Foto fantástica do interior do Cine São José, em 30 de Novembro de 1952, enviada por Jóbedis Magno Brito (in memoriam), antigo morador do Bairro de mesmo nome, perseverante narrador das suas memórias.
Segue o texto enviado por Jóbedis:
"Volto a falar novamente do Velho Cine São José.
Hoje, certamente, está feio para os olhos de quem não o conhecia. Porém tem historia, muitas histórias; Foi parceiro de muitos amores, muitos beijos, muito carinho e sempre no seu silêncio.
Houve ocasiões que ele se tornava tão importante pra nós que, acredito, se tornava mais bonito do que os cinemas do Centro da nossa cidade; o Babilônia e o Capitólio. Numa des-sas ocasiões eu na minha infância/adolescência, assistindo o filme épico “Ben Hur” - era o primeiro filme longo que eu assistia para maiores de 14 anos mesmo tendo na ocasião 13 anos - me escondendo do gerente seu Assis e do Guarda Birô (que Deus os tenha) que já citei antes na historia.
No intervalo do filme íamos para as laterais do cinema. Alguns para fumar, outros para fa-zer suas necessidades... Quando o filme reiniciava os jovens e adultos que não tinha namorada, tentavam com sinais sentar perto da pessoa que estava paquerando - o grande risco era o “toco”, a recusa da menina, que servia para gozação dos amigos durante algum tempo.
Atualmente o que se vê do antigo cinema é um espetáculo degradante, com suas paredes pichadas, suas cadeiras retiradas (lindas de nunca vão sair de minha memória). Temos, então, um espetáculo aterrador de decadência, daquele que foi a principal casa de diversão do bairro do São José.
Ainda hoje apesar tentarem resgatar, é triste para nós antigos moradores do bairro, que vi-mos e vivemos naquela comunidade. Somos como uma pessoa que via e perdemos a vi-são. Sentimos falta.
Temos que batalhar para que se transforme em uma casa de espetáculo ou em um Museu. Se não fizermos protestos, outras pessoas que não o conheceram nos tempos áureos poderão pensar que sempre foi horroroso como está agora, ou poderão cultivar os seus escombros e até explorar politicamente dizendo que foram as administrações anteriores que deixaram acontecer.
Ficaram as lembranças daqueles momentos que assistíamos aos trailers, vibrávamos com o Canal 100 e sua eletrizante música. Permanecíamos após o fim do filme para assistir aqueles seriados... agora só nos restam lembranças e saudades.
Atualmente, parece que agora alguém se importou com o estado em que se encontra nosso cinema. A UEPB, através do Curso de Comunicação e seus alunos, além dos seus dedicados e competentes funcionários estão tentando resgatar a velha casa de espetáculos do Bairro do São José."
Já que Jóbedis lembrou o antigo cine-programa Canal 100, de Carlos Niemayer, segue o áudio da música tema que ilustrava as edições exibidas nos cinemas, que fizeram a alegria das antigas matinês:
Quantas saudades do Cine São José !!! Lendo o texto do Jobedis me emocionei, quantas saudades das matinês, das noites de namoro, dos encontros, das bagunças, dos confeitos gasosa!! Só saudades de um tempo que não mais voltará!! Mas eu pude viver na época em que o Cine São José funcionava, e vou guardar pra sempre as lembranças. Já nossos jovens de hj nem saberão o que é um cinema de verdade!! Abraços ao Jobedis e parabéns pela foto e seu texto como sempre encantador.
