Não havia no Estado na segunda metade do século XIX, outra área de maior intelectualidade no interior, senão em Cajazeiras. Areia ainda não havia recebido o título de cidade culta e o mais evoluído recanto cultural ocorria naquela cidade sertaneja, onde um filho da então fazenda Serrote, que no futuro seria aquela próspera cidade, tomou para si a nobre missão de alfabetizar toda a sua região. Inácio de Souza Rolim, o Padre Rolim, pessoa de qualidades e cultura raras, nas palavras do tribuno Alcides Carneiro “ensinou a Paraíba a ler”. Ali se desenvolveu o ensino e, na segunda década do século passado, surgiu o colégio que proporcionaria aos jovens de então cursar o secundário. Estava assim a Paraíba servida por dois daqueles estabelecimentos e localizados em pontos opostos : na Capital e no extremo oeste do Estado.
Despontavam como centros em desenvolvimento as cidades de Campina Grande e Patos, ambas carentes de instituições de ensino secundários. E foi daí que na década de trinta passada, foram plantados naquelas cidades os embriões do que seriam os colégios Diocesano Pio XI e Colégio Diocesano de Patos. A qualidade do ensino em ambos, em pouco tempo, logo se tornou de alto conceito e para eles convergiam jovens estudantes, deste Estado, do Rio Grande do Norte e de Pernambuco. O corpo docente era composto por professores da melhor estirpe, contando com padres e mestres outros que tiveram longa formação em seminários do nordeste..
Não tardara os colégios que funcionavam em instalações improvisadas e precárias, buscarem edificações construídas para aquele fim especifico. Foi o caso do Pio XI, que na fase embrionária funcionou em dependências anexas a Matriz da cidade, atual Catedral. E a cada dia aumentava o numero de alunos neste educandário que já funcionava na edificação nova da rua João Pessoa, com a modalidade de internato para o sexo masculino, onde o aluno interno não somente burilava a sua formação moral, como doméstica e social.
Naquele estabelecimento, regiamente instalado em um prédio com primeiro andar e forma de H maiúsculo este autor chegara de calças curtas na década de 40 do século passado e a ele estivera ligado até anos de 1960. O colégio reservara para o internato o primeiro andar e ali se localizavam, refeitório, cozinha, dormitório, salas de estudo, biblioteca e alojamento do diretor e auxiliares imediatos. Desativado em 1946, passou a ser uma espécie de deposito, para onde eram recolhidos bancos, carteiras e peças outras daquele acervo. O acesso a área ficara proibido para alunos de então.
A essa altura, o Pio XI tinha por diretor o Padre Emídio Viana Corrêa, cidadão enérgico, de semblante fechado e que mantinha a disciplina no educandário na mais perfeita ordem. Na intimidade, o que somente este autor veio a conviver já adulto e professor do Colégio, o Padre, como era tratado o diretor, era uma pessoa alegre, risonha, cheio do que se chama vulgarmente de “ repentes “, espirituoso, critico, amigo, inteligente, culto e possuidor de invejável coragem pessoal. O professorado de escol era formado por pessoas competentes, assíduas e de postura e procedimentos dignos do mestre daquela época. As salas de aula, mosaicadas, forradas, providas de iluminação natural, eram diária e rigorosamente limpas por RITA , uma mulher de feição chaboqueira, velha e feia. Seu zelo pelo trabalho era revelado pelo visual deixado nas dependências que além das salas de aula, compreendiam a sala dos professores, o gabinete do diretor e a secretaria, contíguas e situadas na parte de ligação das hastes do H.
O colégio desde cedo primou pela qualidade do ensino e para tanto empenhava-se em adquirir tudo o que se fizesse necessário para melhor aprendizagem do aluno. Daí haver feito aquisição de alguns instrumentos para ministrar aulas da cadeira de Ciências Físicas e Naturais. Neste contexto, incluiu um esqueleto humano de alta qualidade. Absolutamente perfeito, de porte muito elevado, era totalmente articulado e um só osso por pequeno que fosse, não faltava. Um dente sequer deixava de constar Uma perfeição de peça. Pelas dimensões ósseas, supunha-se haver sido de uma pessoa do sexo masculino o que jamais foi pesquisado. Era mantido na sala do diretor, em uma estante prismática de quatro faces, sendo três de vidro., com altura aproximada de dois metros e as bases quadradas, de madeira, com cinqüenta centímetros de lado. O conjunto era provido de uma porta na parte da frente, por onde era retirado o esqueleto, permanentemente pendurado por um gancho em um suporte na tampa superior. Daquele local era levado para a sala de aula.
José Augusto Ribeiro, Zezito, de saudosa memória, sempre se propunha trazer o esqueleto para a classe e antes da chegada do professor Almeida, respeitado e competente mestre, Zezito provocava risos, colocando um dos braços sobre a área dos seios e a outra mão cobrindo a genitália, e mantinha com o esqueleto um monólogo ,quase sempre hilariante.
RITA primava pela qualidade de seus serviços. Porém, no que concernia ao box do esqueleto, muito ficava a desejar É que ela mantinha por ele profundo respeito, grande medo e “ pela sua alma, rezava todas as noites”. Quando se aproximava do Box que ela chamava de “CAIXÃO DE VRIDO” , fechava os olhos, virava-se para ele e buscava espaná-lo de costas e, embora a tarefa fosse executada com um artístico espanador de penas usado no gabinete do diretor, o serviço ficava a desejar.
Rita contava muitos anos naquela atividade, até que um dia, já de cabelos brancos, velha e cansada, surgiu no colégio, uma jovem morena clara, bonita e alegre, procurando trabalho. Foi admitida para auxiliar Rita. A recém-chegada, de nome Odete, além do visual bonito, tinha uma voz linda e cantava muito e alto, o que foi proibido nas horas de aula pelo diretor.
Odete não tinha medo do esqueleto e assumiu a função de Rita. Tempos depois, aquela serviçal de outrora, se tornaria a esposa do diretor que deixara o clero para se tornar seu marido. Rita, por sua vez, mudou-se para o outro mundo. O histórico Colégio Pio XI, que tanto distribuiu cultura através dos anos, fechou suas portas, virou passado e o velho esqueleto tomou rumo por este autor desconhecido.
Na rua João Pessoa? O Pio XI estava na rua Getulio Vargas não é?
A entrada do Pio XI era pela Rua João Pessoa, através de um terreno em que hoje está o prédio da Rádio Caturité. Há uma foto publicada em posts anteriores em que isso é possível de ser constatado,
Eu conheci o esqueleto do Pio XI.
Aliás, o esqueleto(ou caveira, como também era chamado)foi responsavel por eu só passar uma semana estudando no colégio.
Explico:nos distantes anos da decada de 1950, fui matriculado -juntamente com um irmão-no Pio XI.
No primeiro dia de aula o padre Emidio nos levou até a sala do esqueleto e disse:"todo menino que se comporta mal aqui na escola, eu trago prá cá prá ficar conversando com o esqueleto!"
Pronto,depois do aviso do padre a ossada passou a fazer parte dos meus pesadelos de menino.Só pensava na possibilidade de ficar trancado alí "conversando" com o esqueleto.
Não deu outra, pedimos a mamãe que levasse a gente para outro colégio e na semana seguinte já estavamos matriculados no Alfredo Dantas.Que alivio!
Felizmente, você tinha uns pais compreensivos que lhe salvaram de um trauma ou de um sofrimento inecessàrio!
A "Educação pela Pedra" que reinava em muitos educandários naquela época, e que era aprovada tambem por muitos genitores, em vez de educar, desestabilizou a muitas mentes juvenis!