidade de Campina Grande.

6 comentários

  1. Unknown on 13 de maio de 2019 às 11:29

    muito bom ao trazer fatos históricos e ao saber sobre minha cidade que ainda guarda muitos segredos.

     
  2. VALDEIR MORAIS on 15 de maio de 2019 às 11:10

    O PAI DO MEU FILHO???

    - GOSTARIA DE SABER MAIS, A ÁREA FÍSICA, HOJE É OCUPADA POR QUE LOJA?

     
  3. Geilson Roberto de Macêdo e Silva. on 15 de maio de 2019 às 23:13

    Como fico maravilhado lendo o passado que tem a cidade que nasci e ❤.

     
  4. Eduardo Marinho on 24 de maio de 2019 às 11:25

    Trabalhei durante um tempo na Thiago Calçados, e lembro-me quando foram abrir a nova loja vizinho ao CAD, antiga panificadora Rainha, hoje encontra-se uma loja Aluísio Calçados, pois bem, durante as obras, no final da loja, que tem saída para rua Teodósio de Oliveira Ledo nas Boninas, encontraram ossos durante escavações, foi a partir daí que fiquei sabendo que naquele local em tempos pretéritos havia um cemitério.

     
  5. Germana Correia on 4 de julho de 2019 às 07:30

    Interessante. Eu também já soube que, no Alto Branco, no lugar onde hoje é a Escola Estadual São Sebastião, vizinho ao Seminário, era um cemitério de religiosos (as). Não sei se essa informação procede, mas há relatos de ossos encontrados em construções.

     
  6. Sergio Ricardo on 6 de agosto de 2019 às 18:10

    Ainda é possível encontrar ossos nessa área,eu digo isso pois eu sou testemunha de quando os Correios estava fazendo uma reforma(mais ou menos no ano 2004/2006)na parte onde é a garagem para ampliação da Agência Filatélica, eu pude ver ainda muitos fragmentos de ossos isso numa profundidade de uns 30 cm.

     


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