Olhando esta linda e engênua foto e o texto do Jobedis (amigo de infancia), voltei ao passado, revivi cenas incríveis!!! quantos beijinhos doces foram dados nas antigas poltronas de madeiras, quanto amor inspirei nos dias de domingo!!!quanta bagunça gostosa nós fazíamos, coitado do gerente brabo seu Assis e do guarda Gedeão, deixávamos eles louquinhos!!!Realmente o que esta ocorrendo no antigo cinema é lamentável, ver o cinema sendo deteriorado, uma perda lamentável para nós antigos moradores e frequentadores e dos nossos filhoe e netos, que jamais irão desfrutar de tamanha grandiosidade!!! Aí eu pergunto: cadê os homens públicos desta cidade??? Será que nada pode ser feito??? será mesmo que não existe solução??? Duvido, pois só não há solução para a morte, o resto se dá jeito!!!diversão total!!!hoje o que vc vê??? só o uso abusivo de álcool, drogas sintéticas e muito mais!!! Realmente lamentável!!!!
Saudações
Marcos Tavares
Hoje em dia, tudo vira Patrimonio Histórico, em certos casos...prá quê?
Se ninguém cuida disso.O esquecimentto faz com que a coisa se torne em "ruínas". Esse Cine São José faz parte de uma história linda que gera saudades no coração de quem teve o prazer de viver essa epóca. Como conscientizar as autoridades da necessidade de sua preservação?Emoção total amigo Jobão..parabéns!!!
A que festa remete essa fotografia? Sei que a inauguração do Cine São José se deu no dia 10 nov. 1945, mas a fotografia tem a data de 30 novembro. Então eu pergunto alguém sabe me informar sobre o aniversário, apresentado no texto acima da fotografia?
O amigo tem razão em relação a data de fundação no dia 10 de novembro de 1945, era inaugurado o Cine São José. Com sua inauguração dar-se-ia início aos famosos cinemas de bairro que tomaram conta da cidade nos anos 50. A Festa que durou um mês inteiro.
Por décadas o Cine São José foi local de divertimento, ponto de encontro de amigos e lazer na cidade. Porém, apesar de toda a concorrência, o Cine São José se sobressaiu à muitos deles por um bom tempo e marcou história em Campina Grande.
Nos anos 70 o Cine São José vive seu período de decadência. No fim da década o cinema já não tinha mais fôlego e pela última vez iria abrir a bilheteria.
-Porém o Cine São José não foi o primeiro e muito menos o último a sucumbir perante os avanços tecnológicos e a concorrência mais bem equipada. Antes dele houve a queda dos também memoráveis Cine Fox, Cine Avenida e o Cine Liberdade. E anos mais tarde foi a vez do Capitólio e do Babilônia, nas décadas de 80 e 90, respectivamente.
Ano de 1968, um sábado à noite. O São José lotado, em exibição a aventura em tom de comédia “O homem do Rio” dirigida por Philippe de Broca.
Perto do fim do filme, uma sequencia de pura adrenalina: uma briga gigantesca entre o protagonista Jean-Paul Belmondo e os frequentadores de um bar montado numa palafita em Belém do Pará. Socos, pontapés, cacetadas, homens “voando” pelas janelas e caindo dentro do rio, uma confusão generalizada. Súbito, a fita se parte, a sessão é interrompida, acendem-se as luzes da plateia, o público irrompe numa gritaria fenomenal, assovios, impropérios em variados decibéis, palavrões não recomendados para senhoras e menores de idade, enfim um tumulto sonoro que eu nunca vira antes em outras “partidas de fitas” nos cinemas locais.
De repente, adentra no salão, revólver calibre 38 em punho, “seu” Assis o gerente. É que ele morava numa casa ao lado do cinema, “parede e meia” como se dizia e havia uma pessoa da família dele doente, necessitando de silencio absoluto.
“Seu” Assis atravessou toda a extensão da plateia, parou em frente, de costas para a tela, mirando os espectadores (a essa altura num silencio sepulcral) e disse alto bom som: “Quero ver quem vai dar um pio agora! Bando de moleques! A fita não quebrou de propósito, tem uma pessoa doente aí ao lado, respeitem!”. Dito isto, foi saindo com o braço levantado e o 38 em punho. Já perto da porta de saída, uma voz vinda do meio da turba quebra o silencio de cemitério e gritou: “Só quer ser John Wayne!”. Uma sonora gargalhada explodiu, a luz apagou e a sessão continuou sem sobressaltos.