Serviço de Utilidade Pública - Lei Municipal nº 5096/2011 de 24 de Novembro de 2011
Criado por Adriano Araújo e Emmanuel Sousa
retalhoscg@hotmail.com

QUAL ASSUNTO VOCÊ ESTÁ PROCURANDO?

Por Vanderley de Brito

Em 1975, na gestão do prefeito Evaldo Cruz (1974-1976), a Prefeitura Municipal de Campina Grande estava edificando o monumento obelisco no meio do largo do Açude Novo, que deveria ser o marco zero das coordenadas urbanas da Cidade e também uma homenagem aos índios Ariú, então considerados os primeiros habitantes de Campina Grande.

Monumento sendo construído em 1975
(Imagem enviada por Jonatas Pereira - Diário da Borborema)

Todavia, o obelisco em construção para homenagear estes indígenas acabou por gerar uma dúvida em meio aos vereadores de Campina: teria sido mesmo os índios Ariú os primeiros habitantes de Campina?

A dúvida era pertinente e para tentar elucidar esta questão o líder arenista da Câmara Municipal de Campina, vereador José Luís Júnior, trouxe para palestrar na sessão do dia 03 de setembro do corrente ano o pesquisador Balduíno Lélis (presidente da seção paraibana do Centro Brasileiro de Arqueologia), sobre este assunto. Lélis, com um longo e eloquente discurso, acabou por afirmar que os indígenas Cariri já habitavam a região antes dos Ariú serem trazidos do sertão e aldeados em Campina pelo famoso sertanista.

Prof. Balduíno Lélis, em 1975, ocasião em que discursava para a Câmara Municipal de Campina Grande.
  
Ainda não satisfeitos, os vereadores preferiram consultar outro especialista e para a sessão da Câmara Municipal do dia 16 de setembro o vereador Lindaci de Medeiros convidou o professor José Elias Borges, profundo conhecedor sobre os indígenas paraibanos, para esclarecer este impasse sobre para quem se deveria dirigir à homenagem: aos Ariú ou aos Cariri?

Enfático, o professor Borges endossou o diagnóstico de Lélis afirmando que a região de Campina já era aldeamento de índios Cariri, e que os Ariú, vindos do sertão trazidos pelo sertanista Teodósio de oliveira Ledo em 1697, foram acrescidos à aldeia já existente na Campina Grande.

Particularmente, há anos sou amigo do velho Balduíno Lélis e também fui amigo de José Elias Borges, que lamentavelmente faleceu em 2010. Ambos se dedicaram com afinco e responsabilidade ao estudo dos povos indígenas da Paraíba e, de fato, tinham anuência para resolver o impasse, como o fizeram. Meus estudos sobre esta questão, alçados em documentos coevos que estes estudiosos não tiveram oportunidade de manusear na época, não deixam dúvidas de que Campina Grande já era uma aldeia de índios Bultrins, da nação Cariri, muito antes de Teodósio chegar com os nativos Ariú e os assentar nesta aldeia. Portanto, os verdadeiros fundadores de Campina Grande foram de fato os índios Cariri.

Apesar do esforço da Câmara para elucidar o caso e mesmo ante o diagnóstico apresentado por estes importantes estudiosos, o monumento obelisco, construído em concreto armado em forma piramidal no centro do largo do Açude Novo, circundado por um lago e medindo 45 metros de altura, contrariou a História e foi erigido em homenagem aos índios Ariú. Coisa de políticos!

O Monumento ainda em obras
(Imagem enviada por Calina Lígia Teixeira)

No projeto inicial, o monumento deveria receber imagens em alto relevo nas suas quatro faces com esculturas de cimento simbolizando os índios Ariú. Mas esta decoração artística acabou não sendo feita, creio que em virtude da dúvida lançada.

Obelisco do Parque Evaldo Cruz. Foto de Vanderley de Brito em 08 de abril de 2013

Nota do autor: 

Na verdade, nenhum grupo nativo ocupava a região de Campina Grande quando se deram as primeiras entradas nesta região por curraleiros e sertanistas brancos. Os Cariri vieram para a região trazidos do São Francisco por missionários capuchinhos, eram grupos agricultores e tinham um remoto parentesco com os tupi. Já os Ariú habitavam os sertões semiáridos, eram grupos caçadores e coletores, tinham grande estatura física e pertenciam ao tronco lingüístico Macro-jê. É convenção entre os estudiosos de línguas indígenas não utilizar o plural nos termos nativos, uma vez que nenhuma língua indígena no Brasil utilizava plural, se valendo de gerúndios para indicar quantidade.

Dona Anália Barbosa, uma autêntica
descendente dos Cariri da região de Campina Grande. Foto 1976.


9 comentários

  1. Anônimo on 11 de abril de 2013 às 14:04

    Esclarecedor

     
  2. Edmilson Rodrigues do Ó on 11 de abril de 2013 às 20:05

    Sem nenhum constrangimento afirmo categoricamente que nunca encontrei nada que justificasse a extinção do AÇUDE NOVO, assim como também não me conforma sob qualquer justificativa o abandono dado ao AÇUDE DE BODOCONGÓ, embora reconheça que se trata de dois casos distintamente separados entre sí. Sobre este último, tenho a ele me referido inúmeras vezes neste Blogger. Jamais me calarei enquanto o Bodocongó não seja revitalizado. Afinal de contas, trata-se de uma página ilustrada na nossa história. Que o patrimônio histórico e cultural de Campina Grande se manifeste a respeito, enquanto é tempo...!

     
  3. Soahd on 11 de abril de 2013 às 20:49

    Minha avó Ritinha, me contou que a casa dela, na ladeira da Rua Siqueira Campos, na Prata, quando foi construida, na fundação foi encontrado restos de ceramica indigena, e que a cunhada dela (medium em transe) falou que ali era um cemitário Indigena. Se é verdade, quando construirem no terreno baldio que ainda existe ao lado da casa, é possivel, quem sabe encontrar alguma coisa ligado a esta história, ou quem sabe, mais um "conto" da minha adorável avó.

     
  4. Anônimo on 11 de abril de 2013 às 22:34

    Ariús ou Cariris,o Parque do Açude Novo talvez seja o logradouro mais belo de nossa querida cidade,tao atulhada de barracas,fiteiros,carroças etc e tao carente de espaços públicos para lazer de sua populaçao.

    Braulio José Tavares

     
  5. Marcus Vinícius on 11 de abril de 2013 às 23:26

    Infelizmente o Açude Novo, palco de minhas brincadeiras de criança, hoje está relegado a bêbados e drogados. Retiraram os brinquedos e em seu lugar instalaram bares, nada melhor para destruir um ambiente antes tão bem frequentado. Se eu puder dar uma sugestão ao nosso estimado prefeito, gostaria que as barracas fossem retiradas, os brinquedos reinstalados, o local cercado, e colocada uma vigilância permanente da Guarda Municipal. Com certeza os campinenses agradecerão.

     
  6. Anônimo on 12 de abril de 2013 às 09:43

    Soahd, diga o número da casa de sua tia que nós da Socidade Paraibana de Arqueologia podemos fazer uma prospecção no terreno baldio vizinho. Se de fato houver cerâmica indígena é possível até identificar o grupo nativo da região, pois cada grupo tinha seus paradigmas artesanais.
    nosso e-mail e sparqueologia@gmail.com.

     
  7. Anônimo on 14 de abril de 2013 às 12:14

    Apoiado Marcus Vinícius,precisamos urgentemente de O R D E M !!!

    Braulio José Tavares

     
  8. Anônimo on 16 de abril de 2013 às 22:07

    Se for possivel recolheremos assinaturas para um baixa assinado, dar um basta nesse descaso que esta o acude novo palco de eventos inesqueciveis... Como o primeiro campeonato de break em que fui campeao...

    Angelo

     
  9. José Roberto Barbosa Braz on 5 de janeiro de 2017 às 20:24

    O que importa é que foi construído um belo obelisco.

     


Postar um comentário

 
BlogBlogs.Com.Br